Alfredo Pinto Dâmaso nasceu no município de São Miguel dos Campos, em 25 janeiro de 1881. Estudante e seminarista em Olinda, Pernambuco, foi ordenado padre no dia 19 de novembro de 1905, quando recebeu o título com o qual foi imortalizado por sua opção religiosa e, consequentemente, por sua excepcional ação pastoral nos mais diversos segmentos sociais e regiões do Nordeste brasileiro. Com uma história de vida belíssima dedicada aos pobres, faleceu em 29 de junho de 1964.
A sua história de vida sacerdotal, por si só, já faz jus à sua trajetória religiosa, com destaque especial na Igreja Católica pernambucana, nas paróquias por onde trabalhou e pelas obras materiais e sociais que construiu. Em Alagoas, seu Estado de origem, a sua atuação pastoral também tem sido lembrada, com destaque para os meios de comunicação, principalmente pelo antigo Jornal de Alagoas e Gazeta de Alagoas.
Ao completar 50 anos de seu falecimento, a sua obra mantém-se viva na memória daqueles que tiveram a felicidade de seu convívio e, mais ainda, na daqueles que receberam o apoio imprescindível para levantar e defender a sua causa. Dentre muitos outros feitos e causas, destaca-se a sua atuação antecipatória do que seria posto pelo Concílio Vaticano II, na década de 1960, em relação aos pobres, especialmente junto aos povos indígenas de Alagoas e Pernambuco.
Neste contexto, para entender a sua importância, vale lembrar o que aconteceu com os povos indígenas de Alagoas no século XIX. Depois de todas as atrocidades cometidas durante o período da Colonização contra a população nativa, expulsão dos territórios, escravização e extermínio, em 1872, o então presidente da Província Luiz Rômulo Peres de Moreno decretou o fim dos aldeamentos indígenas, transferindo as terras para o patrimônio público e para particulares. A partir daí os indígenas são postos no anonimato e forma-se a categoria de caboclo. Graciliano Ramos, em seu livro Caetés, refere-se aos Xucuru-Kariri como remanescentes que vivem bêbados nas periferias de Palmeira dos Índios.
Praticamente, um século depois, essas populações começam a emergir reivindicando o reconhecimento étnico e seus direitos, como a demarcação dos territórios, a assistência em educação e saúde. Nesse ínterim é que se destaca o papel do padre Alfredo Dâmaso em defesa do reconhecimento étnico e dos direitos. Pároco de Águas Belas, Pernambuco, conquistou o carinho da população Fulni-ô, chegando a receber o nome na língua nativa de Claixiua-lha, que pode ser traduzido por sacerdote maior ou “Padre Grande”.
O Jornal do Comércio de Pernambuco, escreve: “grande amigo e benfeitor dos índios de Águas Belas, Porto Real do Colégio, Palmeira dos Índios, Vila de Cimbres”. E, completa: “Durante o período em que foi pároco de Águas Belas tornou-se seu extremado defensor, de modo a disfrutar da confiança ilimitada da tribu. Bispo dos índios, dizem por morfa os perseguidores destes”. (Sic).
O atual cacique de Kariri-Xokó, atualmente com mais de 80 anos, no município de Porto Real do Colégio, Alagoas, relata que acompanhava o antigo pajé Francisquinho nas viagens que faziam com as antigas lideranças Xucuru-Kariri, cacique Alfredo Celestino e Miguel Celestino, até a cidade de Bom Conselho para pedir apoio para criação de Postos Indígenas em suas áreas. O que foi atendido permanentemente pelo padre, encaminhando suas solicitações através de cartas e/ou pessoalmente junto às autoridades governamentais locais e em nível nacional.
É com este marco que, 50 anos depois de seu falecimento, será resgatada a memória e a importância de sua vida pastoral junto aos povos indígenas. Um século depois do decreto de extinção indígena, pode-se também celebrar, com o seu compromisso em defesa da vida, a existência de doze grupos indígenas reconhecidos no Estado de Alagoas.