Moradores do Distrito Federal estão aproveitando a chegada de turistas estrangeiros para a Copa do Mundo — Brasília sediará sete disputas — para garantir uma graninha extra. Eles estão se candidatando como “amigos de aluguel”. O número de interessados não para de subir. Dois dias antes abertura da Copa, que ocorreu na última quinta-feira (12), o site internacional Rent a Local Friend — ou “Alugue um Amigo Local” — contava com sete inscritos do DF. Um dia após a abertura dos jogos, o número subiu para 12 — aumento de 70%.
Sete mulheres e cinco homens são os “amigos” disponíveis do Distrito Federal. São pessoas de diferentes idades e profissões. Há funcionários públicos, estudante universitária, jornalistas, gerente de hotel, advogada, psicóloga, até dono de agência de viagem. Segundo o Rent a Local Friend, os pré-requisitos para a pessoa se tornar um “amigo de aluguel” são: saber a fundo sobre sua cidade, ser comunicativo e, principalmente, gostar de conhecer estrangeiros.
Os interessados ainda devem preencher um formulário no site sobre seu perfil, com informações como idade, profissão, idiomas que fala, o que gosta de fazer. É cobrada uma taxa de US$ 100 por ano (cerca de R$ 2.250). A página aconselha ainda que, durante o tempo de visita, o “amigo de aluguel” leve o estrangeiro a lugares diferentes, autênticos, charmosos e interessantes. O Rent a Local Friend pede também que o anfitrião prepare o itinerário de acordo com o interesse ou perfil do turista que o contratou.
O candidato a “amigo de aluguel” deve conhecer os principais aspectos da cidade onde mora, como história, cultura, geografia, principais prédios, política, entre outras informações locais. “A principal ideia do nosso site é oferecer ao visitante a oportunidade de conhecer pontos locais favoritos e [mostrar] o modo de vida [da região]”, diz a página eletrônica.
O custo para contratar um “amigo de aluguel” do DF varia entre US$ 134 a US$ 201 (entre R$ 301 R$ 425) e , segundo informações do site. De acordo com um dos candidatos cadastrados, o valor refere-se a oito horas por dia de “passeio” pela região. Do valor total para se contratar um amigo, 30% ficam para a empresa e os outros 70% o turista paga pessoalmente ao contratado.
Além do Distrito Federal, outros lugares do Brasil onde as pessoas estão cadastradas para serem “amigas de aluguel” são: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Campinas (SP), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Foz do Iguaçu (PR), Guarulhos (SP), Jundiaí (SP), Manaus (AM), Natal (RN), Niterói (RJ), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Bernardo do Campo (SP), São Luís (MA), São Paulo (SP) e Vitória (ES).
Por que ser um amigo de aluguel?
Inscrito há menos de uma semana no Rent a Local Friend, o servidor público Reinaldo Gomes, 31 anos, disse que resolveu se candidatar após sugestão de uma amiga.
— Ela [amiga] já me conhece e sabe que aquilo que é para fazer como “amigo alugado” eu já faço normalmente. Tenho amigos de fora que vêm, eu faço tour pela cidade, mostro tudo, ajudo a reservar alguma coisa, se precisar.
Em seu perfil cadastrado no site, ele se intitula um “cidadão do mundo”. Apaixonado por viagens, Reinaldo Gomes conhece 12 países da Europa, além do México e Argentina. Sempre que pode, ele sai de Brasília para conhecer outras partes do mundo.
— Sou um cidadão do mundo. Gosto de Brasília, mas se surgir uma oportunidade fora daqui, eu estou indo. Não tenho essa coisa de me prender a um lugar.
Antes mesmo do “Rent a Local Friend”, o servidor público conta que há dois anos ajuda amigos de amigos, estrangeiros, a conhecerem o Distrito Federal.
— Eu organizo o intercâmbio deles [turistas] aqui, mas, às vezes, eles querem sair à noite, não sabem para onde ir. Daí, eu vou com eles, indico restaurantes, bares. Já teve parte deles que foi para o Plano Piloto, mas queria mesmo era conhecer a realidade das regiões administrativas.
Para Reinaldo Gomes, alguns lugares não podem ficar de fora do roteiro do estrangeiro que vem ao Distrito Federal, como Pontão do Lago Sul, a ponte Juscelino Kubitscheck, a Igrejinha, além das feiras populares, como as do Guará e do Núcleo Bandeirante.
— Brasília é muito diferente de tudo. Essa coisa de a [feira] ter de tudo — comida, roupa, doces, artesanato — para eles [estrangeiros] é muito interessante e é mais a cara da cidade.
O servidor público considera “interessante e inovadora” a oportunidade de conhecer pessoas, mostrar a cidade para o turista e ganhar um dinheiro extra.
— É uma coisa [mostrar a cidade] que eu já gosto de fazer. Poder fazer isso ganhando um pouco de dinheiro é bem interessante. Adorei a proposta, acho que pode dar muito certo.