Menores deficientes morrem soterrados por montanha de arroz em Goiás

Reprodução/TV AnhangueraAdolescentes aparecem em vídeo pulando sobre pilhas de arroz

Adolescentes aparecem em vídeo pulando sobre pilhas de arroz

A Polícia Civil apura a morte de dois adolescentes soterrados em uma indústria de processamento de arroz no Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia), a 55 km de Goiânia, no último dia 2. O delegado Manoel Vanderic Correia Filho, responsável pelo caso, afirmou ao G1 que imagens encontradas no celular de uma das vítimas comprovam que eles trabalhavam de maneira irregular (veja vídeo ao lado). “Um deles gravava a diária de serviço e um dos vídeos mostra que eles não tinham supervisão. Entravam em áreas restritas e faziam trabalho braçal. Isso revela a negligência da empresa”, disse.

Segundo o delegado, as vítimas Thiago Aprijo, de 17anos, e Ygor Barros, de 16, trabalhavam na Companhia de Distribuição Araguaia (CDA) como menores aprendizes desde outubro do ano passado. Os dois eram deficientes intelectuais e um deles também era deficiente físico, pois tinha um lado do corpo paralisado. “Eles poderiam participar do programa sem problemas, já que o objetivo é aprender sobre a rotina da indústria. No entanto, nunca poderiam exercer funções como um trabalhador efetivo”, explicou.

Os adolescentes estavam em um dos galpões da empresa, no dia 2 de junho, quando um fardo de arroz a granel, que pesava cerca de 800 quilos, caiu sobre eles. O Corpo de Bombeiros chegou a ser acionado, mas a dupla não resistiu. “Infelizmente chegamos ao local e verificamos que eles não possuíam mais sinais vitais. Então, apenas isolamos a área para evitar novas quedas dos produtos sobre nós e as vítimas”, explicou o tenente José Xavier. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) confirmou que a morte foi causada por asfixia.

O G1 tentou contato com a empresa CDA, mas as ligações não foram atendidas até a publicação desta reportagem. Em depoimento à polícia, funcionários negaram que os adolescentes andassem em áreas restritas, sem supervisão de um adulto, e alegaram que no dia do acidente eles encontraram uma porta aberta e entraram no galpão sem autorização.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) também investiga o caso e quer saber quais foram as circunstâncias que resultaram no acidente. “Já fizemos duas vistorias na empresa, verificamos as condições, e agora o processo passa por análise”, explicou o delegado do Trabalho em Anápolis, Degmar Pereira.

Área restrita

Manoel Vanderic conta ainda que, em um vídeo gravado por um dos menores, é possível ver os adolescentes trabalhando na área administrativa da empresa. Em outra imagem, eles aparecem circulando em áreas restritas, que exigem o uso de equipamentos de segurança, trabalhando na linha de produção da fábrica e até pulando sobre montanhas de arroz.

“Ouvimos testemunhas que relataram sobre a rotina desses garotos e que negaram que eles ficassem em áreas restritas, mas os vídeos detalham tudo o que a gente precisava saber. Eles tinham livre acesso e executavam funções não compatíveis com a de menor aprendiz. Não há dúvidas sobre o nexo entre a negligência da empresa e a morte dos dois”.

O delegado ressaltou que o inquérito policial deve ser concluído na próxima semana, assim que o laudo do Instituto de Criminalística for divulgado. Os responsáveis pela CDA e o supervisor direto dos adolescentes, que ainda não foi identificado, devem ser indiciados por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

“Ainda trabalhamos para precisar quem deveria supervisionar diretamente os adolescentes na indústria. Funcionários que já foram ouvidos entraram em contradição, então continuamos a apurar. Mas não temos dúvidas sobre a omissão e vamos remeter isso ao Judiciário”, destacou.

Justiça

A mãe de Thiago, a dona de casa Zélia de Souza, afirma que a perda do filho é insuperável. “Fiquei muito triste em saber que meu filho saiu para trabalhar e depois voltou morto. Isso pra mim é o que eu não estou suportando”, lamentou.

A irmã do adolescente, Dayana Rosa, ressaltou que ele precisava de acompanhamento em função da deficiência intelectual. “O que a gente quer é que seja feita justiça, pois esses meninos estavam trabalhando há algum tempo em funções indevidas”.

Fonte: G1

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