Na década de 1990, a economia brasileira intrigava os maiores especialistas do mundo. Era difícil explicar como um país conseguia sobreviver a uma inflação que passava de 2.000% ao ano. Depois de algumas tentativas fracassadas de colocar a casa em ordem, a partir de 1993, durante o governo de Itamar Franco, começou a ser desenhado o Plano Real – sob a coordenação do então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso.
Nesta terça-feira, 1º de julho, o Plano Real completa 20 anos. A principal marca do pacote econômico foi o controle inflacionário. O Brasil terminou 1993 com uma inflação de 2.708,17%. Depois de 20 anos, em 2013, a inflação oficial do País foi de 5,52%.
Além de olhar a inflação e o velho clichê do dragão pelo retrovisor, sem ameaça de aproximação, o brasileiro tem a seu favor o avanço constante do poder de compra.
Em julho de 1994, mês em que foi concluída a implementação do plano econômico e o País passou a ter como moeda o real, o trabalhador de São Paulo (maior mercado de trabalho do País) precisava de 228 horas e 51 minutos para comprar a cesta básica, conforme mostram os dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em maio passado (dado mais recente), bastavam 111 horas e 23 minutos para comprar os mesmos itens. Naquele mês, a cesta básica na capital paulista custava R$ 366,54.
Nas quatro maiores capitais brasileiras, a queda média de horas de trabalho foi de 54%. Isso significa que o poder aquisitivo do brasileiro aumentou.
Mas a queda no total de horas trabalhadas para a compra da cesta básica não aconteceu imediatamente depois do lançamento do Plano Real. A involução ocorreu aos poucos. Em abril de 1995, por exemplo, os paulistanos chegaram a absurdas 306 horas e 21 minutos de trabalho para levar uma cesta básica para casa.
Ainda que a evolução não tenha sido instantânea, os efeitos do Plano Real foram fundamentais para que Fernando Henrique Cardoso, que deixou o Ministério da Fazenda em março de 1994, vencesse com facilidade a disputa pela Presidência da República e chegasse ao Palácio do Planalto em janeiro de 1995. Duas décadas depois, o Plano Real – que teve início com Itamar Franco e passou por ajustes de certos pilares nos governos seguintes – está na pauta eleitoral.
A disparada de preço do tomate
Ao mesmo tempo que as horas trabalhadas para a compra da cesta básica caíram em duas décadas, o brasileiro viu alguns produtos subirem bem acima da curva inflacionária nesse período. Em muitos casos, pesaram fatores climáticos, como no caso do campeão de aumento desde 1994: o tomate.
O preço da fruta disparou 939% em duas décadas na capital paulista. Um quilo de tomate custava R$ 0,58 em julho de 1994, mas hoje é encontrado a R$ 6,11.
Os produtos da cesta básica ficaram 407% mais caros desde julho de 1994. O cálculo leva em conta a evolução dos preços nas quatro capitais mais populosas do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador), com base em dados do Dieese. O impacto só não foi maior porque no mesmo período houve ganho real de poder de compra.
Depois do tomate, a carne é a campeã de aumento. Em São Paulo, o preço subiu 508% em duas décadas, passando de R$ 3,21 o quilo no mês de estreia do Plano Real, para R$ 19,53 o quilo em maio de 2014.
O litro do leite, que há 20 anos custava R$ 0,53 na capital mais populosa do Brasil, hoje custa R$ 3,14, ainda de acordo com o Dieese. Isso corresponde a um aumento de 491% no período.