A Polícia Civil entregou nesta quarta-feira (9) ao Ministério Público o inquérito da operação Jules Rimet, que investiga a máfia milionária de venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo. Os 12 presos desde que a operação foi deflagrada foram indiciados pelos crimes de cambismo e associação criminosa e 11 deles tiveram a prisão preventiva pedida. Entre eles, o CEO da Match Services, Raymond Whelan, solto na madrugada desta terça-feira (8) graças a um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).
O MP informou que o promotor Marcos Kac já está com o inquérito e que tem cinco dias para analisar os documentos entregues pelo delegado Fábio Barucke, da 18ª Delegacia de Polícia (Praça da Bandeira), e decidir se apresenta à Justiça a denúncia.
Ray Whelan havia sido preso na segunda-feira (7) no Hotel Copacabana Palace, na Zona Sul, suspeito de fornecer ingressos para partidas do Mundial. A Match Services detém direitos exclusivos sobre a venda de ingressos da Fifa. Os outros 11, incluindo o argelino Mohamed Lamíne Fofana, apontado como chefe da quadrilha, foram presos no dia 1º de julho. Fofana teve o habeas corpus negado. Como o prazo da prisão temporária terminaria nesta quinta (10), foi pedida a prisão preventiva.
Whelan vai se descredenciar
Em nota divulgada nesta quarta, a Match informou que Whelan vai se descredenciar de forma voluntária da Copa e que, ao fazer isso, reafirma seu compromisso com a proteção dos interesses da empresa, da Fifa e do evento. Segundo a nota, o executivo reitera que toma esta decisão mesmo não tendo cometido qualquer ato ilegal e diz ainda que permanecerá colaborando com as investigações com a certeza de que será inocentado.
A Match voltou a criticar a forma como a investigação policial está sendo conduzida e afirmou que não há nada de inapropriado ou ilegal na conduta de Raymond Whelan.
No momento da prisão, Whelan estava com mais de 80 ingressos para os jogos. A prisão temporária de cinco dias foi expedida pelo Juizado Especial do Torcedor. Segundo decisão da desembargadora Marília de Castro Neves Vieira, que concedeu o habeas corpus, a prisão deve obedecer o princípio da proporcionalidade o que, segundo o documento, não aconteceu. Além de revogar a prisão provisória de cinco dias, ela determinou o pagamento de fiança no valor de R$ 5 mil, o comparecimento quinzenal no cartório e a entrega do passaporte.
O esquema
Deflagrada no dia 1º de julho, a operação da 18ª DP (Praça da Bandeira) no Rio de Janeiro prendeu 12 pessoas. No dia 1º, 11 suspeitos foram detidos no Rio e em São Paulo, entre eles o apontado como operador do esquema, o argelino Mohamed Lamíne Fofana. Nesta segunda (7), Raymond foi preso por suspeita de ser o facilitador da obtenção dos ingressos.
Com a listagem de celulares da Fifa em mãos, um dos agentes policiais digitou no aparelho celular apreendido do argelino Lamíne Fofana o prefixo 96201, que precedem os telefones da entidade. Apareceu, então, o nome "Ray Brazil", para qual havia 900 registros entre telefonemas e mensagens. Ao todo, a operação está lendo e escutando 50 mil registros telefônicos, dos quais mais de 50% já foram apurados.
Segundo as investigações, três empresas de turismo localizadas em Copacabana, interditadas pela polícia, faziam contato com agências de turismo que traziam turistas ao país e vendiam ingressos acima do preço.
Eram ingressos VIPs, fornecidos como cortesia a patrocinadores, a Organizações Não Governamentais (ONGs) e também destinados à comissão técnica da seleção brasileira. Desde bilhetes de camarotes até entradas de assentos superiores. Uma entrada para a final da Copa no Maracanã chegava a custar R$ 35 mil e a quadrilha chegava a faturar mais de R$ 1 milhão por jogo.
Segundo a polícia, Fofana também conseguia entradas vendidas pelos agentes oficiais da categoria "hospitalidade", pacotes de luxo, controlados pela Match Hospitality. Até carro forte foi usado para abastecer a quadrilha que vendia entradas para todos os jogos da abertura à final do torneio.
Quatro copas
Segundo o delegado Fábio Barucke, responsável pelo caso, os presos já atuaram em pelo menos quatro mundiais e estimativas apontam que a quadrilha poderia movimentar cerca de R$ 200 milhões por Copa do Mundo.
Presos
Além de Fofana, estão presos o policial militar reformado Oséas do Nascimento; Alexandre Marino Vieira; Antônio Henrique de Paula Jorge, um dos contatos de Fofana no Brasil (antes de ser preso, Henrique tentou retirar de um banco R$ 177 mil em dinheiro vivo); Marcelo Pavão da Costa Carvalho; Sérgio Antônio de Lima, que teria tentado subornar um dos agentes; Ernane Alves da Rocha Júnior; Júlio Soares da Costa filho e Fernanda Carrione Paulucci. Alexandre da Silva Borges e o advogado José Massih foram presos em São Paulo.