O terceiro adolescente levado pelos dois PMs acusados de assassinar um jovem no Sumaré, na Zona Norte do Rio, no dia 11 de junho, contou à polícia os momentos de tensão e as ameaças sofridas no dia do crime e explicou como sobreviveu. Um documento ao qual o Bom Dia Rio teve acesso e exibiu nesta terça-feira (29) descreve em detalhes o que o adolescente disse aos investigadores durante o depoimento na Divisão de Homicídios.
O rapaz, de 16 anos, está sob proteção do estado. Ele disse que estava trabalhando no Camelódromo, no Centro, quando viu um policial com um fuzil tentando deter um menor.
O jovem contou que estava com outras pessoas que pararam para olhar a cena quando um dos policiais se virou pra ele e disse: "Você está me olhando cheio de marra". Depois disso, ele pediu a um dos guardas municipais: "Pega, que ele está junto!". O adolescente ainda tentou argumentar, mas não foi ouvido.
Já dentro da viatura, ele perguntou se os dois garotos sabiam para onde o grupo estava sendo levados: "Eles devem estar levando a gente para dar um pau, uma coça", responde um dos jovens. Assustado, o rapaz contou que começou a chorar e foi advertido pelos policiais: "Para de chorar que vocês nem começaram a apanhar”.
No caminho para o Sumaré, o menor contou que em um determinado ponto da estrada foi retirado da viatura sozinho e levado pelos PMs até a beira de uma ribanceira. Ele afirmou que neste momento voltou a repetir que trabalhava como camelô e só foi liberado porque falou o nome de um colega de trabalho, que era conhecido pelos policiais.
Um deles disse: "Tu vai sair daqui, vai ralar e espera a gente lá embaixo e se você cruzar com alguém ou alguma viatura, não diz que a gente está aqui em cima”. O rapaz seguiu pela estrada quando ouviu uma rajada de tiros. Minutos depois ele contou que a viatura reapareceu, os policiais mandaram ele entrar no carro e fizeram o ameaçaram.
Depois de ser liberado na Lapa, o jovem encontrou a mãe e contou o que tinha acontecido. A mulher só acreditou depois de ver a história nos jornais. O menor disse que depois que o caso ganhou repercussão, ele e a mãe foram abordados no camelódromo por um homem que se identificou como advogado dos dois policiais. Assustado, ele parou de ir trabalhar e decidiu ficar em casa até ser localizado pelos investigadores. Na delegacia, o jovem reconheceu as vítimas, os dois policiais e o advogado deles.