O inquérito da Polícia Civil sobre atos violentos em protestos no Rio afirma que dois manifestantes que respondem por formação de quadrilha armada, Gabriel da Silva Marinho e Karlayne Moraes da Silva Pinheiro, a "Moa", estiveram presentes na tentativa de invasão da sede de um partido político na Lapa. No dia 1º de abril de 2014, após uma manifestação no Centro do Rio, a sede do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) foi atacada e depredada.
Os autores do ataque, segundo testemunhas e autos da Polícia Civil, seriam manifestantes adeptos da tática black bloc que não concordavam com a presença de militantes de partidos políticos nos protestos do Rio.
À época, o PSTU fluminense disse que 45 integrantes de diferentes grupos de manifestantes participaram da depredação do imóvel. A Frente Independente Popular (FIP), que reúne esses movimentos, repudiou as alegações.
Gabriel e Karlayne foram detidos no dia 12 de julho e tiveram a prisão temporária decretada, mas foram liberados após 5 dias na prisão por um habeas corpus concedido pelo desembargador Siro Darlan, da 7ª Câmara Criminal. Quando a prisão preventiva foi decretada, no dia 18 de julho, ambos se tornaram foragidos até o dia 23, quando um novo habeas corpus foi concedido, dessa vez para todos os 23 ativistas denunciados, que a princípio poderão responder o processo em liberdade – com exceção dos dois acusados de matar o cinegrafista Santiago Andrade, Caio Silva e Fábio Raposo, que seguem presos preventivamente pelo crime de homicídio.
De acordo com testemunhas ouvidas por agentes da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), agressões físicas e verbais entre manifestantes de ideologia anarquista e militantes de partidos políticos presentes nos protestos eram constantes.
Segundo o inquérito, no dia 1º de abril black blocs entraram no prédio da sede do PSTU e intimidaram o porteiro para que abrisse a porta. Não conseguiram arrombar a porta da sala do partido, mas causaram depredação, lançando objetos e quebrando vidraças, e furtaram objetos – não especificados no documento. Em determinado momento, houve até uma briga entre eles, segundo os autos da Polícia Civil.
Entre os que invadiram o prédio, também estava um ativista que era menor à época da invasão e considerado pela Polícia Civil como um dos black blocs mais violentos. Os investigadores chegaram à participação deles graças a imagens de vídeo que mostram o momento da invasão do prédio. Segundo os autos, as gravações comprovam "mais uma vez a associação entre os manifestantes para a prática de crimes".
A advogada dos dois acusados, Raphaela Lopes, do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (DDH), não respondeu ao G1 até a publicação desta reportagem.
Versões
O PSTU fluminense emitiu uma nota na época do incidente incluindo fotos da depredação ocorrida no interior do prédio (veja acima). "Integrantes da Frente Independente e Popular [que reúne organizações anarquistas e independentes], como eles mesmos se intitularam, tentaram arrombar a nossa sede e arremessaram destroços de madeira entre as grades do portão que acabaram por estourar a vidraça de uma de nossas salas. Além disso, lançaram da rua uma pedra portuguesa que quebrou o vidro da varanda do andar onde está localizada a sede do PSTU. Foram cerca de 15 integrantes da FIP que ingressaram no prédio na tentativa de invasão e mais 30 aguardavam fora dele. Uma covardia total", diz a nota.
Poucos dias depois, a Frente Independente Popular também divulgou uma nota, contestando a versão do PSTU: "A Frente Independente Popular do Rio de Janeiro (FIP-RJ) repudia as acusações levianas e mentirosas publicadas pelo PSTU. Afirmamos que a FIP-RJ não atacou a sede do PSTU e não possui qualquer envolvimento com o fato ocorrido. São gravíssimas e irresponsáveis as acusações desse partido contra nós, uma vez que criminalizam ativistas e organizações populares, fazendo de fato o jogo do governo e da repressão. O PSTU tem a prática de desqualificar organizações e movimentos combativos, porém, agora, e sem quaisquer provas, acusam a FIP-RJ e o MEPR [Movimento Estudantil Popular Revolucionários] de ter cometido um crime. Levaram tais acusações à polícia, legitimando essa instituição assassina como autoridade diante do movimento social".