A tragédia que se abateu sobre a candidatura do PSB após a morte de seu candidato à Presidência, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, criou um raro ambiente de paz e cordialidade entre os presidenciáveis Dilma Rousseff, Aécio Neves e, agora, Marina Silva, que ficou com o lugar do pernambucano na disputa. Mas a trégua entre os principais candidatos já está com os dias contatos: as campanhas só esperam o fim da comoção nacional para tirar da gaveta suas estratégias para desqualificar as candidaturas rivais.
Praticamente ignorado pelos adversários enquanto esteve na disputa com seus 8% de intenções de voto, Campos tentava subir nas pesquisas responsabilizando Dilma pela estagnação economia do Brasil. Aécio (PSDB) usava a mesma estratégia, ao culpá-la também pela alta da inflação. A presidente-candidata respondia classificando os adversários de "pessimistas" ao comparar as declarações deles de campanha às opiniões que emitiram sobre a organização da Copa do Mundo.
Mas quando o piloto do avião que transportava Campos perdeu o controle na cidade de Santos (SP), pondo fim à vida do presidenciável e de outras seis pessoas, o luto ganhou a campanha. No velório do socialista, Dilma e Aécio ficaram lado a lado e até trocaram beijos. Marina preferiu ficar com a viúva, mas não conteve o abraço apertado dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde então, os ataques se atenuaram e os marqueteiros correram para baixar o tom na estreia do horário eleitoral gratuito. A dificuldade, admitem membros das campanhas, é criticar Marina, que capitalizou a simpatia de muitos eleitores após o acidente e já figura em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, com 21%. Ela está em empate técnico com Aécio (20%) e 15 pontos percentuais atrás de Dilma (36%), de acordo com o último Datafolha.
Coordenador da campanha de Aécio no Nordeste, o senador José Agripino Maia (DEM) afirmou ao iG que seu candidato não pretende sair com o "tacape na mão", mas espera que o volume de farpas aumente com o fim da comoção nacional. "A tristeza tem seu tempo de vida e logo vai perder espaço para a razão", disse ele, que não admite a existência de uma estratégia preparada para tirar Marina do páreo, no entanto.
"Só atacaremos ela e Dilma se os adversários faltarem com a verdade", desconversa Maia. Espera-se que Aécio aumente sua agenda no Nordeste nas próximas semanas para angariar os votos que Marina herdou com a morte de Campos na região, mas que podem se transformar em indecisos depois que a comoção acabar.
No PT, a ordem é esperar Marina desidratar com a crise aberta no PSB com a saída de Carlos Siqueira da campanha, braço direito de Campos quando vivo e que rompeu com a candidata ao ser substituído pelo deputado federal Walter Feldman na coordenação da candidatura. Se isso não acontecer, os petistas ainda esperam que o ‘trabalho sujo’ seja feito pelo PSDB, que precisaria tirar Marina do caminho antes de garantir um lugar no segundo turno. Até lá, o horário eleitoral da presidente vai focar nas realizações de seu mandato, enquanto Lula será o responsável pela tarefa de retrucar os adversários.
Amigo pessoal de Campos, o deputado federal Luiz Gonzaga Patriota (PSB-PE) acredita que Marina passa Aécio Neves até o dia 10 de setembro, e por isso já se prepara junto com aliados para os ataques. Eles esperam que os tucanos engrossem as críticas dos ruralistas, que desaprovaram o comportamento da ex-senadora na votação do Código Florestal. "Obviamente que estamos preparados para isso. Vamos dizer que ela será presidente de todos, sejam ruralistas ou ambientalistas”, argumenta. “Marina não é apenas presidente de suas ideias, ela também representa o nosso partido.”
Historiador e cientista político da Universidade Federal de Santa Catarina, Waldir Rampinelli acredita que a comoção em torno da morte de Campos dure de dez a 20 dias “no máximo”. “A superexposição do caso acelera seu fim. Depois da comoção, Marina vai cair nas pesquisas. Se isso não acontecer, Aécio vai atacar", aposta o professor, para quem Marina é contraditória e possuiu uma imagem de política "frágil", sem comando. "Será fácil explorar essa faceta porque ninguém sabe ao certo quais são suas posições. Defensora do meio ambiente, agora está com o agronegócio porque herdou as alianças feitas por Campos. Como explicar isso em um debate?"
Para o professor, sobrará para Marina bater na tecla que motivou sua aliança com Campos em outubro do ano passado: colocar-se como alternativa à polarização do PT e PSDB ao afirmar que ambos já tiveram sua chance de mudar o Brasil.