Ex-líder do P.O. Box diz que ‘Papo de jacaré’ rendeu R$ 350 mil em um ano

Diego Baravelli/G1Carlinhos, ex-P.O. Box, na época do hit 'Papo de jacaré' e em 2014: 'Essa música me deu casa, carro, e praticamente todos os bens materiais que tenho hoje'

Carlinhos, ex-P.O. Box, na época do hit ‘Papo de jacaré’ e em 2014: ‘Essa música me deu casa, carro, e praticamente todos os bens materiais que tenho hoje’

Uma música despretensiosa mudou a vida de José Carlos dos Santos, filho de um pipoqueiro da pequena Taquaral de Goiás. "Papo de jacaré" (veja letra e ouça) rendeu a Carlinhos, líder do P.O. Box uma média de R$ 12 mil mensais (R$ 144 mil por ano) por direitos autorais no auge, em 2000. Corrigida a inflação, os valores correspondem a R$ 29 mil ao mês e R$ 350 mil ao ano. Os repasses de direitos hoje são menores e irregulares, mas completam a renda. "Essa música me deu casa, carro e praticamente todos os bens materiais que tenho", ele diz sobre o sucesso há 14 anos.

Carlinhos é um dos nomes do especial “One hit wonders” do G1. Eles contam a experiência de ter um sucesso só. Levantamento da empresa Crowley mostra que estes músicos figuraram apenas uma vez no "top 100" anual de rádio do Brasil entre 2000 e 2014.

‘Vida mudou’

"Foi a primeira vez que a gente viu esse valor. Eu trabalhava em bandas de baile, conseguia me virar criando os filhos com dignidade. Na época da música eles estavam entrando na faculdade e o sucesso me deixou mais tranquilo. A vida mudou", diz. Hoje o artista de 52 anos mora em Goiânia e tem cinco filhos e quatro netos. Ele tem muito mais recursos do que na infância em Taquaral, onde o pai começou como lavrador e depois vendia pipoca na rua, e a mãe era dona de casa.

"Ainda tenho que ralar, mas até hoje os direitos de ‘Papo de jacaré’ são um acréscimo", diz o coautor e intérprete da canção. Ele trabalha com produção musical e ainda grava e se apresenta como Carlinhos P.O. Box – sem o resto dos músicos da época do hit.

O P.O. Box resolveu "dar um tempo" em 2003. "Tinha uma ‘superexposição’ e gostávamos de estar com a família. Seguimos com outros projetos e continuamos amigos." Carlinhos diz que se sentia cobrado para produzir mais sucessos irreverentes como "Papo de jacaré", mas ignorou a expectativa.

Recusa a músicas ‘apelativas’

"Nunca tivemos aquela pretensão de fazer música com palavrão, apelativas. Nesse segmento pop tem que dar uma ‘diluída’ no trabalho, e a gente não queria aquilo. Havia pressão da gravadora de produzir sempre músicas repetitivas, então decidimos dar uma parada", afirma.

A faixa "Não tô entendendo" chegou a ter destaque na novela "Uga-uga", em 2001, mas a repercussão não chegou perto do hit que rimava "língua" com "íngua". "Papo de jacaré" levou o PO Box a vender mais de 800 mil discos, contabiliza Carlinhos. Depois de 2003, a banda chegou se juntar, mas nunca voltou em turnê.

Do ‘Jacaré’ a Janis Joplin

Com a situação financeira mais tranquila, mas não garantida, Carlinhos divide o tempo atual entre projetos mais comerciais e outros só pelo prazer de tocar. Ele está montando uma banda de rock com amigos para tocar rock: “Pink Floyd, Led Zeppelin, Deep Purple, Creedence, Janis Joplin, tudo isso está no repertório. E Joe Cocker, que é meu ídolo”, adianta.

Mas o cantor ainda se apresenta como Carlinhos P.O. Box, com um repertório de pop romântico. Neste ano ele lançou as baladas “Curtir alguém” e “De lua” no YouTube. Antes disso, ele cantou um ano e meio como backing vocal dos sertanejos Bruno & Marrone. O novo projeto é de uma turnê baseada em sucessos dos anos 70, chamada “Canções que ouvimos e gostamos de cantar”.

15 minutos de fama

Carlinhos fala com saudade, mas sem mágoa, do sucesso que passou. ”Uma vez fomos ao programa do Faustão só para cantar uma música e, como a audiência levantou, nos deixaram no ar por mais de 15 minutos”, lembra. A fala remete sem querer à máxima creditada a Andy Warhol sobre a fama fugaz. O tempo no ar, para Carlinhos, foi suficiente para mudar a carreira: “Você entra no Projac em um patamar e sai em outro”, lembra.

“A gente estava lá correndo atrás, contando a grana para pagar o ônibus, ou dormindo no piso do estúdio, e no outro dia ali recebendo um disco de ouro no programa da Xuxa”, lembra. “O bom foi que não deslumbrou a gente. Nunca fomos de droga, de bebida, ou vida desregrada. Viemos de família humilde e melhoramos muito. A lição que ficou foi de que o sucesso muda as pessoas, sim. O que não pode é mudar para pior.”

Fonte: G1

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