A Venezuela vivia nesta terça-feira horas de angústia após o último boletim do governo que destacou o agravamento do estado de saúde do presidente Hugo Chávez, alimentando a incerteza política no país.
O canal oficial VTV pediu aos simpatizantes do presidente que iniciassem orações a partir das 9h00 (10h30 de Brasília) diante do hospital militar de Caracas, onde Chávez permanece internado.
‘No dia de hoje houve um agravamento da função respiratória relacionado com o estado de imunodepressão próprio de sua situação clínica’, anunciou na segunda-feira o ministro da Informação, Ernesto Villegas.
‘Atualmente apresenta uma nova e severa infecção’, acrescentou o ministro, responsável por ler os comunicados sobre a saúde do presidente, sem prever um eventual retorno, inabilitação ou renúncia de Chávez.
‘O comunicado de ontem não tem bom aspecto. É difícil que se possa curar. Mas as pessoas vão aguentar até onde for possível. Apesar de estar assim, continua sendo líder e a maioria dos venezuelanos estão cone ele’, disse à AFP Giovanni Cardinale, 55 anos, funcionário de uma pequena loja de reparo de calçados em Caracas.
‘Diante da adversidade, fortaleza! Diante da tristeza, unidade! Diante da dúvida, amor! ForçaChavez, Não te rendas Arañero!’, escreveu @francisguedez no Twitter, entre centenas de mensagens emotivas de apoio a Chávez.
Os estudantes que acamparam há uma semana no bairro de Chacao, reduto da oposição na capital, para exigir a verdade sobre a saúde do presidente, reagiram com ceticismo ao último comunicado.
‘Nós continuamos esperando uma resposta concreta, que nos digam se o presidente pode voltar a governar ou não e, se não, que se declare sua falta absoluta e eleições sejam convocadas’, disse à AFP Gerardo Leaiza, 22 anos, estudante da Universidade de Zulia.
Chávez completa nesta terça-feira 15 dias do surpreendente retorno ao país, depois de permanecer mais de dois meses em Cuba, onde foi operado em 11 de dezembro pela quarta vez contra um câncer detectado em 2011.
O presidente é submetido à ‘sessões de quimioterapia de forte impacto, entre outros tratamentos complementares’, destacou Villegas.
‘A evolução de seu quadro clínico continua sendo muito delicada’, completou.
Após a cirurgia, Chávez, de 58 anos e no poder desde 1999, tem sofrido com problemas respiratórios, mas o governo garante que ele continua no comando do país e desmente os boatos de uma possível desestabilização da Venezuela.
Villegas acusou os ‘laboratórios estrangeiros’ e a ‘direita venezuelana’ de criar uma ‘guerra psicológica’ para ‘gerar cenários de violência como pretexto para uma intervenção estrangeira’.
O governo ‘repudia a atitude farisaica daqueles inimigos históricos de Hugo Chávez, que sempre lhe dirigiram ódio, insultos e desprezo, e que agora tentam utilizar sua situação de saúde como desculpa para desestabilizar a Venezuela’, disse o ministro.
Desde o retorno de Cuba, o mistério sobre a saúde de Chávez permanece impenetrável como antes. Não existem registros de imagens de sua estadia no país e, durante a prolongada convalescença, o governo divulgou fotos apenas uma vez, em Havana, na cama, ao lado das filhas, com o jornal Granma na mão.
‘A informação dada ontem pelo ministro Villegas (…) já começa a aproximar-se de uma informação mais dura sobre o desenlace do processo da doença’, afirmou o analista Luis Vicente León, presidente da empresa Datanálisis, ao canal Globovisión.
Mas para León, o boletim também representa informação política.
‘Tem os filtros correspondentes à política, a política vai decidir que coisas podem ser ditas e quando podem ser ditas’, afirmou.
Chávez foi diagnosticado de câncer – do qual se desconhece a localização exata e a gravidade – em meados de 2011 e desde então foi submetido a quatro cirurgias, assim como a ciclos de quimioterapia e radioterapia. Ele foi tratado quase exclusivamente em Cuba, onde gozou de total privacidade.
Os problemas de saúde impediram Chávez de tomar posse em 10 de janeiro, depois da reeleição de outubro de 2012 para um terceiro mandato de seis anos.
Em janeiro, a Assembleia Nacional concedeu ao presidente uma permissão indefinida de ausência do país para tratar a doença, enquanto o Tribunal Supremo de Justiça autorizou a posse quando Chávez estiver em condições.
Chávez nomeou o vice-presidente Nicolás Maduro, 50 anos, como herdeiro político e candidato governista caso não possa reassumir o poder e no caso de convocação de novas eleições em um prazo de 30 dias.