A Associação de Polícia Criminal de Pernambuco (Apoc-PE) informou, nesta segunda-feira (3), que as respostas dos 17 questionamentos sobre a morte do empresário Sérgio Falcão já estão nas mãos do Ministério Público. As perguntas sobre o laudo do Instituto de Criminalística (IC) foram encaminhadas à entidade pela Justiça em março último. Falcão foi encontrado morto em agosto de 2012 no apartamento em que morava, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Na coletiva de imprensa na sede do IC, esta manhã, o presidente da Apoc-PE, Enocke Santos, reafirmou a tese de suicídio, questionada pela polícia, e explicou o atraso – foram 68 dias até a entrega das respostas.
Segundo Santos, o IC recebeu um ofício com nomes de peritos que não poderiam participar da investigação. "A lei é clara, quem deve responder aos questionamentos é o perito que esteve em campo. No ofício não constava o nome do perito que esteve no local, Sérgio Almeida. O próprio promotor André Rabelo esteve aqui e conversou com o gestor do Instituto de Criminalística. Os dois concordaram em fazer a alteração do ofício, isso demanda tempo. Além disso, no pedido de reprodução simulada tinha que ser com pessoas que não participaram anteriormente. Fora isso, laudos de repercussão como esse passam por uma equipe que analisa as respostas, antes de ser entregue", declarou o presidente da Apoc.
Os questionamentos foram aprovados pela Justiça e pelo Ministério Público de Pernambuco e entregues ao Instituto de Criminalística no dia 22 de março. As respostas deveriam ser encaminhadas em até 30 dias, no entanto o material só ficou pronto 68 dias depois. Procurado pelo G1, o promotor André Rabelo afirmou que as questões com o IC estavam sanadas e que não havia o que comentar.
A delegada Vilaneida Aguiar, responsável pelo inquérito, ainda não teve acesso às respostas, mas garantiu que as investigações não param. "Estou marcando com o promotor. Recebendo as respostas das indagações, vou fazer mais ouvidas. Pretendo o quanto antes concluir o inquérito, espero até julho mandar para a Justiça", disse ela, que ainda não descarta nenhuma possibilidade sobre a morte.
Questionamentos
Como os peritos não estariam autorizados a comentar as investigações, coube a Santos pontuar e defender, mais uma vez, que o caso seria de suicídio. "Todos os quesitos do promotor foram respondidos, quase todas as respostas com certeza estavam no laudo. Os hematomas na cabeça de Sérgio Falcão foram ocasionados no momento da queda. Ele caiu lateralmente, bateu com a cabeça em um armário que estava próximo e caiu de frente no chão, daí os hematomas", apontou Santos.
O presidente da Apoc não comentou sobre o questionamento da delegada a respeito da reprodução simulada, feita uma semana após a morte do empresário. Segundo Vilaneida, a reprodução apresenta diferenças entre as declarações, a encenação e as imagens gravadas pelas câmeras de segurança do edifício. Santos explicou por que não foi feita uma nova simulação. "Não havia necessidade, mas além disso, o senhor Jaílson [Melo, ex-segurança do empresário e que presenciou a morte] se recusou a participar", detalhou.
O presidente da Apoc comentou também a ausência de um teste residuográfico nas mãos do ex-policial militar e segurança de Falcão. "Em momento algum foi pedido esse exame. O IC só pode agir se for provocado", apontou Santos. A delegada Vilaneida Aguiar explicou que não pediu o exame porque não seria necessário. "Todo mundo sabe, depois de seis dias é praticamente impossível detectar chumbo nas mãos. Como ele recolheu a arma do chão, já poderia apontar chumbo. Não poderia usar esse exame nem para ajudar em um pedido de prisão", afirmou.
"Órfãos da Falcão"
Em Maceió, a falência da Construtora Falcão prejudica cerca de mil alagoanos. Os valores dos imóveis, sem atualização, são estimados em R$ 300 mil, mas para concluir as obras os mutuários vão gastar um valor bem maior. A construtora acumula cerca de R$ 60 milhões em dívidas e uma lista extensa de credores entre funcionários, fornecedores, compradores e bancos. A empresa começou a enfrentar dificuldades há mais de um ano, e a situação piorou com a morte do dono, o empresário Sérgio Falcão, em agosto do ano passado. Com as obras atrasadas, desde antes da morte do proprietário da empresa, os mutuários já haviam entrado na Justiça com causas individuais e coletivas, requerendo o direito de assumirem as obras e assim poderem concluir as construções com outra incorporadora.
No Recife, cerca de 200 pessoas que investiram dinheiro para deixar de morar de aluguel também foram prejudicadas. Eles também entraram na Justiça para tentar reaver a quantia investida.
Entenda o caso
A morte de Sérgio Falcão aconteceu em agosto de 2012 e ainda existe dúvida se ele cometeu suicídio ou se foi assassinado. O empresário tinha 52 anos e vinha atravessando sérios problemas financeiros em sua construtora. Ele foi encontrado morto no apartamento onde morava no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife.
Os peritos da polícia confirmaram que ele foi baleado no céu da boca e morreu na hora. De acordo com a família Falcão, não há possibilidade de o empresário ter cometido suicídio. A hipótese dos parentes aponta que ele teria sido assassinado por conta de dívidas.
Jaílson Gomes de Melo, ex-policial militar e ex-segurança de Falcão, estava com o empresário na hora da morte e foi filmado pelas câmeras de segurança do Edifício 14 Bis, onde Falcão morava, saindo do apartamento com uma arma, momentos depois da morte. De acordo com a defesa, Falcão teria pegado a arma na cintura de Jaílson e se suicidado.