A novela “Amor à Vida”, exibida pela TV Globo, está mostrando um momento importante na vida de muitos casais gays: a hora de aumentar a família. Na trama, o empresário Nico ( Thiago Fragoso ) e o advogado Eron ( Marcello Antony ) pedem para a amiga Amarilys ( Danielle Winits ) gestar o filho deles, que será gerado por meio de inseminação artificial, com um óvulo doado e o esperma de um dos dois.
Empresários que vivem em Recife, Mailton Albuquerque , 36, Wilson Albuquerque , 40, passaram na vida real por uma situação semelhante à representada na novela. Em 2011, o casal resolveu concretizar o desejo de ter um filho, algo que eles discutiam há alguns anos.
Wilson diz que os anos de maturação da ideia da paternidade foram necessários. “Nós nos autoquestionamos para saber se estávamos preparados para amar e educar uma criança”, lembra o empresário, que consultou toda a família sobre o projeto. “A relação tinha que estar bem, planejar tudo também era fundamental”, acrescenta Mailton.
Nessas conversas, também foi definido quem teria o esperma usado para fecundar o óvulo. “Escolhemos o Mailton e isso não causou nenhum desgaste na relação”, conta Wilson, revelando ainda que o parceiro tinha uma necessidade mais urgente em ser pai.
Com a escolha feita, o casal procurou um banco de óvulos. “Nós escolhemos uma doadora apenas pelas características físicas dela, não é possível ver fotos da pessoa e nem conhecê-la, tudo e feito de maneira anônima”, relata Mailton.
A legislação brasileira proíbe explicitamente o contato entre os doadores de esperma ou óvulo com os pais ou mães que farão o processo de reprodução assistida. Da mesma maneira, as células não podem ser comercializadas.
No Brasil, diferentemente de países como os Estados Unidos, também é proibido a chamada ‘barriga de aluguel’, pelo qual um mulher cobra dinheiro para gestar o filho de alguém. Tudo deve ser feito de maneira voluntária, numa processo conhecido como ‘barriga solidária’.
Mailton pediu que uma prima emprestasse o seu útero. “Conversamos muito e chegamos à conclusão de que seria a pessoa ideal. Ela sempre acompanhou nossa relação de perto e já tinha filhos, algo que é obrigatório nestes casos”, observa o empresário.
Aliás, a situação que acontece na novela, de uma amiga emprestar o útero, é uma exceção, que precisa de autorização do Conselho Federal de Medicina (CFM). O órgão que regula o trabalho dos médicos determina que a ‘barriga solidária’ seja sempre de uma mulher com até quarto grau de parentesco de um dos pais ou mães.
O casal acompanhou de perto toda a gestação da filha Maria Teresa , que nasceu em março de 2012, para alegria dos pais ansiosos pela sua chegada. A menina, que está com pouco mais de um ano, deve ganhar em breve uma irmã ou irmão. “Como na novela, queremos que uma amiga carregue nosso filho. Entramos com processo e estamos aguardando a autorização do CFM”, explica Mailton. Desta vez, Wilson será o pai biológico da criança.
Amor supera a biologia
A reprodução assistida fica um pouco mais simples quando o casal é formado por duas mulheres, como foi o caso da promotora de justiça Mônica Rodriguez Cuneo , 41, da advogada Renata Souto Perdigão Granha, 42. Juntas há 23 anos, elas tiveram os dois filhos, Gabriel, 5, Julia, 3, por meio deste processo.
“A vontade de ter um filho já tinha surgido antes do momento de optar pela inseminação. Ambas estávamos com 35 anos e pensávamos em adotar, mas nos indicaram um especialista em reprodução assistida e decidimos tentar”, recorda Mônica, que gestou as duas crianças. “Nunca pensamos que esse filho era só meu, ele sempre foi nosso, independente de eu ou a Renata engravidar. A biologia nunca esteve acima do amor”, analisa a promotora.
Nas duas gestações, o processo foi rápido, com os óvulos de Mônica sendo fecundados por espermas de doadores anônimos. “Engravidei de primeira do Gabriel, com a Julia aconteceu o mesmo, uma tentativa bastou”, narra a promotora.
O processo de reprodução assistida não é barato, como esclarece o obstetra especialista em reprodução assistida Paulo Gallo, diretor-médico do Vida, um centro de fertilidade da Rede D’Or, no Rio de Janeiro. “Entre medicamentos e custos clínicos, o tratamento custa em média R$ 18 mil”, avalia Gallo, dizendo ainda que os casais homossexuais representam 5% no total de sua clientela.
Na rede pública, ainda são poucos centros que realizam a reprodução assistida gratuitamente, nos estados de São Paulo, Distrito Federal, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Goiás.