A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) abriu processo administrativo contra pelo menos 198 alunos por participação em um trote considerado racista aplicado a calouros de direito no dia 15 de março. Segundo a instituição, foi formada uma comissão que terá 60 dias para analisar o caso e definir se os alunos serão punidos.
De acordo com o vice-diretor da Faculdade de Direito, Fernando Gonzaga Jayme, a comissão vai ouvir todos os estudantes envolvidos no trote, incluindo calouros, veteranos do 2º período e membros do Centro Acadêmico – estes últimos teriam vendido bebidas alcoólicas durante o ato. Até o término da investigação, os alunos continuarão a frequentar as aulas normalmente. Caso seja confirmada a responsabilidade em um suposto ato de racismo, eles podem ser expulsos da universidade.
"A punição, se houver, será de acordo com a conduta de cada um, já que o processo tem como finalidade definir qual foi a responsabilidade de cada aluno", disse o diretor da faculdade. Ele ainda frisou que todos os estudantes terão "amplo direito a defesa".
O trote na Faculdade de Direito foi considerado racista depois de duas fotos terem sido publicadas nas redes sociais. Na primeira imagem, uma jovem está pintada de preto com um cartaz de papelão escrito “Caloura Chica da Silva” – em referência à escrava que viveu no século 18 e entrou para a história brasileira. A moça está acorrentada pelas mãos e um rapaz sorri enquanto segura a corrente.
Na segunda foto, um estudante está pintado de tinta vermelha e amarrado a uma pilastra enrolado por uma faixa de plástico utilizada em isolamento de acessos. Ao lado e também sorrindo, três estudantes fazem um gesto nazista, com a mão direita estendida para a frente. Um deles chegou a colocar um bigode postiço semelhante ao que usava o alemão Adolf Hitler.
O número de estudantes envolvidos foi apurado por uma comissão de sindicância, aberta depois da repercussão do trote. Alguns alunos ainda são apontados por vender bebida alcoólica durante o trote.
Centro acadêmico diz que UFMG tenta criminalizar movimento estudantil
Em nota, o Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP) emitiu uma nota para criticar a decisão da universidade de abrir um processo contra os estudantes. "Esse tipo de medida genérica encobre a realidade sobre os fatos, já que visa punir os estudantes pelo trote ou pela venda de cerveja e não objetiva punir a opressão, a afronta aos Direitos Humanos que ocorreu. O CAAP defende que sejam tomadas as devidas medidas pela Direção e Reitoria com o objetivo de reverter a cultura opressora da Faculdade", diz a nota, ao ressaltar que a atitude da direção da instituição "cria uma atmosfera de criminalização dos movimentos sociais".
Os estudantes afirmam que o processo não individualiza a conduta de cada estudante no ato – classificado por eles próprios como reflexo de uma cultura, machista, racista e homofóbica – e ainda dizem que a universidade sempre se omitiu frente aos problemas verificados.