Ansiedade nem sempre é prejudicial

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Contrariamente ao senso comum, é muito bom sentir ansiedade. É por causa deste estado emocional normal que nos levantamos da cama pela manhã, como se houvesse um alarme interior. E que, ao longo do dia, quando a ansiedade aumenta, melhoramos nosso desempenho. Ainda assim, existe um limite que, quando ultrapassado, provoca prejuízos danosos para o corpo e a mente.
Esta reação do organismo vem sendo aperfeiçoada há milênios e é necessária para a nossa sobrevivência. “É um mecanismo cerebral de alarme, de proteção, de fuga e de luta. Por causa da ansiedade, agimos quando um perigo se manifesta”, diz Bernard Rangé, professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRJ, que trabalha com terapia cognitiva comportamental.

Em nível moderado, a ansiedade tira a pessoa do risco e dá energia para que ela tome as medidas adequadas. Como acontece quando a pessoa perde o emprego, por exemplo, e se vê em meio a uma crise de ansiedade. “Não dá para dizer que uma pessoa tem transtorno ansioso baseado em apenas uma única crise gerada por uma situação difícil pela qual esteja passando”, explica Márcio Bernik, coordenador do Programa de Ansiedade do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas).
Mas, se toda hora você acha que vai morrer de ataque cardíaco, tem muito medo de perder o controle, se sente sufocado ou acha que vai enlouquecer é melhor ligar o alerta. “Ao deixar de ser útil e funcional, a ansiedade causa sofrimento excessivo, e/ou incapacitação, e/ou prejuízo na competição físico-social”, afirma Bernik.

De acordo com Ricardo Torresan, psiquiatra do Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Universidade Estadual Paulista (Unesp), além do sofrimento muito intenso, dois outros fatores indicam que a ansiedade atingiu um grau prejudicial e patológico: desproporção entre o risco real e o avaliado e incapacitação gerada por esse quadro. “Ela tira a liberdade da pessoa e a incapacita na vida profissional ou afetiva”, prossegue Torresan.
Megacidades aumentam crises de ansiedade
Mais comum do que se imagina, essa sensação de angústia acomete grande parte dos paulistanos, como afirma Laura Helena Andrade, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq), que liderou uma pesquisa realizada na região metropolitana de São Paulo, entre 2009 e 2012. O estudo revelou a associação entre a vida nas chamadas megacidades e a incidência de transtornos psiquiátricos. “Cerca de 30% dos paulistanos apresentaram um transtorno mental; sendo que os transtornos de ansiedade foram os mais comuns, afetando ao redor de 20% das 5.037 pessoas pesquisadas”, ela conta.
Quando ameaçadora, a ansiedade faz com que a pessoa passe a se preocupar excessivamente com questões da vida diária. “Ela acha que seu jeito está certo, mas uma hora o corpo avisa que não está aguentando mais tanta pressão”, assinala Rangé. Diferente da síndrome do pânico, que vem rápido e vai embora devagar, Bernik explica que a ansiedade é flutuante, aumenta e diminui ao longo do dia. “No medo, os riscos são mais próximos. Já na ansiedade o objeto causador do mal está distante. E a eminência de destruição gera o pânico”, completa.
Isso porque a mente voa e essa é uma das principais razões do transtorno ansioso. “Quando a gente se ocupa de coisas que vão acontecer no futuro, deixa de atuar no presente”, diz o psicólogo e hipnólogo Paulo Giraldes. “A mente se divide entre a ansiedade e o controle em uma escala de zero a dez. Se a sua a ansiedade é dez, seu controle é zero.”

Todos nós fazemos um esforço de adaptação aos estímulos estressores, como trânsito, violência, poluição, entre outros. Se não nos adaptamos, ou confrontamos ou fugimos. “O ser humano tem um comportamento de integração de dinâmica dos aspectos físico, psíquico e social. Isso é saúde, a integração de todos os âmbitos. Quando um deles é sobrecarregado, a pessoa adoece”, atesta Denise Pará Diniz, psicóloga e coordenadora do Núcleo de Qualidade de Vida da Escola Paulista de Medicina da Unifesp.

Aprenda a se ouvir
Para Márcia de Luca, especialista em Ióga e Ayurveda, a vida acelerada nos afasta da nossa verdadeira essência. “Tem um ditado indiano que diz que toda doença é saudade do nosso lar, do âmago do nosso ser. Só quando a gente se desconecta do exterior e vai para dentro de nós mesmos, percebemos o quão perfeitos e fortes somos”, ressalta Márcia. Essa volta também nos permite ficar mais alerta aos sinais que o corpo dá quando a ansiedade foge do controle. “Os sintomas físicos são ondas de calor e de frio, náusea, vômito, amortecimento, formigamento, suor excessivo nas mãos, boca seca, aperto no peito e falta de ar”, resume Bernard Rangé.
Segundo Ricardo Torresan, um transtorno de ansiedade tem aspecto genético; certamente um parente próximo apresenta o mesmo quadro. Dependendo da intensidade, este pode ser tratado com técnicas não farmacológicas. Caso de ansiedade gerada por medos específicos, como o de altura, para o qual é recomendada a terapia comportamental. “Não tem que dar remédio para 1/3 da população, é preciso prudência na hora de medicar”, afirma Bernik. Quando realmente necessária, a medicação promove alívio rápido, mas não necessariamente um paciente ansioso precisará tomar remédio durante toda a vida. “Pode ser temporário até que o quadro desapareça”, completa Torresan.

De acordo com Laura, ter cuidados na vida diária, criar momentos de descanso, fazer uma pausa na hora do almoço, ter horas adequadas de sono, não consumir muitas bebidas estimulantes e maneirar no consumo de álcool ajudam a reduzir a ansiedade. Ióga, exercícios respiratórios e massagem também são aconselhados por Márcia. “Uma atitude que nos ajuda a liberar a ansiedade é vivenciar o momento presente. Procure fazer uma coisa de cada vez. E quando se sentir ansioso, aprofunde a respiração.” Além disso, praticar uma atividade física moderada e regular, e valer-se de técnicas de relaxamento e meditação são unanimidade entre os especialistas para produzir alívio e diminuir a intensidade da ansiedade.

Fonte: IG

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