Bancos devem diminuir oferta de crédito

Agência BrasilAlexandre Tombini

Alexandre Tombini

Entre primeiro de outubro deste ano e 2022, o sistema financeiro brasileiro deverá passar por um longo processo de mudança. A crise financeira de 2008 deixou o mundo inteiro em estado de alerta e agora é vez do Brasil se adequar ao novo modelo internacional.

Esse novo modelo atende aos Acordos de Basileia III que, em linhas gerais, obrigarão bancos de todo o mundo a aumentar suas reservas de capital de boa qualidade – de forma a ampliar o lastro para as operações financeiras. Com isso, balanços deverão ser reorganizados e, naturalmente, os produtos oferecidos para os clientes vão passar por mudanças.

As mudanças poderão recair principalmente sobre a disponibilidade de crédito – uma vez que este foi o ponto central da crise de 2008. Em outras palavras, pode ser que os bancos tenham menos dinheiro para emprestar.

Na última semana, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que "a adoção do Basileia III terá impacto neutro na oferta de crédito do País". Este prognóstico, no entanto, não é compartilhado por todos os observadores do mercado.

Marcus Manducca, executivo de risco e regulação da PwC, acredita que a exigência de aumento de reserva poderá reduzir a disponibilidade de crédito no País. “As regras prudenciais prevêem que em tempo de bonança, as instituições financeiras recolham seu capital do mercado para ampliar as reservas”, explica. Por isso, a hipótese de aumento dos juros sobre qualquer tipo de crédito – do atacado à pessoa física – também não deverá ser descartada.

Cenário econômico dará o tônus

Manducca, no entanto, diz que a maior ameaça ao custo crédito não está somente na adoção do Basileia III, mas na relação entre este novo modelo e uma economia em ritmo de desaceleração no Brasil.

O cenário internacional deverá também ditar as regras desse mercado. “O novo modelo cria uma tendência natural de aumento do custo de capital. Se não houver retomada da economia, a pressão será muito maior”, lembra. “Se houver recuperação, haverá maior liquidez, o que tende a manter o equilíbrio no mercado.”

O executivo lembra que o processo de adequação ocorrerá em todo o mundo o que deve criar um mercado “demandante”, no qual a procura é maior que oferta – especialmente se a recuperação das economias não for satisfatória.

No entanto, a perspectiva de Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, é positiva. “Dentro da tendência que existe hoje, daqui três anos o mercado estará mais ajustado e deve criar menos pressão do mercado de crédito”, antevê.

Bancos quase prontos

Os impactos deverão levar algum tempo para chegar ao bolso do consumidor final. Com um dos sistemas financeiros mais regulados do mundo, o Brasil já está muito próximo da adequação ao Basiléia III. Nos próximos três anos, as adaptações serão poucas. “Não devemos ser afetados, pois já temos um nível de capitalização mais alto”, afirma Alexandra Chaia, professor do curso de Economia do Insper.

Para Chaia, os bancos tendem a sofrer mais com mudanças no modelo de tributação e possíveis alterações na política de juros.

Fonte: IG

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