No mesmo mês em que o Brasil comemora sua Independência, a cachaça brasileira também faz o mesmo. Nesta sexta-feira, 13, é comemorado nacionalmente o Dia da Cachaça. Produzida nos históricos engenhos de cana-de-açúcar, a bebida passou por dificuldades para ser comercializada no Brasil por competir com produtos portugueses – como, por exemplo, o vinho do porto -, na época da colonização. Apesar da industrialização, hoje em Alagoas, são poucos os engenhos que preferem manter viva a fabricação artesanal do produto.
Historicamente, a economia alagoana sempre se destacou no trabalho de agricultura, e hoje, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), o Estado é um dos cinco principais produtores do país.
Era nos antigos engenhos de açúcar – antigas unidades industriais especializadas na transformação da cana em açúcar, melaço ou cachaça – que a famosa bebida ‘nasceu’ no Brasil.
Os engenhos de açúcar alagoano e seu modelo ‘retrô’ de produção
Os portugueses utilizavam os engenhos – muitos deles estão sendo substituídos por usinas com avançadas tecnologias industriais – para trabalhar a matéria da cana-de-açúcar. Hoje, em Alagoas, essas unidades industriais estão em extinção, mas não significa que esse ‘charme’ de produzir acabou.
Uma prova disso é a existência do histórico Engenho Caraçuípe, localizado no município de Campo Alegre-AL. A antiga unidade industrial, que funciona desde 1933, e que está completando 80 anos, está a dias do lançamento de uma cachaça da melhor qualidade, com o objetivo de fazer com que a produção alagoana de cachaça seja destaque em cenário nacional e internacional.
A emancipação da cachaça
O professor pernambucano e especialista em cachaças, Jairo Martins, explica que a proibição da aguardente aconteceu no ano de século XVII, devido à concorrência com o vinho de porto e a bagaceira (uma aguardente de vinho de origem portuguesa), a cachaça brasileira foi proibida pelos portugueses de ser comercializada no Brasil.
Jairo complementa que a proibição durou 12 anos e foi vencida porque a coroa portuguesa não conseguiu controlar a fiscalização.
"A proibição, que aconteceu de 1649 até 1661, de nada valeu, pois começaram a surgir vários alambiques clandestinos no Brasil. Devido a isso, a proibição da bebida foi revogada em 13 de setembro de 1661. A data, que simbolizou a “libertação da cachaça”, foi escolhida como o Dia Nacional da Cachaça", continuou Jairo.
Proveniente da cana-de-açúcar, a cachaça nasceu nos engenhos brasileiros, muitos deles concentrados nas regiões litorâneas do país. De acordo com o historiador Rainer Souza, no processo de fabricação do açúcar, os escravos realizavam a colheita da cana e, após ser feito o esmagamento dos caules, cozinhavam o caldo até se transformarem em melado.
“Nesse processo de cozimento, era fabricado um caldo mais grosso, chamado de cagaça. Tal hábito fazia com que a cagaça fermentasse com a ação do tempo e do clima, produzindo um liquido fermentado de alto teor alcoólico”, explicou Rainer.
Produção da cachaça nos engenhos
Tudo começa a colheita. Quando a cana-de-açúcar é recolhida, ela passa pelo primeiro processo da produção da cachaça: a moagem. Esse procedimento acontece para a extração do caldo, que é filtrado para fica livre do bagacilho e outras impurezas prejudiciais à fermentação (segunda fase do processo).
Em seguida, o caldo é enviado para a fermentação. Em grandes torres de resfriamento, com a temperatura controlada, o açúcar do caldo será transformado em álcool. Esse processo é feito com fermento e substratos naturais resultando num mosto fermentado (vinho).
Completada a fermentação obtém-se o vinho que segue imediatamente para as dornas (grandes toneis) de decantação, onde é feita a separação dos vestígios do fermento que serão reutilizadas na fermentação seguinte. Esta etapa garante um vinho puro e aromas inconfundíveis, isento de excessos de fermentos e partículas de substratos que flutuam durante a fermentação.
O quarto passo é a destilação, que é feita através de alambiques, o que caracteriza a produção artesanal. O penúltimo passo é a filtragem – mais uma limpeza -, feita para garantir uma bebida com mais qualidade.
Por fim, a cachaça, já pronta é armazenada em tonéis de madeira. E assim se encerra todo o processo da fabricação da cachaça artesanal alagoana.