Apesar de toda controvérsia, nos Estados Unidos, em torno da efetividade da mamografia, o jornal Cancer traz um novo estudo que revela que mais de 70% das mortes por câncer de mama num grupo de 7.000 pacientes ocorreram em mulheres que não se submeteram regularmente ao exame mamográfico. O estudo reforça a principal característica desse exame – principalmente para quem tem entre 40 e 49 anos – que é salvar vidas. Entre 609 mortes confirmadas, apenas 13% ocorreram em mulheres acima dos 70 anos e 50% em pacientes com menos de 50 anos. “Se metade das mortes aconteceram em pacientes que não chegaram a completar 50 anos, isso indica que provavelmente poderíamos prevenir essas mortes começando a indicar a mamografia a partir dos 40 anos, uma vez ao ano”, diz Blake Cady, professor emérito da Harvard Medical School, em Boston. “Fiz minha residência nos anos 60 e pude ver com meus próprios olhos a diferença dramática nas taxas de mortalidade por câncer de mama depois que a mamografia foi introduzida”.
Na opinião de Vivian Schivartche, radiologista do CDB Premium, em São Paulo, a mamografia ainda é o padrão-ouro em termos de diagnóstico precoce de câncer de mama, devendo ser realizada anualmente a partir dos 40 anos. A médica diz que, hoje em dia, a mamografia tomográfica representa um avanço ainda mais significativo no diagnóstico precoce do câncer mamário, aumentando em média 12% a detecção da doença em relação à mamografia digital e diminuindo o número de reconvocação de mulheres para imagens adicionais.
O equipamento de mamografia tomográfica, ou tomossíntese, produz 15 imagens sucessivas, cada uma em um ângulo diferente, ao mapear a mama com um percurso em forma de arco. Essa informação é reconstruída em imagens de um milímetro de espessura. Depois disso, as imagens seguem para uma estação de diagnóstico. O conceito é simples: o que está ‘escondido’ atrás do tecido fibroglandular (denso) em uma imagem deve estar visível na próxima, num ângulo ligeiramente diferente. “Esse exame é um avanço e permite ver o câncer de uma forma nunca antes possível com a mamografia bidimensional, detectando tumores menores de um centímetro”, diz a especialista.
Um dos problemas mais comuns da mamografia convencional é a superposição de estruturas em planos diferentes da mama, criando imagens que podem simular lesões suspeitas. Com a tomossíntese, a superposição dos tecidos é eliminada. “Há melhor definição das bordas das lesões, o que é fundamental para a definição de seu aspecto benigno ou maligno, possibilitando obter melhor detecção de lesões sutis e fornecendo excelente localização espacial. Sendo assim, sabemos em qual plano a lesão é detectada”, explica a especialista.
De acordo com Vivian Schivartche, mesmo com a mamografia, diagnosticar um câncer de mama está longe de ser uma tarefa simples. Como existem vários tipos de tumor, ele pode se apresentar de diferentes formas. Alguns se apresentam como calcificação, outros como nódulos, outros infiltram o tecido normal de uma forma tão sorrateira que são difíceis de ser distinguidos pela mamografia ou por outros métodos, como, por exemplo, o ultrassom. Alguns nódulos malignos têm as mesmas características dos benignos nos exames de imagem. Nessas situações, a retirada de material para análise (biópsia) é indicada. A velocidade de crescimento dos tumores também é outro fator. Os de crescimento rápido aparecem no intervalo entre as mamografias anuais. “Vale ressaltar que os métodos de imagem têm o papel de ‘encontrar’ a lesão, muitas vezes podendo sugerir o seu caráter maligno ou benigno. Mas apenas a biópsia pode ‘diagnosticar’ o câncer”.