Gravação mostra conversa de mãe e padrasto após sumiço de Joaquim

Do G1Do G1

Uma gravação obtida com exclusividade pelo Fantástico (confira o vídeo ao lado) mostra uma conversa entre a psicóloga Natália Ponte e Guilherme Longo, mãe e padrasto do menino Joaquim, encontrado morto após desaparecer em Ribeirão Preto (SP), na manhã em que a polícia soube do sumiço. Sem que Natália e Longo soubessem, o áudio foi gravado por dois policiais militares que foram à casa da família na manhã seguinte ao desaparecimento, em 5 de novembro.

No diálogo, Longo revela à mãe do menino que estava preocupado com a desconfiança dos PMs e Natália questiona o marido se o sumiço está relacionado ao fato de ele ter ido buscar drogas na madrugada anterior ao desaparecimento. Ao final, ela chora e o padrasto tenta acalmá-la.

A criança de 3 anos morava com a mãe Natália Ponte e o padrasto Guilherme Longo no Jardim Independência, zona norte de Ribeirão. Joaquim desapareceu em 5 de novembro. O corpo foi encontrado cinco dias depois, no Rio Pardo, em Barretos (SP), a 110 quilômetros de sua casa.
Os legistas não encontraram água no aparelho respiratório e concluíram que o menino não morreu por afogamento. Também não acharam nenhum ferimento que pudesse ter sido fatal e não conseguiram apontar a causa da morte. A Justiça decretou a prisão temporária da mãe e do padrasto.

PMs gravaram conversa
A gravação de uma conversa mantida entre Longo e Natália, feita sem permissão do casal e sem autorização da Justiça por dois PMs na manhã em que a polícia soube do caso, traz novos dados às investigações. O áudio foi entregue ao delegado Paulo Henrique Martins de Casto, que investiga a morte de Joaquim.
Os policiais disseram que decidiram gravar a conversa, pois ficaram preocupados ao saber que Joaquim era diabético e estava sem a insulina havia algumas horas. “Ele podia estar escondido em algum lugar, precisava de medicamento, de remédio, foi o motivo de a gente ter gravado a conversa dos dois”, diz o sargento João Augusto Brandão, um dos que decidiram registrar o diálogo.

De acordo com Ricardo Boutelet, outro policial a atender a ocorrência na manhã após o desaparecimento, o gravador foi escondido na cama do casal sem que ninguém visse. “Enquanto Natália e Guilherme conversavam comigo, sentados na cama, eu estava em pé na frente deles. O sargento foi procurar o celular que o Guilherme falou que tinha perdido e deixou [o gravador] lá no edredom. Saímos do quarto e eles ficaram conversando”, afirma.

O diálogo
Mesmo com muito ruído ambiente, a gravação entregue à polícia esta semana permite compreender diversos trechos da conversa com clareza. No início, Guilherme aparenta estar confuso com o desaparecimento de Joaquim: “Estava deitado aqui. Não é possível.” Ele também fala da desconfiança da polícia. “Não sei o que aconteceu. Não é possível. Não é possível o moleque ter sumido assim. O pior é que está todo mundo desconfiando de mim, amor.”

Natália Ponte tenta entender o sumiço do filho e questiona Guilherme: “Será que ele não saiu atrás de você de madrugada?” Em seguida, Guilherme Longo – que à polícia contou ter saído, na noite do desaparecimento, para tentar comprar droga – nega a possibilidade: “Amor, eu tranco tudo, o portão, amor, tranco tudo. Você acha que se o Joaquim tivesse saído atrás de mim, eu não veria? Não. Pensa. Não faz sentido algum isso.”

Natália volta a questionar o marido sobre a saída dele para comprar drogas. “Ontem então você não conseguiu comprar?”, pergunta. Ele nega e sugere que sejam procuradas impressões digitais dentro da casa para encontrar um suspeito. “Não! Sabe o que acho que tem que fazer? Ver se tem digital, ver se tem alguma coisa. Como alguém ia entrar aqui e não ia ter nada?”, responde.

Ao final do diálogo, a mãe chora e, desesperada, diz: “Eu quero ele!”. O marido ainda tenta acalmá-la e garante que a criança será encontrada. “Calma, ele vai aparecer, amor. Ele vai aparecer. A gente vai atrás dele, ele vai aparecer amor. A gente precisa ficar com a cabeça boa para achar ele.”
Prova ilegal
O promotor diz que os áudios não servirão como prova no inquérito pelo fato de terem sido gravadas de maneira ilegal. “Se houvesse uma autorização judicial pra gravação daquela conversa e também se os interlocutores tivessem dado autorização, aí sim. Mas da forma como ela foi obtida não tem valor legal”, explica o promotor de Justiça Marcus Túlio Alves Nicolino.

O delegado solicitou a transcrição completa do diálogo, mas alega que a gravação não desvenda o crime. Mesmo sendo considerada uma prova produzida de maneira ilegal, ele justifica que a intenção dos dois PMs foi buscar elementos para identificar o paradeiro da criança. “Demonstra na verdade ali a reação do casal. Foram abordados logo no início, logo que, como me disseram, descobriram o desaparecimento do menino Joaquim. Então é importante pra gente denotar essa reação do casal. Apenas nesse sentido. Não traz nenhum diálogo interessante no que diz respeito à morte do menino”, afirma Martins de Castro.

Segundo Antonio Carlos de Oliveira, advogado de Guilherme Longo, o áudio não atrapalha no trabalho de defesa do suspeito, mesmo que fosse utilizada no inquérito. “Entende-se que é uma prova ilícita. Mas ao ver da defesa, ainda que utilizada no inquérito, em nada atrapalha a defesa, porque não compromete em nada em relação ao Guilherme. Em todos os depoimentos prestados pelo Guilherme até o presente momento ele nega a autoria do crime e está convicto que a justiça será feita e ele vai provar que é inocente”, diz.

Procurado, o advogado de Natália Ponte não quis comentar a gravação.

Fonte: Do G1

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