Déficit das contas externas sobe em 2014 e é o maior em 13 anos

As contas externas brasileiras fecharam 2014 com o pior resultado em 13 anos, segundo números divulgados pelo Banco Central nesta sexta-feira (23). O chamado déficit em transações correntes – que engloba a balança comercial, os serviços e das rendas, um dos principais indicadores do setor externo – somou US$ 90,9 bilhões em todo ano passado, o equivalente a 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB).

Embora o resultado em dólares (US$ 90,9 bilhões) seja o maior da série histórica do Banco Central, que tem início em 1947, os economistas avaliam que a melhor comparação, para este indicador, é a porcentagem do PIB. Neste caso, o resultado negativo da conta de transações correntes de 2014 (4,17% do PIB) é o maior desde 2001 – quando somou 4,19% do PIB.

Para 2015, ainda de acordo com o Banco Central, o déficit em transações correntes deve ter queda, mas ainda permanecerá elevado para padrões internacionais. A expectativa da instituição é de que o resultado negativo some US$ 83,5 bilhões neste ano, o equivalente a 3,79% do PIB.
Comparação com outros países
Acima de de 4% do PIB, o déficit brasileiro, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), é um dos maiores do mundo.

Segundo previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), o déficit em conta corrente do Brasil, em todo ano passado, deve ter ficado acima de países como Canadá (-2,6% do PIB), Chile (-1,8% do PIB), China (superávit de 1,8% do PIB), Colômbia (-3,85% do PIB), França (-1,4% do PIB), Alemanha (superávit de 6,2% do PIB), Índia (-2,07% do PIB), Itália (superávit de 1,2% do PIB), México (-1,94% do PIB), Paraguai (superávit de 1% do PIB), Portugal (superávit de 0,6% do PIB), Rússia (superávit de 2,7% do PIB), Espanha (superávit de 0,1% do PIB), Estados Unidos (-2,5% do PIB) e Venezuela (superávit de 7,5% do PIB).

Por outro lado, deve ter ficado abaixo de nações como Peru (-5,22% do PIB), Reino Unidos (-4,22% do PIB), África do Sul (-5,7% do PIB), Turquia (-5,8% do PIB) e Uruguai (-6,5% do PIB). As previsões do FMI, as últimas disponíveis, foram feitas em outubro do ano passado.

Componentes das contas externas
Segundo o BC, o déficit da balança comercial brasileira influenciou a piora do resultado da conta de transações correntes. Em 2014, a balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 3,93 bilhões, o pior resultado para um ano fechado desde 1998, quando houve saldo negativo de US$ 6,62 bilhões.

De acordo com o governo, a piora do resultado comercial no ano passado aconteceu, principalmente, por conta da queda no preço das "commodities" (produtos básicos com cotação internacional, como minério de ferro, petróleo e alimentos, por exemplo); pela crise econômica na Argentina – país que é um dos principais compradores de produtos brasileiros – e pelos gastos do Brasil com importação de combustíveis.

Além da balança comercial brasileiras, dentro da conta de transações correntes também estão as rendas, que incluem, por exemplo, as remessas de lucros e dividendos ao exterior, e os serviços – que englobam as viagens de brasileiros ao exterior, seguros e aluguel de equipamentos, entre outros. No caso das rendas, o BC informou que foi registrado um déficit de US$ 40,27 bilhões em todo ano passado, contra o resultado negativo de US$ 39,77 bilhões em 2013.

A conta de serviços, por sua vez, que engloba os gastos de brasileiros no exterior, registrou um déficit de US$ 48,66 em 2014, contra o resultado negativo de US$ 47,09 bilhões em 2013.

Investimento estrangeiro direto
O Banco Central informou ainda que o ingresso de investimentos no Brasil somou US$ 62,49 bilhões em todo ano passado. Com isso, os investimentos recuaram em relação ao patamar de 2013 (US$ 67,49 bilhões) e não foram suficientes, novamente, para "financiar" em sua totalidade o déficit das contas externas neste ano – algo que já havia acontecico em 2013 e que, antes disso, não ocorria desde 2001.

Para 2015, a previsão da autoridade monetária é de que os investimentos estrangeiros somem US$ 65 bilhões, não sendo suficientes, outra vez, para financiar o déficit em conta corrente do próximo ano – previsto em US$ 83,5 bilhões.

Financiamento do déficit externo
Quando o déficit não é "coberto" pelos investimentos estrangeiros, o país tem de se apoiar em outros fluxos, como ingresso de recursos para aplicações financeiras, ou empréstimos buscados no exterior, para fechar as contas.

Economistas alertam, entretanto, que em um cenário de crescimento menor do PIB, de indicadores ruins das contas públicas e externas brasileiras, a atratividade da economia brasileira também é menor, o que pode significar um pouco mais de dificuldade no financiamento do déficit das contas externas.

O governo tem lembrado, entretanto, que as reservas internacionais brasileiras, acima de US$ 370 bilhões, conferem tranquilidade na administração das contas externas brasileiras.

Fonte: G1

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