O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo processo da Operação Lava Jato em primeira instância, enviou para o Supremo Tribunal Federal (STF) documentos obtidos pela Polícia Federal que apontam supostos pagamentos efetuados pelo doleiro Carlos Habib Chater, a pedido do doleiro Alberto Youssef, ao deputado federal Nelson Meurer (PP-PR) – Youssef é apontado pela PF como chefe do esquema de lavagem de dinheiro e desvio de recursos da Petrobras investigado pela operação.
Por ser deputado federal, Meurer tem foro privilegiado e só pode ser investigado, julgado e condenado pelo STF. Procurado pelo G1, o parlamentar negou o recebimento de dinheiro.
Laudo pericial feito pela PF em arquivos eletrônicos usados para contabilidade informal do Posto da Torre, um posto de gasolina em Brasília, mostra transferências feitas por Chater para uma pessoa identificada como "Nelson" e "Nelson Meurer". Os lançamentos foram feitos entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009 e totalizam R$ 159 mil.
"Eu nunca recebi recurso nenhum de empreiteira e muito menos do Posto da Torre. Eu nem sei que existe esse posto em Brasília. Não conheço o dono e todos os recursos que recebi até hoje foram disponibilizados pelo PP. Não tenho conhecimento dessa planilha. Quem tem que informar é o dono do posto. Ele é que tem que dizer a quem entregou esse dinheiro", afirmou Meurer.
Os documentos foram disponibilizados nesta sexta-feira no andamento processual da Operação Lava Jato. Ao enviá-los para o STF em dezembro do ano passado, Moro afirmou que, embora seja "prematura qualquer conclusão, os lançamentos podem retratar pagamentos efetuados por Carlos Habib Chater, a pedido de Alberto Youssef, ao referido parlamentar".
"Considerando o possível envolvimento de Alberto Youssef em lavagem de dinheiro de recursos desviados de obras da Petrobras, o fato deve ser submetido à avaliação do Supremo Tribunal Federal", escreveu o magistrado.
Em março do ano passado, quando foi deflagrada a Operação Lava Jato, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão no Posto da Torre, que pertence a Chater. No local funciona uma casa de câmbio, suspeita de ter sido usada para distribuição de propina e lavagem do dinheiro do esquema, que segundo a PF e o Ministério Público Federal (MPF) teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões e provocou desvio de recursos da Petrobras.
Chater, que está preso no Paraná, responde a pelo menos quatro processos relacionados à Lava Jato. Ele é acusado de crimes financeiros, formação de quadrilha, associação para o tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro do tráfico e evasão de divisas. Em outubro do ano passado, o doleiro foi condenado a cinco anos e seis meses de reclusão, em regime inicial fechado, em uma das ações penais a que responde.
Em reportagem publicada no dia 19 de dezembro, o jornal "O Estado de S.Paulo" afirmou que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa revelou na delação premiada os nome de 28 políticos que, segundo ele, foram beneficiados pelo esquema de corrupção na Petrobras. O deputado Nelson Meurer é um dos 28 mencionados por Costa.