A quadra chuvosa em Alagoas, que vai de abril a julho, deve ser mais rigorosa este ano, alerta o professor do Instituto de Ciências Atmosféricas da Ufal, Rosiberto Salustiano, doutor em Meteorologia pela Universidade de São Paulo. Ele afirma que a previsão serve como alerta, mas não significa necessariamente que o Estado será atingido por tempestades severas. “Com esta previsão, sabemos que é preciso ficarmos atentos, principalmente com relação às áreas de risco, mas não dá para antecipar se o Estado vai sofrer com cheias”, diz o pesquisador.
Segundo o pesquisador, a quadra chuvosa de 2012 nem começou, mas já tivemos chuvas acima do normal. “No início de março, choveu em um dia quase metade do previsto para o mês inteiro, que é um acumulado de chuvas de 130 ml”, ressalta o meteorologista.
Isso ocorre porque o fenômeno La Ninã está resfriando as águas do oceano, provocando ventos de maior intensidade, que conduzem nuvens carregadas para o litoral do Nordeste brasileiro
A preocupação com a precipitação é justificada. Há dois anos, nos meses chuvosos, as bacias dos rios Una e Mundaú provocaram tragédia com 24 mortes e mais de 80 mil desabrigados nos Estados de Pernambuco e Alagoas. As enchentes de junho de 2010 motivaram o investimento de recursos federais de cerca de dois milhões de reais para montar salas de alerta nos dois Estados, que monitoram as intensidades das chuvas e o nível dos rios.
Laboratório de Modelagem Atmosférica
No Icat, o Laboratório de Modelagem Atmosférica também conta com equipamentos capazes de monitorar imagens de satélite, com possibilidade de prever as precipitações atmosféricas das próximas 72 horas, mas o grupo de pesquisa não tem vínculo oficial para prestar esse tipo de serviço à sociedade. “As informações que divulgamos no site tem caráter experimental, com o objetivo de produzir pesquisas e promover a aprendizagem dos alunos de graduação”, explica Rosiberto, coordenador do laboratório.
A equipe é formada por três professores do Icat, três pesquisadores colaboradores, cinco alunos de graduação e quatro alunos do mestrado em Meteorologia. “Temos uma equipe multidisciplinar, já que as pesquisas envolvem também pesquisadores de Química, Geografia e Engenharia de Recursos Hídricos”, ressalta Rosiberto.
Além da previsão de chuvas para os próximos três dias, o site do Laboratório de Modelagem Atmosférica conta com informações sobre campos meteorológicos, com opção de visualização da cobertura de nuvens, poluição atmosférica, radiação solar, temperatura do ar, umidade relativa e velocidade do vento. “São informações atualizadas diariamente e acessíveis a todos, mas é preciso algum conhecimento técnico para interpretar corretamente algumas dessas imagens e fazer as deduções corretas”, pondera o professor.
Icat e sociedade
O professor Rosiberto Salustiano manifestou o interesse do Icat em intensificar a relação com a sociedade alagoana, prestando alguns serviços. “Já temos várias parcerias nesse sentido, com a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, mas queremos nos organizar de forma a também contribuir com a emissão de alertas de chuvas fortes e cheias. Para isso, precisaremos criar uma logística, ou seja, uma estrutura mínima para que não haja descontinuidade de serviços”, ressalta o pesquisador.
O Icat também mantém parcerias com o Centro de Ciências Agrárias, fornecendo dados importantes para o planejamento de atividades agrícolas, como irrigação, cultivo, aplicação de defensivos, etc. Esse grupo de Agrometeorologia é coordenado pelo professor José Leonaldo de Souza. A unidade acadêmica também tem o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), que realiza atividades de pesquisa, assistência tecnológica e treinamento de recursos humanos para a recepção, processamento, interpretação e integração de imagens dos satélites da série Meteosat.
Outro grupo que deve ampliar suas contribuição no desenvolvimento do Estado é o de Micrometeorologia, pesquisa coordenada pelo professor Roberto Lyra, que desenvolve projetos de energias alternativas. Em Alagoas, o aproveitamento do potencial de energia eólica ainda é muito baixo. O professor Rosiberto Salustiano citou um exemplo de uma fábrica de doces que produz energia elétrica a partir dos ventos, em Palmeira dos Índios.
Mas ele acredita que será possível atrair investimentos para desenvolver uma usina de energia eólica em áreas que apresentam possibilidade de utilização da força dos ventos. “Aqui em Alagoas temos locais de ótimo potencial, como as margens da lagoa Mundaú e nos municípios de Girau do Ponciano, Penedo, Água Branca”, informou o pesquisador.