O líder do PT no Senado Federal, Walter Pinheiro, anunciou nesta segunda-feira (9) que o partido quer uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar detalhadamente o envolvimento de Carlinhos Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). O petista avalia que, se deixar o processo apenas no Conselho de Ética, o julgamento ficará entorno apenas do mandato parlamentar. "Conversei com o partido e amanhã mesmo iniciaremos a coleta de assinaturas; acredito que não encontraremos dificuldades para criar a comissão, pois todos dizem o tempo todo que querem apurar; é preciso insistir para que a apuração ganhe ao menos o tamanho das coisas noticiadas", disse.
A decisão surgiu depois que o corregedor da Casa, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), anunciou que o Supremo Tribunal Federal não enviará conteúdo do processo contra Demóstenes para o Senado. Por questão de sigilo, somente uma Comissão Parlamentar de Inquérito teria constitucionalmente poderes para acessar dados do processo.
O líder petista, que está na Bahia e retorna nessa terça a Brasília, explicou por telefone que a CPI foi o único caminho encontrado para apurar detalhes das ações do bicheiro Carlos Cachoeira dentro do Senado. "Se a Corregedoria e o Conselho de Ética não receberam detalhes do processo, a CPI solicitará as informações sobre todas as denúncias. O importante é não deixar a apuração ficar entorno de mandato de senador – se tem ou não mandato cassado – mas conhecer com profundidade o que aconteceu", disse Walter Pinheiro.
Demóstenes e Carlinhos Cachoeira
Em 6 de março de 2012, o senador Demóstenes Torres (GO) subiu à tribuna para dar explicações sobre as denúncias de sua proximidade com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, descoberta pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que terminou em fevereiro, com a prisão de Cachoeira e de outras 34 pessoas. Demóstenes disse que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido critérios legais. Dez dias depois, o jornal Folha de S.Paulo publicava um relatório do Ministério Público Federal (MPF) que indicava que o grupo comandado por Cachoeira entregou telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, que admitiu ter recebido o aparelho.
O jornal O Globo noticiou, em 23 de março, gravações da PF que flagraram Demóstenes pedindo para Cachoeira lhe pagar R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo e vazando informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes. Em 27 de março, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado para "acompanhar a evolução dos fatos". No dia seguinte, o Psol entrou com representação contra o parlamentar no Conselho de Ética do Senado e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandovski autorizou a quebra do sigilo bancário de Demóstenes, solicitando ainda um levantamento sobre as emendas e os projetos relatados por ele para saber se Cachoeira, acusado de controlar a máfia dos caça-níqueis e de corromper policiais e políticos em Goiás, foi beneficiado.
Nas gravações, Demóstenes também aparece acertando um suposto lobby pela legalização dos jogos de azar no Congresso em 2009. Em outra conversa, Cachoeira pede ajuda no processo de um delegado e três policiais de Anápolis (GO) acusados de tortura e extorsão. Os dois ainda conversaram sobre um "negócio" milionário na Infraero. Na ocasião, Demóstenes teria se valido da relatoria da CPI do Apagão Aéreo para levantar informações e sondar contratos de informática na estatal.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido decidiu abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda.