A Banda de Música da Polícia Militar de Alagoas tornou-se, após a aprovação pela Assembleia Legislativa de projeto de lei de autoria do deputado Inácio Loyola (PSDB), o mais novo patrimônio histórico, artístico e cultural do Estado. A votação que resultou na transformação do projeto em lei ocorreu no final do mês passado.
E para quem convive diariamente com as melodias entoadas nos ensaios, formaturas e apresentações especiais, a nova lei veio como forma de reconhecimento pelos serviços prestados ao longo de 161 anos de história e muitas boas lembranças.
Há 25 anos, o tenente Ronaldo Fagundes, atualmente mestre-substituto do Centro Musical da Polícia Militar alagoana, iniciava a sua trajetória dento da mais antiga banda de música do Estado. “Muita coisa mudou de lá para cá. Se antes só participávamos de formaturas militares, hoje fazemos apresentações em várias outras ocasiões, e tocamos de tudo”, frisa Fagundes.
Outro remanescente, o subtenente Lourinaldo Soares, está há 24 anos acompanhando a evolução da Banda de Música. Ele recebeu a aprovação da lei como algo que pode fazer com que o mais novo patrimônio do povo alagoano ganhe ainda mais reconhecimento. “Esperamos a afirmação de uma nova fase, na qual possamos contar ainda mais com o apoio de todos os envolvidos na elevação e divulgação do nosso trabalho”, ressalta o regente-substituto Lourinaldo.
“A história da banda da PM se confunde com a história de Alagoas”
A frase, dita pelo subtenente da PM e regente-substituto, Everaldo Borges, trata da evolução da Banda ao longo dos anos. De acordo com o historiador Félix Lima Júnior, já em 1853 a milícia provincial em Alagoas, então constituída apenas por uma companhia, possuía seu pequeno conjunto musical. No final do ano de 1859, durante a visita do imperador D. Pedro II para conhecer a cachoeira de Paulo Afonso, no estado da Bahia, parte da Força Pública e da Banda seguiram para a cidade de Penedo, a fim de recepcionar o ilustre visitante.
Em 18 de junho de 1864, o artigo 9º da Lei 422 trouxe a extinção da Banda de Música. Mas, no mesmo ano, os músicos voltaram a figurar no embarque da então Força Policial de Alagoas rumo à Guerra do Paraguai. O desfile da tropa pelas ruas da capital e a celebração de uma missa campal tiveram o acompanhamento dos músicos do chamado Corpo Provisório da Guarda Nacional e da Sociedade Recreio.
Já o ano de 1875 foi marcado pelas retretas realizadas no bairro de Jaraguá, em Maceió. Desse ano em diante, a Banda participou de diversas atividades sociais em Alagoas, a exemplo da inauguração do Asilo Santa Leopoldina e das apresentações na Catedral aos domingos, durante os dois últimos anos da Monarquia. Veio a República e a Força Policial passou a ser denominada oficialmente de Batalhão Policial do Estado de Alagoas.
O saxofonista e maestro Everaldo Borges, que é filho de um ex-integrante da Banda da corporação, o sargento Pedro Borges, fala ainda da satisfação em reger talentosos músicos: “Temos realmente aqui grandes músicos que carregam desde criança a experiência de tocar algum instrumento de sopro, percussão ou qualquer outro que faça som”, descontraiu o músico que fez questão de mencionar a importância da Banda na sua formação e em seu lançamento na carreira como músico reconhecido não somente em Alagoas, como também fora do Estado e no exterior.
“É realmente muito gratificante fazer parte de algo que é um misto de nostalgia e contemporaneidade”, conta o soldado Alessandro Ramos, de 31 anos, um dos mais novos integrantes do grupo. “Desde pequeno eu sonhava em estar aqui. Hoje sou feliz por ter concretizado este antigo desejo de ser um músico da Banda da Polícia Militar de Alagoas”.
“Lembro-me que, quanto tinha pouco mais de 12 anos, participei de um encontro de músicos na cidade de Matriz do Camaragibe”, diz o trompetista soldado Ramos. “Estava conversando com alguns colegas quando ouvi um som que ficou para sempre na minha memória: Era a Banda de Música da Polícia Militar marchando pelas ruas! Dali em diante, eu sempre dizia que um dia estaria naquele lugar”, recorda ele, que também recebeu influência do irmão, o sargento e músico da Polícia Militar de Sergipe, Adrielson Ramos.
A aposentada Nazaré Tenório, 72 anos, se diz fã de carteirinha da Banda de Música da PM. Ela é uma das que comparecem aos domingos no projeto “Vem Ver a Banda Tocar”, que tem como um dos principais objetivos aproximar ainda mais a sociedade da instituição. “Ouvir as melodias da Banda funciona como uma terapia para mim. Chego a contar os dias e as horas para poder acompanhar de perto a apresentação desse fantástico grupo”, afirma.
Os encontros do “Vem Ver a Banda Tocar” acontecem aos domingos, das 10h30 às 12h30, no espaço Gerusa Malta, na Pajuçara. São mais de 30 músicos, todos policiais militares, que levam ao público muita animação com um repertório composto por diversos ritmos como forró, xote, baião, samba, frevo, MPB e outros ritmos. Outro destaque é a participação da Banda com o Bloco Vulcão, da Polícia Militar. O mais antigo bloco carnavalesco do Estado arrasta multidões durante a prévia da festa pela orla da praia da Pajuçara, em Maceió.