A um passo das passarelas, pentatleta supera ‘terror’ por sonho olímpico

Globo.comElodie Clouvel

Elodie Clouvel

Os lábios se abrem e revelam um pequeno espaço entre os dentes da frente, uma imperfeição que talvez empreste ainda mais charme ao sorriso. Em seguida, os mesmos lábios se juntam e formam um conjunto perfeito, num tradicional biquinho à francesa que costuma tirar o ar de fãs e repórteres durante entrevistas. Os cabelos castanhos descem pelo rosto de traços retos e fortes em um caminho ondulado, até um pouco abaixo dos ombros. Os olhos, também castanhos, têm a mania de permanecerem fixos até o momento em que piscam uma, duas, três vezes em sequência, com uma velocidade desconcertante. Os detalhes, em conjunto, formam um dos rostos mais bonitos do esporte francês. E Elodie Clouvel encara a beleza com a naturalidade de uma estrela do cinema de seu país.

– Eu gostaria de fazer alguns trabalhos como modelo – diz a francesa, que faz curso de inglês já pensando no momento que mudar de carreira.

Mas, antes das passarelas e dos ensaios fotográficos, a bela, de 23 anos, guarda o fôlego para buscar uma medalha no pentatlo nos Jogos de Londres. Nascida na pequena Saint-Priest-en-Jarez, Elodie começou na natação e logo foi apontada como uma das principais apostas das piscinas francesas. Foi treinada por Phillipe Lucas, que revelou a campeã olímpica Laurie Manadou, mas, na tentativa de ir para os Jogos de Pequim, ficou no quase. “Fiz as finais de todos campeonatos na França nos 200m, 400m e 800m livre, mas não consegui me classificar”.

O abatimento à época foi grande. Enquanto esperava por resultados que não apareciam, Elodie perdia a vontade de nadar. Aos 19 anos, tinha cansado das piscinas, algo que achava impossível quando resolveu trocar os tênis de corrida pelo maiô: “Eu entrava na água com o coração pesado”. Uma proposta meses depois, no entanto, fez a bela mudar mais uma vez. Em uma tarde de setembro, foi procurada por membros da Federação Francesa de Pentatlo. Queriam saber se ela não tinha vontade de mudar de esporte. A princípio, quis dizer não, mas pediu um tempo para pensar.

Aceitou. Pediu paciência para que pudesse se adaptar. Precisou aprender esgrima, retomar o fôlego para as corridas e acertar sua mira nos tiros. A maior dificuldade, porém, era para montar os cavalos nas provas de hipismo. Elodie tinha medo. A cada treino, tremia e pensava em alguma desculpa para adiar o sofrimento.

– Eu estava com tanto medo na primeira vez… Eu só conseguia passear a cavalo, talvez um pouco de trote, mas eu tinha medo de que ele começasse a galopar. Eu chorava, fingia que tinha dor de estômago para não montar. Eu demorei dois anos para perder o medo. No início, andar a cavalo me assustava tanto quanto pular de bungee jumping. Mas, agora, eu posso montar qualquer cavalo.
A confiança tem fundamentos. Em pouco tempo no esporte, conseguiu resultados importantes, como a vitória na etapa da Copa do Mundo do Rio de Janeiro, no início deste ano. No caminho para Londres, é a quinta colocada no ranking olímpico e a 13ª na lista mundial. Ainda há, porém, a mágoa dos tempos da natação. Embora tenha abandonado cedo as piscinas pela falta de conquistas de peso, Elodie diz que o novo esporte é um recomeço.

– O pentatlo não é um sinal do meu fracasso na natação. É apenas um novo começo para mim.

Mas Elodie não está satisfeita. Como em toda mudança, sofreu para se adaptar ao novo esporte. Os músculos definidos de costas e braços não eram o bastante para o pentatlo. Nos primeiros dois anos, talvez tenha passado mais tempo nas academias do que nas viagens para competir. Os traços do corpo mudaram, mas a transformação ainda está em andamento.

– Eu preciso de tempo. Demora um tempo para se ter corpo de um pentatleta. Na natação, eu era formada por músculos. Então, eu tive de equilibrar tudo. E, depois, ainda há o que ser feito em cada disciplina, tenho muito a aprender. Mas me sinto muito confortável com meu corpo e minha cabeça. Eu sou otimista.

Otimismo que a leva a acreditar em um bom resultado em Londres. Nas Olimpíadas, ela será uma das rivais da brasileira Yane Marques, favorita a uma medalha. Elodie é treinada por Christian Roudaut, que enche o moral da pupila:

– Ela tem uma habilidade incrível de se adaptar.

Em sua primeira participação olímpica, a francesa afirma que tem chances de subir ao pódio, ainda que lhe falte experiência.

– Eu não vou para lá apenas para participar. Eu quero muito vencer, é tudo ou nada. O objetivo é ser campeã olímpica, mesmo que eu saiba que será difícil. Eu sei que são meus primeiros Jogos, mas eu não tenho nenhuma apreensão.

No pentatlo, Elodie passará por duelos de esgrima, uma prova de 200m livre na natação, uma exibição de saltos no hipismo e o combinado de corrida e tiro. Ao dividir sua face de nadadora com outros quatro esportes, a francesa descobriu forças que não sabia ter.

– Obviamente, natação é a minha maior força, mas eu também sou boa na esgrima. Acho que esgrima e tiros vieram naturalmente. Desde o início, eu sabia que tinha isso em mim.

Fonte: Globo.com

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