O duelo entre Santos e Bahia colocou frente a frente a calmaria alvinegra com a turbulência do Tricolor. Tudo isso antes de a bola rolar. Porque, após a vitória de virada por 3 a 1 do time baiano na Vila Belmiro, os cenários trocaram de lado. O triunfo dá um pouco mais de paz ao Bahia, agora com 20 pontos, tentando fugir da zona de rebaixamento, e volta a esquentar os ânimos do Peixe, estacionado nos 26 pontos – veja a tabela do Brasileirão.
A grande dúvida antes da partida era se o estreante técnico Jorginho iria para o banco do Bahia. Ele foi e, no intervalo, ajudou a construir a virada do Tricolor. Isso porque até aquele momento o Santos vencia por 1 a 0, com gol de André. Veio a etapa final e a mudança na postura do time baiano foi nítida. Souza, Neto e Gabriel fizeram os gols que selaram os 3 a 1 no placar.
Ganso pouco ajudou. Muito criticado e vaiado pela torcida, que atirou moedas no gramado, a situação do meia parece insustentável. Claramente o time sentiu a falta de seus toques de qualidade. Neymar, quase que de forma isolada, criou as jogadas de perigo. Mas não era noite dele, muito menos do Peixe.
Os dois times voltam a jogar no domingo pelo Campeonato Brasileiro. O Santos encara o Sport no Recife, às 16h. No mesmo horário, o Bahia, ainda tentando fugir da zona do rebaixamento, recebe o São Paulo, em Pituaçu.
Peixe aproveita ‘avenida Jussandro’
Noite de chuva fina na Vila Belmiro, com jogo iniciado logo após o horário comercial: às 19h30m. Aos poucos, as torcidas de Santos e Bahia foram chegando ao estádio, e viram dentro de campo o reflexo exato das situações de seus respectivos times. De um lado, um Peixe tranquilo, escalado pela terceira vez seguida da mesma forma por Muricy Ramalho. Do outro, um Tricolor motivado pelo novo técnico Jorginho, mas ainda perdido.
Sem fazer esforço, o Alvinegro, aos poucos, impôs seu ritmo e dominou a partida. Mesmo sem criar muitas chances, mostrava melhor qualidade técnica quando Neymar, Ganso e André se aproximavam. Em um desses momentos, a bela linha de passe do trio terminou com finalização por cobertura do centroavante sobre Omar, mas para fora, aos oito minutos.
A inversão pelas pontas entre Neymar e Pato Rodriguez confundia a marcação do Bahia. Pela direita, lado de Jussandro, o craque de moicano chamou dois na marcação. Pedalou e chutou o vácuo. A graça, aparentemente inútil, foi a deixa para olhar na área e cruzar na cabeça de André, que desviou para a rede, aos 14. 1 a 0 Peixe.
Talvez inspirado por Neymar, Pato Rodriguez fez bela jogada. Também pela direita, driblou dois, foi ao fundo e cruzou na medida para Ganso. O meia teve tempo de pensar e escolher o canto, mas de chapa finalizou à direita de Omar, aos 18, de forma bizarra. Foi esse apenas o primeiro erro de Ganso na noite. Vale ressaltar que, durante a escalação dos jogadores, em forma de protesto, a torcida não gritou o nome do camisa 10.
O Santos já havia encontrado o lado fraco da defesa do Tricolor, mas o adversário pouco criava. No 4-3-2-1 com três volantes, o Bahia tinha dificuldades na criação. Sobrecarregado, Zé Roberto não conseguia se livrar de Arouca e Adriano, e Gabriel pecou na movimentação. Chance de verdade do time baiano veio mesmo aos 29 minutos, quando o próprio Gabriel recebeu de Neto, ex-Santos, pela direita, e finalizou cruzado, sem direção (o erro nas finalizações, aliás, foi uma tônica do Tricolor na primeira etapa).
Novamente pela direita e de novo com Neymar, o Peixe quase conseguiu o segundo. O craque foi trazendo a jogada pelo meio até enfiar para André, que, na cara de Omar, tentou leve toque de bico, mas o goleiro evitou o gol, aos 38. No minuto seguinte, veio a melhor oportunidade do Bahia. De fora da área, Hélder, volante aberto pela esquerda, soltou uma bomba no travessão de Rafael.
Bahia volta aceso e vira com méritos
Se demorou quase 45 minutos para acordar na etapa inicial, o Bahia voltou aceso no segundo tempo e passou a explorar as jogadas pelas laterais. Em 17 minutos o time empatou e virou dentro da Vila Belmiro. Antes tímido, o jovem Gabriel passou a se movimentar mais e confundir a marcação do Santos. Foi dele a primeira boa jogada pela direita, quando cruzou em direção a Souza. A zaga do Peixe até desviou, mas não impediu que a bola chegasse ao centroavante. Livre, ele perdeu finalizando por cima, aos três minutos.
O Tricolor procurava a referência do ataque em todas as jogadas. De tanto insistir, veio o gol. Pela direita, o lateral Neto foi ao fundo e cruzou na área do Peixe. Zé Roberto e Bruno Rodrigo dividiram, e a bola sobrou limpa para Souza estufar a rede de Rafael, aos 14 minutos.
Logo em seguida, veio a virada. Gabriel, revelação do Bahia, foi para cima de Adriano e sofreu falta na entrada da área. Neto chamou a responsabilidade, encobriu a barreira e venceu Rafael, virando o placar, aos 17.
Atordoado pelo golpe e aparentemente não acreditando no que ocorria, o Santos passou a pressionar na vontade e sem tanta técnica, mas faltava qualidade no passe final. Ganso, normalmente responsável por esse toque, era cobrado e vaiado a cada erro pela torcida, já irritada. Enquanto isso, Jorginho substituiu Hélder por Mancini, ex-Atlético-MG e Roma, da Itália.
Aproveitando os espaços dados pelo exposto Santos, o Bahia chegou ao terceiro no contra-ataque. Novamente pela direita do ataque, Mancini foi ao fundo e cruzou para Zé Roberto. O meia passou da bola e tentou tocar para Souza, mas sem sucesso. O centroavante, então, rolou para Gabriel, que, da entrada da área, finalizou consciente no canto esquerdo de Rafael, sem chances, aos 27 minutos.
Desesperado, o Santos passou a errar ainda mais. A cada equívoco, ainda ouvia protestos da torcida, impaciente com o resultado. Muricy tentou Victor Andrade no lugar de André, Felipe Anderson na vaga de Pato Rodriguez, e Bill substituindo Adriano, sem sucesso. Em 45 minutos, o Bahia espantou a turbulência e acabou com a tranquilidade pelos lados da Vila Belmiro. No apito final, isso ficou claro com as vaias dos santistas.