Ele não teve uma crise de raiva, também não rasgou a camisa e muito menos ficou verde, mas foi, sim, o super-herói da tarde desta sexta-feira. Hulk, o atacante de R$ 141 milhões, talvez seja um dos nomes mais criticados na seleção brasileira de Mano Menezes, mas no amistoso contra a África do Sul, no estádio do Morumbi, ele compensou a sua convocação marcando o gol da vitória suada do Brasil por 1 a 0. O time pentacampeão mundial deixou o estádio sob vaias.
O triunfo, porém, não apaga uma tarde que a Seleção gostaria de esquecer. A pressão da torcida paulista no estádio do Morumbi foi enorme. Gigante também não seria nenhum exagero. É claro que Mano Menezes foi o alvo principal, mas sobrou até para Neymar, principal jogador brasileiro da atualidade, acusado de "pipoqueiro" e vaiado ao ser substituído já aos 44 do segundo tempo. Leandro Damião, então, jogou sob gritos de Luis Fabiano.
Talvez um dos únicos poupados pela torcida tenha sido Lucas, que teve uma atuação tão apagada quanto a dos seus demais companheiros. Mas quando ele foi substituído por Jonas, o clima esquentou para Mano. O técnico verde e amarelo foi chamado de burro e ouviu, assim como Dunga certa vez em Belo Horizonte, um "Adeus, Mano". O ambiente hostil melhorou um pouco após o gol, mas norteou a partida.
Passada essa turbulência em solo paulistano, a seleção brasileira embarca esta noite pro Recife, onde na segunda-feira, às 22h, encara a China, no estádio Arruda. A partida terá transmissão ao vivo da TV Globo, do Sportv e do GLOBOESPORTE.COM.
A seleção brasileira estava preparada para jogar de amarelo, como de costume. Mas o uniforme da África do Sul, também verde e amarelo, forçou os donos da casa a entrarem em campo com a camisa azul – a de Marcelo estava rasgada, e teve que ser trocada (assim como a braçadeira de capitão de David Luiz, que foi substituída por uma fita adesiva). Por conta desse imprevisto, a partida atrasou mais de 15 minutos. Não foi isso, porém, que tirou a paciência do torcedor paulista no amistoso desta tarde. A pífia atuação da seleção brasileira foi a culpada.
Desde o hino nacional, ouvido com frieza pelos paulistas, o clima era de desconfiança. Com a bola rolando, esse ambiente só se confirmou. A cobrança, aliás, começou cedo. Bem cedo. Logo aos sete minutos, depois de tentativa frustrada de Leandro Damião dar passe de letra na intermediária, boa parte da torcida começou a gritar o nome de Luis Fabiano, atacante do São Paulo. A cena se repetiu aos 11 minutos.
Nesse mesmo minuto, por sinal, a África do Sul teve a melhor chance do jogo. Não fosse Diego Alves, os Bafana Bafana teriam aberto o placar. Gaxa recebeu na direita da grande área, avançou e bateu fraco. O goleiro do Valencia fez ótima defesa. Nervosos, os brasileiros apelaram para entradas mais duras. Tiveram de ser contidos com cartões amarelos, mostrados para Dedé e Marcelo.
A resposta da seleção brasileira ao bom momento da África do Sul foi em um raro lance de inspiração. Na verdade, em uma jogada de oportunismo. Aos 16, Neymar bateu falta cruzada para área e Dedé cabeceou forte. Khune fez grande defesa. Com seu quarteto ofensivo apagado (Oscar, Lucas, Neymar e Damião), o Brasil dependia do individualismo. Mas nem assim teve jeito. O primeiro tempo foi mesmo de irritar.
Tanto que aos 21 minutos, a paciência da torcida acabou, e a Seleção escutou sua primeiras vaias na partida. Em determinado momento, assim como aconteceu com Dunga em Belo Horizonte, na preparação para a Copa do Mundo de 2010, Mano Menezes ouviu "adeus", entoado por parte da torcida no Morumbi (escute no vídeo ao lado). Um minuto após as primeiras vaias, mais cobrança por conta de uma bola recuada para Diego Alves.
Nada insinuante, a Seleção voltou a levar perigo para África do Sul aos 42 minutos, quando Neymar finalizou após cruzamento da direita e consagrou o goleiro Khune, que defendeu com o peito. Já era tarde. Nesse momento quem contava com o apoio vindo das arquibancadas eram os Bafana Bafana. O toque de bola sul-africano era acompanhado de "olé" dos paulistanos. Para o Brasil, sonoras vaias após o apito final.
– A gente não tem que se preocupar com a torcida, a gente sabe que vai jogar aqui e eles vão cobrar. Temos de ter personalidade para jogar aqui, mesmo a torcida não nos dando apoio. Não podemos nos desesperar – disse Daniel Alves à TV Globo no intervalo.
Quem não viu o começo de jogo e não percebeu que o Brasil estava jogando de azul, certamente deve ter torcido por engano pela África do Sul no começo do segundo tempo. Muito embora Lucas tenha começado a etapa final com boas jogadas individuais, o time sul-africano deu trabalho para a defesa brasileira.
Faltou bem pouco, aliás, para que os Bafana não abrissem o marcador logo nos primeiros cinco minutos. Parker fez ótima jogada pela direita, deixou David Luiz para trás com lindo corte e cruzou. A bola só não encontrou o atacante do outro lado da área porque Dedé chegou em tempo de tirar a bola para escanteio.
A pressão sul-africana serviu ao menos para dar um choque na seleção brasileira. Passado o sufoco, o time deixou a tática de lado e partiu para o individualismo. Primeiro com Oscar, depois com Lucas, mais adiante com Neymar e também com Damião. O quarteto, que Mano não quer que chamem de mágico, enfim, apareceu.
Com toque de lado, muita firula e pouca objetividade, a pequena evolução da Seleção apenas iludiu o torcedor, que voltou a gritar o nome de Luis Fabiano no momento em que Mano Menezes colocou Hulk na vaga de Leandro Damião. Visivelmente abatido, o técnico da Seleção aproveitou uma parada no jogo e passou instruções a Neymar.
Sem espaço, o craque do Santos parecia não estar em um dos seus melhores dias. Fato! Mas jogador decisivo muitas vezes surpreende, como Neymar mesmo fez ao bater falta aos 25 minutos e obrigar Khune a outra ótima defesa. Quando a torcida parecia começar a fazer as pazes com a Seleção no jogo, Mano sacou Lucas.
O meia-atacante do São Paulo, protagonista antes da partida, teve realmente atuação discreta. Mas a torcida não perdoou sua troca por Jonas e chamou Mano de "burro". Em seguida, repetiu o primeiro tempo, e gritou "Adeus, Mano". Mas se o anjo da guarda do técnico não estava presente, seu super-herói estava: Hulk.
Em seu terceiro jogo oficial em solo brasileira (tinha feito dois pelo Vitória quando atuava no país), o atacante do Zenit, que o comprou do Porto por R$ 141 milhões, apareceu para dar a vitória à seleção brasileira. Depois de dar passe para David Luiz na esquerda, ele apareceu para pegar o rebote do chute e explodir o Morumbi aos 29.
Melhor para Mano, para os jogadores e para a torcida, que compareceu em grande número (51.538 pessoas) ao amistoso contra a África do Sul. Já aos 44, o técnico tirou Neymar para a entrada de Arouca. O camisa 11 saiu sob os gritos de "pipoqueiro". Na próxima terça, será a vez de Recife receber a Seleção contra a China. Mais um teste para a popularidade do treinador e do craque em casa.