O “chapão” – bloco que integra os partidos que são oposição ao atual governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) – se reuniu pela primeira vez na Terra dos Marechais. O objetivo do encontro, conforme os caciques políticos presentes, é traçar um plano para que as agremiações permaneçam juntas com uma única candidatura ao Governo do Estado. Os nomes mais cogitados continuam sendo o do prefeito Cícero Almeida (PP) e Ronaldo Lessa (PDT).
A reunião, que ocorreu de forma aberta à imprensa, deixou claro que a maior dificuldade em consolidar a frente que engloba PDT, PMDB, PR, PV, PCdoB, PT, PTB, PMN e outras agremiações é o excesso de candidaturas ao Senado Federal. O bloco possui pelo menos seis nomes, entre eles, o atual senador Renan Calheiros (PMDB), o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT), o deputado federal Benedito de Lira (PP), o delegado federal José Pinto de Luna (PT) e até o de Eduardo Bonfim (PCdoB).
No entanto, as que se consolidam mais são as de Renan Calheiros, Lessa, Benedito de Lira e Pinto de Luna. As novidades da reunião da manhã desta terça-feira, dia 5, que ocorreu em um hotel da capital alagoana, foram as presenças de partidos políticos que não estão na base do Governo Federal, alguns deles de extrema esquerda como é o caso do PCB. “A frente agora deixa de ser apenas a base do Governo do presidente Lula e se amplia, já que aqui há o PV que representa – nacionalmente – a candidatura da ex-ministra Marina Silva”, destacou Ronaldo Lessa.
Porém, para muitos dos membros do chapão é a candidatura da ministra Dilma Roussef “que continua servindo de norte para o leque de alianças”. Renan Calheiros destacou – por exemplo – o interesse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na formação de uma única frente em Alagoas que sirva de palanque para a ministra. “Há uma disposição das bases do partido do presidente Lula para estarem juntos em Alagoas. Além disto, há a pré-disposição de partidos que querem ampliar este leque e são agremiações que convergem na perspectiva de um projeto de inclusão social para o Estado”, frisou Renan Calheiros.
Renan defendeu que a união se dê em torno de um projeto. Porém, para que este se consolide há muitas divergências e interesses individuais a serem conjugados, como reconhecem os pré-candidatos ao Senado Federal. “Temos um excesso de bons candidatos para Alagoas. Além disto, o bloco deve reunir o maior número de prefeitos e o presidente Lula está animado com esta frente, que pode juntar 15 partidos nas eleições majoritárias, com coligações diferentes que devem ser pensadas para as proporcionais”, disse o senador tentando passar confiança, uma vez que há polêmicas em torno do chapão, diante da possibilidade de uma “implosão”.
Reaproximação
O deputado federal Benedito de Lira (PP) definiu a reunião de hoje como “um encontro de reaproximação”. “Sabemos das divergências que há na construção de um processo desta natureza e isto tem que ser feito gradativamente. Aqui no Estado precisamos trabalhar com um norte. Este norte tem que ser a majoritária, para depois trabalharmos a proporcionalidade”, colocou. Lira cobrou pressa na definição do nome para disputar o Governo do Estado.
Segundo ele, o frentão precisa ter dois planos – “o A e o B”. O primeiro seria a candidatura de Cícero Almeida (PP), ao Governo do Estado. O segundo, um nome decidido dentro do chapão que agregasse as forças. “O Almeida espera partir para a eleição se houver unidade desta frente”, frisou o parlamentar. “Só há uma candidatura posta, que é a do governador Teotonio Vilela. Precisamos da cabeça desta chapa”, salientou ainda.
O senador Renan Calheiros assumiu o compromisso de marchar com o chapão se o candidato for Cícero Almeida, ou Ronaldo Lessa. Quanto ao impasse das candidaturas o Senado Federal frisou que iria para a reeleição e que – diante de duas vagas – “era natural que os partidos pleiteassem um espaço”. Benedito de Lira coloca que é natural que o chapão apresente dois candidatos ao Senado Federal, o que faria com que pelo menos quatro nomes fossem descartados.
“A minha candidatura é posta. Ela não tem volta. Agora, nada impede o andamento das conversas”, colocou Lira. “Toda eleição é difícil. O número de candidatos não altera isto. Com a candidatura posta, sempre vai ser preciso disputar voto a voto, com muita humildade. Eu acredito que a população vai reconhecer os serviços e não apenas o ‘blá, blá, blá’. Eleição é o momento para que se avalie. A avaliação é da população”, destacou Renan, ao ser indagado se esta seria sua eleição mais difícil, diante dos adversários e da desvantagem nas pesquisas eleitorais.
O senador aparece na terceira posição nas pesquisas mais recentes. As duas primeiras vagas ficariam – conforme pesquisas – com Heloísa Helena (PSOL) e Ronaldo Lessa, que integra o chapão.
Governo do Estado
Se para o Senado Federal há dificuldades de entendimento, para o Palácio República dos Palmares quase todos os partidos que integram a frente parecem aceitar o nome de Cícero Almeida. As únicas ressalvas partem do presidente do PR, o deputado federal Maurício Quintella. Apesar da agremiação abrigar a vice-prefeita Lourdinha Lyra, Quintella diz que a experiência de participar da administração municipal não foi das melhores por conta da ausência de espaço político dentro da Prefeitura de Maceió.
“Mas isto não descarta o apoio ao prefeito. Não posso negar a divergência e a experiência que tivemos, mas a eleição para o Estado é outra coisa. O PR só não quer que aconteça o mesmo, caso o Almeida seja eleito”. Maurício Quintella – entretanto – disse não haver restrição alguma ao nome de Ronaldo Lessa (PDT). Ele afirmou também que o partido não está fechado a futuras conversas com o governador Teotonio Vilela Filho.
Ronaldo Lessa levantou inclusive a hipótese de Renan Calheiros sair candidato ao Governo do Estado, mas o senador negou o interesse. “Uma candidatura ao Governo não pode ser um interesse individual. Ela se constrói. Não penso em ser candidato ao Governo do Estado. Quero ajudar o Estado onde tenho ajudado, que é no Senado Federal”. Ao avaliar as alianças, o senador foi enfático e reafirmou que está fora da administração do histórico parceiro Vilela. “O PMDB não participa do Governo do Téo Vilela e é natural que busquemos outro candidato”.
Lessa diz que “o excesso de nomes é uma dificuldade boa”. “Se tivermos habilidade, vamos administrar as diferenças que são muitas, como por exemplo, a presença do PCB dentro deste grupo”. No entanto, um norte é certo para Ronaldo Lessa. Entre os objetivos de sua agremiação, segundo ele mesmo, está evitar a reeleição de Vilela. “O Governo atual é um desastre. Não tem sequer habilidade de trabalhar com o dinheiro que vem do Governo Federal. Nunca se colocou tanto dinheiro em Alagoas”.
Entre os partidos que integram o chapão, apenas o PTB não enviou representante. “O senador Fernando Collor estava em Brasília e não pode vir, já que a reunião foi acertada de última hora, mas haverá ainda mais conversa”, colocou Lessa. Almeida também não se fez presente. Segundo Lessa, ele se preservou e fez o certo, “já que confia plenamente no deputado federal Benedito de Lira, como dirigente do PP”.