Na noite desta quarta-feira (3), a cultura de Alagoas perdeu uma de suas estrelas. A mestra Luzia Simões, que durante anos comandou a chegança Silva Jardim, faleceu vítima de infarto, na cidade de Coqueiro Seco. O enterro será nesta quinta (4), às 17h, no cemitério do município.
Reconhecida desde 2005 como Patrimônio Vivo de Alagoas, Luzia Simões era figura querida em toda a cidade de Coqueiro Seco. Nascida no município, participou do primeiro grupo de cultura popular ainda adolescente. “Meus pais não gostavam de brincadeira. Eu fui contra a vontade deles”, lembrou em entrevista concedida no ano passado. Surgiu assim o encantamento pelos folguedos. A mestra comandou durante décadas o pastoril, as baianas e a chegança.
“Comecei na chegança da mestra Lila. Eu era contramestra e mouro. Ainda hoje é o meu folguedo preferido, sempre foi”, disse. Luzia Simões sentia dores fortes na coluna. “Eu não consigo ficar em pé por muito tempo, mas canto nos ensaios quase todos os dias. É só deixar uma cadeira reservada para mim”, revelou.
Dona Luzia esteve no mês de agosto no Museu Palácio Floriano Peixoto, no centro de Maceió. Participou de uma homenagem a todos os mestres que compõem o Registro do Patrimônio Vivo. “Ela fez questão de pegar o microfone e falar a todos os presentes. Estava feliz com o reconhecimento. O Estado de Alagoas tinha em Luzia Simões um exemplo de guerreira, de guardiã das nossas tradições”, afirmou o secretário de Estado da Cultura, Osvaldo Viégas.
Mestra Luzia coordenava, com a ajuda de seu braço direito, Lucimar Alves da Costa, os grupos chegança Silva Jardim, os pastoris Nossa Senhora Mãe dos Homens (jovens) e Mensageiros de Fátima (maturidade), e as baianas. Os ensaios aconteciam de segunda à sexta-feira.
É preciso muita dedicação. “Quando eu estou na brincadeira parece que tudo que tem de ruim em mim sai. Eu fico tão feliz, mais feliz ainda quando a gente se apresenta em outras cidades”, contou.
Os folguedos de mestra Luzia renderam participação no DVD do pernambucano Antônio Nóbrega e dois álbuns: Baianas de Coqueiro Seco e Folguedos Natalinos Alagoanos. Mais recentemente, ficaram prontas mil cópias do CD de chegança.
Sobre mais essa vitória, Dona Luzia afirmou em entrevista dada no mês passado: “Estou muito orgulhosa. Agora a minha pequena Coqueiro Seco chega a todo território nacional. Com a ajuda de pessoas muito especiais conseguimos gravar o disco. Demorou, mas agora eu consegui”.
Com as brincadeiras – pastoril, chegança e baianas –, a mestra esteve nas cidades de Rio Largo, Marechal Deodoro e Maceió, em terras alagoanas. Foi ainda para o Ceará. “Eu nunca pensei em chegar ao Juazeiro e consegui, graças ao folclore”, contou. Agora, os alagoanos se despedem da mestra. Mas o patrimônio deixado por ela persistirá por muitos anos na memória de todos.