O policial civil que foi morto durante uma briga de vizinhos na noite de quarta-feira (19) na região do Jaguaré, Zona Oeste de São Paulo, é descrito pelos moradores da pacata rua sem saída como uma pessoa difícil de lidar, que arranjava problema com todos no local. Ele morreu após levar uma facada de um vizinho, que também morreu baleado. O rapaz se envolveu na briga ao descer para defender o irmão – que, por sua vez, havia saído de casa para defender uma vizinha do policial.
A mulher, segundo os moradores, era alvo constante de reclamações do policial – principalmente por causa de seu cachorro e do lixo. Na noite de quarta, quem estava dentro de casa foi surpreendido por gritos e palavrões. O motivo seria, mais uma vez, o cachorro da mulher que estava solto na rua e o lixo que foi colocado na calçada.
“Ele era terrível. Não deixava as crianças brincarem na frente da casa dele, soltava bombinha nos cachorros, sempre teve problema com todo mundo. Não tem vizinho que fale bem dele. E aqui nós somos como uma família, todo mundo é unido. Só ele que dava problema”, disse uma moradora que não quis se identificar.
Apesar de não acreditarem que o problema entre os vizinhos pudessem resultar em morte, os moradores dizem que desconfiavam que algo iria acontecer um dia. "Todo mundo sempre desconfiou. A convivência era como uma bomba-relógio”, disse um deles.
De acordo com testemunhas, no meio da confusão, a moradora passou a ser agredida fisicamente pela mulher do policial e verbalmente por ele e seus filhos. Nesse momento, um jovem que também mora em uma das casas da rua desceu para defender a mulher. “Nunca teve nenhum homem para defendê-la. Ele [o policial] só peitava criança e mulher. Quando apareceu um homem, aconteceu isso. Ele arrumava muito encrenca”, disse outra moradora. Apreensiva, ela também não quis dar seu nome.
Facadas e tiros
Com a chegada do rapaz, o policial e seus dois filhos também entraram na briga física. Ao ver o irmão sendo agredido, outro jovem saiu com uma faca e acabou acertando o policial. Ele voltou correndo para casa, mas foi atingido por disparos feitos pelo filho do policial, que pegou a arma do pai. “O menino atirava para cima, eu pedia pelo amor de Deus para ele parar, mas ele gritava que não era para ninguém chegar perto, que ele ia atirar em todo mundo”, disse uma das vizinhas. Moradores chegaram a se esconder embaixo das camas com medo dos tiros.
O jovem baleado morreu no local, enquanto o filho do policial foi preso com a chegada da Polícia Militar. A vizinha que se envolveu primeiramente na briga ficou com hematomas e ferimentos no rosto. Segundo os moradores, ela não tinha problemas com mais ninguém na rua.
Os dois jovens que também se envolveram na briga – o rapaz que foi defender a mulher agredida e o irmão, que acabou morrendo – foram descritos como pessoas calmas pela vizinhança. “Eles mudaram para cá há um ano mais ou menos, eram tranquilos, nunca tiveram problemas com ninguém.”
Fim da paz
Na manhã desta quinta-feira (20), a tradicional brincadeira das crianças foi substituída por conversas apreensivas e limpeza dos trechos da rua onde havia marcas de sangue. “A rua é sempre cheia de crianças o dia inteiro. Hoje está todo mundo dentro de casa. O pessoal está assustado, com medo, a gente não sabe o que vai acontecer agora. Ninguém conseguiu dormir direito”, afirmou uma das moradoras.
Na casa do policial, ninguém quis comentar o assunto. A vizinha que era alvo de reclamações da família não foi encontrada.