A mulher e a tia do soldado da Força Nacional Abinoão Soares de Oliveira, morto aos 34 anos por afogamento durante treinamento em uma represa próxima da usina de Manso, vieram do estado do Alagoas para assistir a apresentação do relatório do inquérito policial que apurou o caso pela delegada Ana Cristina Feldner.
Shirly Tiburcio Barros, casada há 12 anos com o policial, com quem tem três filhos, e a tia dele, Sandra Márcia Albuquerque, choraram durante toda a apresentação.
Elas se mantiveram unidas pelas mãos e em muitos momentos o choro, na forma de soluço, chegou a ser ouvido por todos: jornalistas, delegados e advogados que estavam na sede da Diretoria da Polícia Civil.
Ao final, Shirly e Sandra se disseram revoltadas com o que os instrutores da Polícia Militar mato-grossense fizeram com Abinoão. “É revoltante, não dá para acreditar numa crueldade dessas, tamanha barbaridade”, assinalou Shirly.
Além de dados e informações levantadas com depoimentos, pericias e outros serviços, ambas viram fotos e assistiram a um vídeo sobre o treinamento que mostra Abinoão sendo pressionado embaixo da água por dois instrutores.
“Não se trata de um crime militar, como querem fazer crer, mas da ação de assassinos. Quero que esses assassinos não fiquem impunes, que paguem pelo que fizeram com exoneração, perda da farda e cumprindo pena na prisão”, desabafou Shirly.
No entendimento da esposa, Abinoão foi vítima da inveja dos instrutores, talvez pelo fato de ter sido oficial (tenente) temporário do Exército Brasileiro do Núcleo de Formação de Oficiais da Reserva das Forças Armadas, função na qual se engajou depois de passar pelo serviço obrigatório militar.
Na avaliação da mulher, Abinoão estava sendo mais cobrado, como se tivesse a obrigação de ser melhor, mais forte e inteligente do que os colegas policiais que participavam do curso, como se isso fosse condição básica para sua formação.
Indignada, Sandra Márcia acha que o estado de Mato Grosso deve uma resposta à família do sobrinho morto e dos outros militares que também foram vítimas de tentativa de homicídio durante o treinamento.
Por diversas vezes, a tia de Abinoão questionou a delegada Ana Cristina sobre a presença do tenente Evane nos treinamentos. O militar, conforme apurou a polícia, abandonou seu plantão no Bope (Batalhão de Operações Especiais) para integrar o grupo de instrutores, sem o conhecimento do comandante da unidade militar.
Sandra e Shirly, que estavam acompanhadas do advogado cuiabano Alfredo Gonzaga, destacaram e agradeceram o trabalho da delegada nas investigações. “A senhora teve pulso, técnica e agiu profissionalmente. Nossa família está agradecida”, completaram.
A família, por meio do advogado constituído em Cuiabá, pretende cobrar respostas nas esferas criminal, cível e militar da Justiça sobre a morte.