Uma comitiva formada por lideranças da aldeia Monte Alegre da etnia Xukuru-Kariri de Palmeira dos Índios (136km de Maceió) ocupa neste momento as dependências da Delegacia Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), próximo a praça Sinimbu, Centro da capital alagoana.
Os índios trazem o apelo da comunidade para reativação dos serviços básicos de saúde, interrompidos pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que alega o não reconhecimento da comunidade pelo poder público federal.
A aldeia Monte Alegre é a oitava da etnia Xukuru-Kariri na região, fruto de uma retomada de terras indígenas, realizada ao longo do ano de 2008 por índios que viviam até então nas periferias de Palmeira dos Índios. A situação de miserabilidade em que vivia a comunidade foi um propulsor para sua mobilização no sentido de retomarem as terras imemoriais de seu povo.
Ocupando as terras do ex-vereador Val Basílio, indiciado na operação
Carranca da Polícia Federal por desvio de verbas públicas, os cerca de 300 indígenas ainda aguardam a regularização de suas terras, processo em andamento na justiça local e na Funai.
Uma série de audiências já foi realizada entre os representantes do ex-vereador e o orgão federal de proteção ao índio. Apesar da disponibilidade para ceder as terras em definitivo para seus donos originários, a família Basílio recusou a oferta de R$ 97 mil da Funai, valor obtido após levantamento fundiário. Os representantes da família afirmam que o valor a receber seria de R$ 400 mil.
Nas audiências judiciais em Arapiraca, foi solicitado do Ministério Público Federal (MPF) a produção de um relatório antropológico para reconhecimento da comunidade. Há cerca de um mês, o antropólogo do MPF, Dr Ivan Soares, esteve na aldeia para fazer a observação in loco da situação dos indígenas. O procurador federal José Godoy é o responsável pela finalização do documento, que agora condiciona os benefícios da comunidade.
A comunidade, apesar da demora do poder público para consolidar as políticas na região indígena, já inaugurou o terreiro de sua religião, o Ouricuri. Além do cotidiano místico-religioso e das 26 casas construídas, há, nas terras, produção de banana, milho, feijão, macaxeira e arroz em roças familiares e comunais. A Universidade Federal de Alagoas promove mais de um projeto sócio-cultural na comunidade, nas áreas de psicologia, comunicação e serviço social.
A própria Funasa já passou por um tempo de atendimento das necessidades da aldeia Monte Alegre, após muita pressão realizada pelas lideranças. “Pra você ver, a Funasa foi lá e vacinou todo mundo contra a gripe A. Agora, sem mais nem menos, eles interromperam o atendimento e temos muitas crianças lá que precisam dessa assistência”, alertou o cacique Chiquinho Xukuru-Kariri.