Foi uma noite de tensão, emoção, aflição e alívio no Pacaembu. A quinta-feira que estava programada para ser toda do velho "São Marcos", ídolo palmeirense que comemorava 500 partidas pelo clube, também foi de outros dois santos. No triunfo por 3 a 0 sobre o Vitória, que classificou o time para a fase internacional da Copa Sul-Americana, o torcedor conheceu "São Tadeu", autor de dois gols, e "São Marcos Assunção", autor do gol de falta que evitou que a decisão da vaga fosse para as penalidades.
Derrotado na primeira partida por 2 a 0, há uma semana, no Barradão, o time paulista conseguiu uma virada na base da raça, da garra e com o apoio de mais de 20 mil torcedores. O técnico Luiz Felipe Scolari provou que o espírito "copeiro" que o consagrou na primeira passagem pelo clube, ainda vive. E o Alviverde fez o que parecia improvável.
A equipe que só havia vencido por três gols ou mais de diferença em duas oportunidades este ano – 5 a 1 sobre o Mogi Mirim, pelo Campeonato Paulista, e 4 a 0 sobre o Flamengo-PI, na primeira fase da Copa do Brasil – repetiu a façanha.
O adversário do Palmeiras nas oitavas de final será U. de Sucre (BOL), Colo Colo (CHI) ou Cerro Porteño (PAR). O terceiro espera pelo confronto entre os dois primeiros. Pelo Brasileirão, o Verdão volta a jogar às 16h de domingo, contra o Guarani, em Campinas. Já o Vitória visita o Cruzeiro, no mesmo dia, mas às 18h30m, no Ipatingão.
Pressão, tensão e Tadeu
O técnico Luiz Felipe Scolari não pode reclamar da torcida. Quem enfrentou a noite fria da capital paulista e compareceu ao Pacaembu empurrou o time do primeiro minuto até mesmo quando os jogadores já estavam nos vestiários para o intervalo. Mas a sincronia dos torcedores, que criaram um mosaico com o rosto de Marcos e o número 500 – alusivo à quantidade de jogos pelo clube -demorou a aparecer em campo.
Usando o mesmo time que venceu o Atlético-PR no último sábado, pelo Brasileiro, Felipão viu o Palmeiras nervoso. Embora tivesse a bola por mais tempo, a equipe não conseguia marcar. Foram raras as vezes em que o goleiro Marcos foi ameaçado. A mais amedrontadora delas foi quando Ramon bateu uma falta, aos dez minutos. O camisa 10 do Vitória, que chegou a marcar na primeira partida, em Salvador, bateu para fora. Alívio nas arquibancadas e no banco de reservas alviverde.
A tensão atingiu também Scolari, que não parava de gesticular à beira do gramado. Aos 14, o treinador chegou a ser alertado pelo árbitro Heber Roberto Lopes de tanto que reclamava. A aflição de Felipão tinha motivo. Mesmo tendo a posse de bola, o Palmeiras não conseguia vencer Viáfara e a sua própria ansiedade por sentir que tinha que fazer logo um gol.
O panorama só melhorou depois de uma mudança de posicionamento em campo. Rivaldo, responsável pelo lado esquerdo, foi deslocado um pouco mais para o meio. Fabrício, zagueiro canhoto celebrado por Scolari, ficou na região para apoiar o ataque. O resultado veio aos 27 minutos, quando Luan fez boa jogada pela direita e tocou para Rivaldo. O meia/volante/lateral chutou forte, mas Viáfara novamente afastou o perigo.
A sequência palmeirense continuava tensa. Marcos Assunção bateu falta, e Viáfara tirou. Tinga cruzou na área, mas a cabeçada de Tadeu parou na trave. O relógio, para os palmeirenses, era um inimigo implacável e cruel.
Só nos acréscimos do primeiro tempo as sensações mudaram no Pacaembu. Da tensão, veio um alívio. Da precisão de um passe, veio a esperança. No toque certeiro de Marcos Assunção, um dos homens de confiança de Scolari, saiu o gol palmeirense. O passe foi para Tadeu, que só encobriu Viáfara e correu para o abraço, aos 47 minutos.
Abraços no campo e nas arquibancadas. Aplausos de Felipão para seus comandados. Um toque de esperança para a classificação. Um terço da missão estava cumprida.
"São Tadeu". "São Marcos Assunção"
Para ter a missão completada com sucesso, o Palmeiras precisava de mais dois gols – 2 a 0 empataria a conta e levaria a disputa para os pênaltis. Mas o Vitória voltou disposto a não facilitar as coisas para os paulistas. Ex-dirigente do Alviverde, o técnico Toninho Cecílio, do rival baiano, tratou de adiantar seus jogadores para conter a euforia palmeirense. Assim, ele aproximou Thiago Humberto e Elkeson de Schwenck. Mas os baianos não contavam com uma lambança do colombiano Viáfara.
Aos 12 minutos, o goleiro resolveu trocar as mãos pelos pés e complicou a vida do Vitória. Ele segurou a bola na lateral de campo e, pressionado por um rival, tocou para trás. Fabrício pegou a sobra e viu Márcio Araújo livre pelo lado direito. O volante, improvisado na lateral, chutou cruzado e a bola sobrou para Tadeu marcar novamente: 2 a 0.
Com dois gols, Tadeu se destacava como o nome do jogo. O placar empurrava a decisão para os pênaltis. E “São Tadeu”, improvisado no posto de salvador no gelado Pacaembu, entregava a definição da vaga para “São Marcos”, homenageado da noite e santo de fato na visão dos palmeirenses.
O volume de jogo palmeirense era muito superior ao do time baiano. Enquanto os paulistas já tinham dado 20 chutes em direção ao gol até os 35 minutos do segundo tempo, a equipe rubro-negra só havia arriscado em quatro oportunidades. No entanto, mesmo com o domínio, o terceiro gol, aquele que garantiria a classificação sem o nervosismo dos pênaltis, teimava em não sair.
Conforme os ponteiros do relógio avançavam, o Vitória se mostrava satisfeito com a loteria das penalidades. Elkeson, quando tinha a bola nos pés, procurava segurar um pouco as jogadas para deixar a partida mais morna. Nas arquibancadas, as palmas se alternavam com os dedos cruzados. E nascia outro santo no Pacaembu, outro ‘santo’ chamado Marcos dos Santos Assunção (seu nome completo).
Aos 43 minutos, o Palmeiras conseguiu uma falta na intermediária. Especialista, Marcos Assunção secou a bola com a camisa, se concentrou e disparou a bomba! O que parecia impossível estava acontecendo. O placar de 3 a 0 colocava o Alviverde na fase internacional da Sul-Americana. Festa nas arquibancadas. Era a noite de "São Tadeu" e "São Marcos Assunção" e claro, "São Marcos".