Certo homem de meia idade procura um médico reclamando de fraqueza e tonturas. Pede um remédio forte para ficar melhor. O médico, um dos melhores da região, fez algumas perguntas ao paciente e sentencia: “O senhor não precisa de medicamento, mas de algo que tenho em meu quintal: beterraba”. O velho médico recomendou apenas que o paciente se alimentasse melhor, já que ele estava anêmico. Esta cena se passou na Grécia, em 430 a.c.. O médico era ninguém menos que Hipócrates, o pai da Medicina.
Passados quase 2500 anos, a Medicina deu saltos imensos, porém, apesar disso, muitos médicos têm esquecido algumas primícias da prática médica e privilegiado apenas a tecnologia.
Uma dessas primícias, conforme lembra o médico Hélvio Chagas Ferro, é ouvir o paciente. É dar atenção aos seus relatos, sintomas e o próprio contexto de vida em que vive. “Medicina de ponta é o médico conseguir dar um diagnóstico preciso munido apenas de caneta, papel, carimbo e raciocínio. A alta complexidade e a tecnologia de ponta não estão nos caros equipamentos produzidos pela ciência, mas no médico”, disse Ferro, que coordena a equipe de Terapia Nutricional da Santa Casa de Maceió, formada ainda por nutricionista, enfermeira, farmacêutico e agora por um fonoaudiólogo. Helvio Ferro afirma que apesar de toda a tecnologia, muitos médicos ignoram o exemplo deixado por Hipócrates, na Grécia, particularmente no tocante à nutrição.
“Muitos pacientes são encaminhados para cirurgia sem que o médico avalie o quadro nutricional. E não estamos falando apenas de pacientes de baixa renda. A rotina frenética cotidiana e má alimentação (leia-se coxinhas, pastéis, sanduíches, refrigerantes, doces etc.) têm levado muitos pacientes, com alto poder aquisitivo, a apresentarem quadro de desnutrição”.
Pesquisa realizada no País em 2000 envolvendo 5 mil pacientes e 23 centros de referência – dentre eles a Santa Casa de Maceió – revelou que 51% dos pacientes internados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) estavam desnutridos. O estudo configura até hoje como a maior pesquisa realizada no mundo sobre terapia nutricional. Oito anos depois, outra pesquisa – desta vez realizada no Rio de Janeiro – repetiu o resultado.
“As faculdades precisam formar melhor durante o período da graduação, mas todos devem estar atentos à terapia nutricional e reciclar conhecimentos sobre o tema. Um paciente desnutrido tem mais riscos e demora mais a se recuperar, daí a importância da nutrição no pré-operatório”, finalizou.