O céu é logo ali, e o inferno também. Fluminense e Atlético-MG pisaram no gramado do Engenhão na noite desta quinta-feira, pela 24ª rodada do Campeonato Brasileiro, rodeados de pressão. Três jogos sem vencer de um lado, uma crise de tamanho assustador do outro. Era vencer ou vencer. Venceu o time de melhor campanha. E por goleada. O placar de 5 a 1 para o Tricolor, dono do melhor ataque da competição (45 gols), foi construído na maior parte pelo poder de fogo de defensores. O lateral Carlinhos (duas vezes) e os zagueiros Leandro Euzébio e Gum marcaram. O quinto foi do meia Marquinho, já nos acréscimos. Daniel Carvalho, de falta, fez o gol de honra do Alvinegro mineiro na derrota que causou a demissão de Vanderlei Luxemburgo.
Com a vitória folgada, o Fluminense chega a 45 pontos, tira a vice-liderança das mãos do Cruzeiro, a coloca embaixo do braço e vai atrás do Corinthians, que tem 47 (com um jogo a menos). Mesmo se vencesse, o Galo não sairia da zona do rebaixamento nesta quinta-feira. O time somou só quatro pontos nas últimas seis rodadas. Foi derrotado 15 vezes na competição. Ninguém perdeu mais. Os atleticanos têm 21 pontos e estão em 18º. Se demorarem um pouco mais para despertar, correm o risco de acordar na Série B.
As equipes voltam a jogar no próximo domingo. O Fluminense enfrenta o Vitória, às 16h (de Brasília), no Barradão, em Salvador. O Atlético-MG recebe o Grêmio, às 18h30m, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas-MG.
Flu domina, e Galo se esforça
Ele não poderia faltar. Não ele. O único jogador do Fluminense a disputar todas as partidas do Campeonato Brasileiro. Não o craque do time, o bom de bola. Darío Conca ignorou as dores na sola do pé direito e puxou a fila na entrada do campo. O capitão caminhou com cinco pequenos tricolores agarrados em cada braço. Para um time que sofre com o excesso de lesões, um reforço importante. Importância que ficou clara aos 11 minutos. O argentino cobrou escanteio, e o zagueiro Leandro Euzébio subiu bonito para cabecear e fazer o quinto gol dele no Nacional.
O Atlético-MG, então de Vanderlei Luxemburgo, vive fase difícil, mas tem valores. Réver, zagueiro convocado para a Seleção Brasileira, Diego Tardelli, Obina, Daniel Carvalho. O gol sofrido não abateu o Galo. O time respirou fundo, botou a bola no círculo central e foi buscar o empate. Tardelli e Obina pediram jogo, o volante Serginho tentou ajudar na armação, e Daniel Carvalho apareceu. Em jogada individual na entrada da área, sofreu falta e cobrou aos 19. O camisa 10 colocou no canto direito de Rafael, que pulou atrasado e não conseguiu alcançar: 1 a 1.
Livre das dores musculares, Deco voltou ao time de Muricy Ramalho. O meia luso-brasileiro tocou pouco na bola, não teve eficiência na armação e quase não se aproximou de Rodriguinho e Washington no ataque. Chegou a ouvir algumas vaias dos poucos torcedores presentes no Engenhão. Foi num momento em que o visitante esteve melhor, quando Obina chegou a ter a chance de virar, mas chutou fraquinho da entrada da área.
Com dificuldade para chegar ao gol atleticano na base do toque de bola, os tricolores começaram a arriscar. Em três chutes seguidos de longe, voltou a ficar na frente. Rodriguinho bateu para fora, Conca parou no goleiro, Carlinhos foi à rede. Pela esquerda, o lateral cortou para o meio e disparou. Fábio Costa aceitou, aos 35. Washington quase ampliou, logo depois, mas errou por pouco. Convocado por Mano Menezes, Mariano também quis tentar. Desta vez, Fábio Costa foi bem e espalmou de ‘manchete’ o chute forte. Primeiro tempo de domínio do Flu, e nível técnico ruim.
Galo tem dois expulsos, e Flu marca mais três
As áreas técnicas do Engenhão cheiravam a título brasileiro nesta quinta-feira. Muricy Ramalho de um lado, tricampeão, Vanderlei Luxemburgo do outro, dono de cinco títulos. Ninguém ganhou mais do que ele. Como o sexto não virá nesta temporada, o treinador tenta evitar, na base do grito, que um rebaixamento fique registrado em seu currículo. Luxa não poupou a voz, gesticulou sem parar, deu bronca. Pediu a Diego Souza que corresse, ocupasse espaços. O meia entrou no lugar de Obina no intervalo. Muricy não deixou barato. Berrou como sempre, lamentou erros de passe, chamou a atenção de todos os setores do time.
Apesar da vantagem, o Flu foi melhor, tentou liquidar a parada. A opção preferencial era a lateral direita. Conca e Deco buscavam cair por aquele lado para ajudar Mariano. Os mineiros tinham um Diego Souza em câmera lenta, com Daniel Carvalho e Tardelli discretos. Neto Berola entrou no lugar do volante Serginho para tentar dar vida ao ataque. Só botou correria.
E a situação do Galo piorou quando Alê derrubou Rodriguinho aos 17 minutos, recebeu o segundo amarelo e foi expulso, deixando o Galo com apenas um marcador de ofício no meio-campo e o Flu com mais espaços. Dois minutos depois da expulsão, o Alvinegro sofreu um golpe do qual não iria se recuperar. Mariano cruzou para a área, e o zagueiro Gum cabeceou para baixo e fez o terceiro.
Na noite em que três defensores marcaram para o Flu, um atacante parecia incomodado. Washington quer ser o goleador do Nacional. Com dez gols, está a dois de Jonas, do Grêmio. Na segunda chance que teve no jogo, tentou de longe, mas Fábio Costa defendeu. Se não deu para ser matador, o Coração Valente foi articulador. Aos 30, tabelou com Carlinhos, que fez fila e marcou um belo gol, o seu segundo da noite: 4 a 1.
O Galo foi à lona, não havia mais o que fazer. Se entrou para ser solução, Diego Souza só conseguiu piorar o cenário quando fez falta dura e desnecessária em Carlinhos. E foi merecidamente expulso. Um cartão vermelho melancólico para aquele que é tratado como a maior contratação atleticana na temporada. Chegou a usar a camisa 1. E o ex-jogador do Flu nem viu o seu atual time levar o quinto gol, aos 46, de Marquinho, que substituiu o aplaudido Conca.
O Flu continua firme na briga pelo título, enquanto o Atlético-MG vê sua crise ficar ainda maior. E agora vai tentar escapar da degola sem o técnico contratado para tocar um projeto a longo prazo. Mais um que fica pelo caminho.
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