Após ter criticado duramente a oposição e setores da imprensa nos últimos comícios de Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva baixou o tom de suas declarações em ato político ao lado da candidata do PT à Presidência na noite desta sexta-feira (24), em Porto Alegre.
Citando a eventual vitória de sua candidata, Lula disse que Dilma irá construir "grande unidade" no país, e previu um cenário de ânimos apaziguados após as eleições, sem contestação de resultados.
"Aqui não vai acontecer o que aconteceu no México, que quando o [presidente Felipe] Calderón ganhou, 1 milhão [de pessoas] ficaram na rua protestando, ou no Irã", disse Lula, para afirmar em seguida que "perdeu tres eleições" e nunca fez "ato de protesto porque perdi".
Lula também procurou amenizar o impacto de declarações recentes, quando chegou a dizer que setores da imprensa "destilavam ódio e mentira" em relação a seu governo. Pregou "humildade" e disse que a mídia é "muito importante" ao país.
"A imprensa é muito importante. A gente às vezes fica zangado quando a imprensa fala mal da gente, a gente fica feliz quando a imprensa fala bem. Quando a matéria dos jornais sai falando mal a gente ninguém gosta, quando fala bem o ego da gente cresce. A gente precisa ter humildade. Democracia é exatamente isso, cada um fala o que quer, e o povo na ultima hipótese faz o grande julgamento, balizando e consolidando a democracia", afirmou.
Em outro momento do comício, Lula disse que a "democracia é um valor incomensuravel", do qual "não abre mão". Considerando a vitória de Dilma como certa, disse que a petista "não vai governar com cabeça no passado". "Ela vai governar fortalecendo a democracia, estabelecendo a unidade nesse país."
Ao final de sua participação, o presidente chegou a cometer ato falho ao se dizer triste por estar em seu último comício como "candidato" no Rio Grande do Sul. Corrigiu-se em seguida.
Em discurso, Dilma citou a capitalização da Petrobras concretizada nesta semana para criticar a gestão do PSDB no Planalto.
"Aquilo que eles venderam, hoje nós compramos de volta para o Brasil e para o povo brasileiro", disse a candidata, ironizando a proposta de mudança no nome da estatal para Petrobrax durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Como fez no comício anterior, em Curitiba, na última quarta (22), Dilma atacou a proposta feita pelo adversário José Serra (PSDB) de elevação do salário mínimo para R$ 600, acima dos R$ 538 previstos pelo governo Lula para 2011.
"Agora eles vêm dizer, perto da eleição, que vão dar aumento para o salário mínimo. Não somos bobos, sabemos que quem fala é diferente de quem faz", disse.
O comício em Porto Alegre foi o 19º com participação de Dilma e Lula desde o início oficial da corrida presidencial, em julho. Foi ainda o segundo na capital gaúcha.
Pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (23) aponta o candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, com 46% das intenções de voto contra 23% do candidato do PMDB, José Fogaça. A governadora Yeda Crusius (PSDB), que concorre à reeleição, aparece com 15%. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
A presença de Lula e Dilma no estado é vista como esforço para tentar consolidar eventual vitória de Tarso no primeiro turno.
Lula também já subiu em palanques com Dilma nesta campanha no Rio de Janeiro (RJ), Garanhuns (PE), Curitiba (PR, dois comícios), Belo Horizonte (MG), Osasco (SP), Mauá (SP), São Bernardo do Campo (SP), Campo Grande (MS), Salvador (BA), Recife (PE), Foz do Iguaçu (PR), Valparaíso (GO), Betim (MG), Joinville (SC), Juiz de Fora (MG) e Campinas (SP).