Está sendo desenvolvido em Sergipe um novo tipo de protetor solar. A novidade promete baratear significativamente os custos de produção e venda do cosmético que é o principal aliado no combate ao câncer de pele, o de maior incidência no país.
Desenvolvido pela professora Tatiana Araújo, quando da conclusão do seu doutorado na Universidade Federal de Sergipe (UFS) – atualmente ela leciona no Instituto Federal de Sergipe (IFS) em Lagarto -, o novo protetor solar será uma alternativa aos que se encontram no mercado não só pelo preço, mas também pelo aspecto estético, pois não deixará a região da pele onde ele será aplicado esbranquiçada.
A fórmula tem como principais componentes o fosfato e o carbonato de cálcio, os mesmos já utilizados por médicos e dentistas para a produção de ossos e dentes artificiais.
“Naturalmente essas substâncias já são encontradas no corpo humano. Mas nós conseguimos produzi-las artificialmente, em laboratório. Assim elas são o que chamamos de biocompatíveis”, explica Tatiana Araújo, que toca o projeto em conjunto com a estudante de Automação industrial Priscila Alves de Souza.
Para agir sobre a pele, o fosfato e o carbonato só precisam ser aplicados a um creme ou gel, processo que é feito industrialmente. No desenvolvimento é utilizada a técnica de precipitação, que produz as partículas em escala nanométrica (um nanômetro equivale a um bilionésimo de metro). É justamente essa redução do composto que decorre na transparência e na maior absorção dos raios Ultra Violeta, impedindo que eles prejudiquem o organismo.
Ineditismo
No mercado brasileiro existem basicamente duas opções de filtros solares: os orgânicos e os inorgânicos. O do primeiro tipo, conforme explicação da professora, é o mais comum no mercado, mas apesar de não deixar a pele esbranquiçada pode gerar radicais livres, irritar e pele e expor o usuário ao risco de intoxicação. O inorgânico além da possibilidade de causar irritação deixa a pele esbranquiçada.
“Até já existe um filtro solar produzido no Brasil, mas ele ainda é muito caro. Com esse processo conseguiremos baixar o preço de produção e, consequentemente, tornar o filtro solar mais barato”, confirma a pesquisadora, ressaltando que o produto desse tipo é inédito no país.
Atualmente a fórmula encontra-se nos testes iniciais de comprovação da eficácia. Para tanto ela firmou parcerias com o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em Belo Horizonte, através da professora Edézia Martins Barros de Souza, e com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com o professor Walter Miyakawa.
Depois desse processo ela vai precisar de parceiros que aceitem desenvolver o creme, seja universidade, instituto de pesquisa ou alguma empresa fabricante de cosméticos. Antes disso, entretanto, a fórmula será registrada, garantindo uma das primeiras patentes do IFS.
“Só com o creme é possível testar em pessoas, mas para isso também precisamos da liberação da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], e só quem trabalha com desenvolvimento de cosméticos possui essa licença. Nesse momento é que também poderemos definir o FPS [Fator de Proteção Solar]”, explica Tatiana. Se confirmado todo o cronograma, em até um ano o produto já pode ser fabricado em larga escala.
Câncer de pele
O câncer de pele continua sendo o de maior incidência no Brasil. Até o final do ano, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), serão registrados 113.850 novos casos. Desse total, 53% é de mulheres. O nordeste é a terceira região com o maior número de casos por 100 mil habitantes – 53 nos homens e 61 nas mulheres. Os dados são preocupantes e apontam – em um momento em que as altas temperaturas bateram recorde no país – para a necessidade de prevenção. Um dos meios considerados mais simples e eficazes é o uso do protetor solar.