O Ministério Público de Alagoas tenta localizar testemunhas que ajudem nas investigações sobre as mortes de 31 moradores de rua, em Maceió. Os crimes foram cometidos no período de janeiro deste ano até esta segunda-feira (8). O número corresponde a 10% dos cerca de 300 moradores de rua da capital alagoana. Segundo o MP, pelo menos oito casos estão em fase adiantada de investigações.
"Fizemos uma investigação prévia nas ruas e estamos debruçados, neste momento, sobre oito casos, que teriam sido cometidos por grupos organizados, de extermínio. Em dois casos os suspeitos já foram denunciados e em outros as investigações estão adiantadas em relação à autoria. Ainda assim, detectamos que não há uma ligação direta entre os oito casos", diz o promotor de Justiça Alfredo Gaspar de Mendonça, do Grupo Estadual de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc).
O Instituto Médico Legal (IML), de acordo com o MP, tem remetido, semanalmente, os laudos cadavéricos das vítimas a autoridades policiais. "Já temos 17 laudos. O que tem atrasado as investigações é a ausência de testemunhas, por conta do horário e local dos delitos. Além disso, há um silêncio natural. Quem testemunhou o crime não quer participar das investigações por medo de ser a próxima vítima", afirma Mendonça.
Nesta terça-feira (9), o presidente da Secional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Alagoas, Omar Coêlho de Mello, e o assessor especial da Secretaria de Direitos Humanos da presidência da República, Ivair Augusto Alves dos Santos, devem se reunir com o procurador-geral de Justiça em exercício, Sérgio Jucá, e com o prefeito de Maceió, Cícero Almeida, para discutir os rumos das investigações.
"Existem inquéritos de janeiro sobre esse caso que estão parados. E estamos preocupados com a demora nas investigações, porque temos que preservar o restante dessa população. Nesta reunião de terça-feira vamos apresentar propostas, entre elas o recolhimento de moradores de rua em ginásios, temporariamente, para evitar novos crimes", diz Omar Mello.
Motivação dos crimes
De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, a motivação dos crimes ainda está sendo investigada e o delegado responsável pelo caso só deve se pronunciar sobre as mortes no fim deste mês.
Já o promotor Mendonça acredita que todos os crimes estejam, direta ou indiretamente, relacionados ao uso de entorpecentes. "Mais de 90% dos moradores de rua fazem uso de entorpecentes, e isso os torna bastante vulneráveis a qualquer tipo de violência. Não tenho dúvidas de que grande parte dos crimes esteja relacionada ao uso de drogas, tráfico de drogas, ou até brigas por pontos de tráfico", afirma Alfredo Gaspar de Mendonça.
Tanto a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) quanto o Ministério Público acreditam que os 31 crimes não têm relação entre si.