Especialista alerta para aumento no número de crianças obesas

Assessoria SesauMaria Amália de Alencar, gerente do Núcleo do Programa de Saúde e Nutrição da Diretoria de Atenção Básica da Sesau

Maria Amália de Alencar, gerente do Núcleo do Programa de Saúde e Nutrição da Diretoria de Atenção Básica da Sesau

Quinze por cento das crianças e adolescentes brasileiros estão obesos e pais devem estar atentos para evitar as consequências desse problema. Embora não haja estatística sobre o assunto, em Alagoas, a briga contra a balança tem sido uma realidade cruel para pacientes com pouca idade. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e as Secretarias Municipais desenvolvem um trabalho voltado para o combate à obesidade infantil, principalmente nas ações da atenção básica.

A gerente do Núcleo do Programa de Saúde e Nutrição da Diretoria de Atenção Básica da Sesau, Maria Amália de Alencar, afirma que a luta contra a obesidade infantil começa ainda no período em que a criança inicia o desmame e passa a ingerir outros alimentos.

De acordo com o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), a partir de dados colhidos nos 102 municípios alagoanos, em 2010, foram acompanhadas 78.387 crianças com idade entre 0 a 5 anos. Os primeiros levantamentos mostram que ficou constatado que 17,6% dessas crianças estão com risco de sobrepeso e, portanto, saindo da faixa de adequação e ficando com o peso mais elevado que a altura. Destes casos, 11,1% das crianças são consideradas obesas.

Já em 2009, foram acompanhadas 74.544 crianças na mesma faixa etária. Desse total, 17,06% estavam com risco de sobrepeso e 10,05% com sinais de obesidade. Enquanto isso, no ano anterior (2008), foram avaliadas 72.964 crianças na mesma média de idade. Desse universo, 17% apresentavam risco de sobrepeso e 10% eram consideradas obesas.

A gerente do Núcleo do Programa de Saúde e Nutrição citou uma pesquisa feita no semi-árido brasileiro em 2005. O levantamento “Chamado Nutricional: Um Estudo sobre a Situação Nutricional das Crianças o Semi-Árido Brasileiro” esteve em 38 municípios alagoanos. A pesquisa foi feita pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e Ministério da Saúde com o apoio das secretarias estaduais e municipais de saúde dos respectivos municípios.

Segundo ela, o levantamento das 2.164 crianças de 0 a 5 anos, que foram acompanhadas pelos técnicos, 6,3% encontravam-se com excesso de peso e 6,4% estavam com quadro de desnutrição e déficit de peso para a idade. “Isso mostra que a desnutrição está declinando e a obesidade está aumentando, o que também caracteriza um problema de saúde pública. O nível de sobrepeso chegou ao mesmo nível da desnutrição”, comparou Amália Alencar.

Para especialista, a preocupação com o excesso de peso infantil deve ser iniciada logo após o desmame. Uma criança obesa certamente tem mais chances de se tornar um adulto obeso. “A luta contra o sobrepeso não é uma realidade apenas para a adolescência e a fase adulta”, explicou.

Os maiores erros na alimentação têm início logo nos primeiros meses de vida. Ainda segundo Maria Amália não se pensa em alimentação adequada apenas na idade adulta. “A amamentação e o desmame são fundamentais para o tripé alimentação – peso ideal – saúde. Uma coisa é certa, criança gordinha não é sinônimo de criança saudável”, disse.

De acordo com a nutricionista da Sesau, a vigilância do crescimento, desenvolvimento infantil e o estado nutricional têm que ser levados em conta em todas as consultas. Um calendário do Ministério da Saúde define no primeiro ano de vida que a criança deve ter sete consultas. No segundo ano, pelo menos duas consultas e dos três aos dez anos de idade tem que ter pelo menos uma consulta anula. Essas consultas devem acontecer independentemente de as crianças estarem ou não doentes. A partir dos 11 anos, são considerados adolescentes.

“Durante essas consultas, os profissionais de saúde medem e verificam o peso da criança. A partir desses dados, fazemos uma avaliação antropométrica onde verificamos o peso e a altura em relação à idade. Desta forma, é preenchida a curva de crescimento na Caderneta de Saúde da Criança que deve ser levada pela mãe ou responsável em todas as consultas”, explicou Amália Alencar, acrescentando que a curva de crescimento é diferente para meninos e meninas.

Bons Hábitos – Conforme Amália Alencar, os hábitos alimentares são formados nos dois primeiros anos de vida. É nessa fase que os alimentos são introduzidos. Ela orienta que as crianças ainda não conhecem o sabor e a textura dos alimentos.

“Apresentar os alimentos às crianças requer um exercício de paciência. Não se pode dizer que a criança não gosta de legumes, se eles foram apresentados apenas uma vez. São necessárias pelo menos dez apresentações para poder dizer que a criança realmente não gosta de determinada comida. Só para exemplificar, a maçã deve ser dada à criança amassadinha, raladinha, cortada em pequenas fatias”, explicou.

Uma outra dica da técnica é que os pais devem criar o hábito, logo no primeiro ano de vida da criança, de todos sentarem-se à mesa nas horas das refeições para se alimentar de maneira saudável e balanceada. “No primeiro ano de vida, a criança já deve ter a mesma alimentação das demais pessoas da família”, informou acrescentando que muitas mães desistem de continuar apresentando o mesmo alimento aos filhos por achar que eles não gostam.

“Logo no início de cada uma das apresentações de determinado alimento, as crianças têm um reflexo na língua que empurram o alimento para fora. Esse movimento faz a mãe crer que é uma repulsa à comida. Os alimentos não devem ser processados ou liquidificados. A comida deve ser apresentada à criança de forma pastosa, com a consistência de um purê”.

A preocupação dos profissionais da Sesau faz sentido. Pesquisas indicam que uma criança obesa tem 70% de chance de tornar-se um adolescente obeso. Ensinar as crianças e aos adolescentes a ter hábitos alimentares saudáveis não é tarefa das mais fáceis. Nesse aspecto todos concordam, tanto os pais quanto os nutricionistas. Afinal, qual deve ser a receita do bolo?

Um dos primeiros ingredientes na busca por uma alimentação saudável para evitar a obesidade infanto-juvenil é não fazer do alimento uma espécie de compensação. “Têm pessoas que ao ver uma criança chorando logo oferece comida. O que é errado. Nem todo choro é de fome. O choro tem que ser investigado. Pode ser sono, dor ou mesmo para chamar a atenção. Muitas famílias também têm pais ausentes por conta de compromissos profissionais e acham que oferecendo lanches gostosos estão compensando a ausência. O que é outro erro muito grave. A alimentação de uma criança deve ser composta por três refeições principais e dois lanches”,orientou a especialista.

Boa Alimentação – Na avaliação da gerente do Núcleo do Programa de Saúde e Nutrição da Sesau, Amália Alencar, os filhos se espelham nos pais. Portanto de nada adianta a mãe ou o pai mandar o filho comer frutas e verduras, se no prato do adulto tiver apenas frituras e massas.

“Cabe inicialmente aos pais estimular os filhos a consumirem alimentos nutritivos, fontes de minerais, vitaminas, proteínas e fibras como frutas, verduras, legumes, grãos, leite e carnes, considerando a qualidade e a quantidade do consumo. Vale lembrar também que a ingestão de água é de vital importância para o organismo desempenhar suas funções. O caminho certo entre a mesa e a balança não é fácil, mas é possível de ser percorrido”, completou.

Ainda de acordo com a técnica da Sesau, as crianças e adolescentes fazem parte de uma geração que se acostumou desde cedo ao sedentarismo, controle remoto da televisão, videogame, internet, alimentos gordurosos, frituras, refrigerante, enfim, a alguns hábitos que precisam ser reformulados com urgência para poder manter a saúde na infância, adolescência e fase adulta. “A prática de exercícios físicos tem que ser estimulada desde cedo. Ao ficar diante da televisão, a criança fica comendo o tempo todo”, acrescentou.

Pesquisa – Estudos mostram que a obesidade tem componentes genéticos, ambientais e comportamentais. Nos fatores genéticos entra a história familiar. Se um dos pais é obeso, a criança tem 50% de chances de ser também. Se a obesidade estiver presente no pai e na mãe, as chances de o filho também ser obeso sobe para 80%.

Nos fatores ambientais, o foco maior está na alimentação. Até mesmo a inserção das mulheres no mercado de trabalho e a mudança no estilo de vida provocaram mais consumo de produtos industriais, com maior densidade calórica e maior teor de gordura. Esse tipo de alimentação tomou o lugar das verduras, dos legumes e das frutas. Tais alimentos foram substituídos por fast food.

Como fator comportamental, tem destaque até mesmo a violência urbana que impede, por exemplo, que os pais sintam-se tranquilos em deixar seus filho brincarem na rua, de jogar bola ou de esconde-esconde. Isso sem falar no tempo excessivo em frente à televisão ou no acesso à internet.

Dez passos para uma alimentação saudável

A nutricionista Amélia Alencar, dá 10 passos importantes para uma alimentação saudável para crianças menores de dois anos.

1º passo – Dar somente leite materno até os seis meses sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos. O leite materno contém tudo o que a criança necessita até os seis meses de idade, inclusive água, além de proteger contra infecções.

2º passo – A partir dos seis meses, oferecer de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais. Mesmo recebendo outros alimentos, a criança deve continuar a mamar no peito até os dois anos ou mais, pois o leite materno continua alimentando a criança e protegendo-a contra doenças.

3º passo – A partir dos seis meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia, se a criança receber leite materno e cinco vezes ao dia, se já tiver desmamado. Algumas crianças precisam ser estimuladas a comer.

4º passo – A alimentação complementar deve ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando sempre a vontade da criança.

5º passo – A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher. Deve começar com consistência pastosa (papas e purês) e, gradativamente, deve ter a sua consistência modificada até chegar à mesma apresentada à família. No início da alimentação complementar, os alimentos oferecidos à criança devem ser preparados especialmente para ela. A partir dos oito meses, podem ser oferecidos os mesmos alimentos preparados para a família, desde que amassados, desfiados, picados ou cortados em pedaços pequenos.

6º passo – Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida. Desde cedo, a criança deve-se acostumar a comer alimentos variados. Só uma alimentação variada evita a monotonia da dieta e garante a quantidade de ferro e vitaminas de que a criança necessita. Os alimentos devem ser oferecidos separadamente, para que a criança aprenda a identificar as suas cores e sabores. É importante colocar as porções de cada alimento no prato sem misturá-las.

7º passo – Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições. As crianças devem-se acostumar a comer frutas, verduras e legumes desde cedo, pois esses alimentos são importantes fontes de vitaminas, cálcio, ferro e fibras.
8º passo – Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação, pois o seu excesso pode trazer problemas de saúde no futuro.

9º passo – Cuidar da higiene no preparo e manuseio de alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados. Para uma alimentação, deve-se usar alimentos frescos, maduros e em bom estado de conservação. Os alimentos oferecidos às crianças devem ser preparados pouco antes do consumo; nunca oferecer restos de uma refeição. Antes de preparar as refeições deve lavar bem as mãos e os alimentos que serão consumidos, assim como os utensílios em que serão preparados e servidos.

10º passo – Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando sua aceitação. As crianças doentes, em geral, têm menos apetite. Por isso, devem ser estimuladas a se alimentar, aumentar a oferta de líquidos sem, no entanto, serem forçadas a comer.

Fonte: Assessoria Sesau

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