Não existe vantagem pequena em Gre-Nal, um clássico sem matemática, sem métrica, sem padrões lógicos. Todo privilégio é em tamanho GG, todo direito conquistado vale ouro. Que o digam os tricolores. Superior em boa parte do jogo, o Grêmio é quem leva a tranquilidade para casa depois da vitória de 3 a 2 sobre o Inter, na tarde deste domingo, no Beira-Rio. Os gols do time de Renato Gaúcho foram marcados por Júnior Viçosa (que partida dele!), duas vezes, e Leandro. Andrezinho e Leandro Damião marcaram para o Inter.
Foi justo. O Grêmio foi um time mais sólido do que seu rival, que teve a defesa atrapalhada, o meio embolado, D’Alessandro discreto. Os tricolores tiveram momentos de passeio no Beira-Rio. Trocaram passes com a naturalidade com que respiram. O Inter, insistente, buscou o empate com seu goleador, aos 36 do segundo tempo, mas Viçosa marcou de novo aos 41. Jogaço.
A grande vantagem conquistada pelos visitantes reside no saldo qualificado. Como fez três gols na casa do adversário, o Grêmio tem, além do direito de empatar, o bônus de até poder perder por 1 a 0 e por 2 a 1em casa, no próximo domingo. O Inter busca dois gols de diferença para ser campeão gaúcho.
Foi Júnior Viçosa a figura gremista que melhor sintetizou o primeiro tempo de um jogaço no Beira-Rio. Com dez minutos, Renato Gaúcho quis entrar em campo e puxar cada fio de cabelo do atacante até ele clamar por piedade; aos 36, esteve em vias de subir em um trator esquecido no meio das obras do Beira-Rio e usá-lo para atropelar o jogador; aos 38, esteve decidido a embalar o atleta em seu colo, a pedir um aumento salarial para ele, a nomeá-lo titular eterno, presidente vitalício, o cargo que ele bem entendesse no Grêmio. Júnior Viçosa: dois gols perdidos, um gol feito.
Foi Andrezinho a figura colorada que melhor expressou um time que parecia avançar mais na base do talento do que da organização nesse mesmo primeiro tempo, nesse mesmo jogaço. Ele armou e foi desarmado, acertou e errou, avançou e retrocedeu. Mas foi sempre um caminho de saída para o ataque. E fez um gol. Mais do que tudo, fez um gol que parecia desenhar a vitória vermelha. Até Júnior Viçosa contradizer seu concorrente…
Andrezinho marcou primeiro. Com oito minutos, diante de um Grêmio claramente superior em campo, o meio-campista aproveitou jogada de D’Alessandro pela esquerda, ficou com a sobra de Rafael Sobis e mandou chute colocado. Grohe não conseguiu salvar. A fatia mais larga das arquibancadas do Beira-Rio mergulhou em festa. O Inter estava na frente.
Foi a partir daí que Júnior Viçosa virou personagem do jogo – Renato Gaúcho preferiu deixar Borges no banco e montou o time com Escudero ao lado de Douglas na articulação e Vilson como parceiro de Rodolfo na zaga. O atacante, logo depois de ver o rival pular em vantagem, teve sua primeira chance. Bolatti recuou mal, Bolívar perdeu a dividida com Douglas e Viçosa, na hora de fazer o gol, foi superado por Renan. Renato entrou em surto na beira do campo.
O Grêmio, mais encorpado, também teve momentos ruins no primeiro tempo. Entre os 20 e os 35 minutos, o Inter, novamente formatado no 4-5-1, mas agora com Rafael Sobis no lugar de Oscar, conseguiu chegar bem na frente. Marcelo Grohe salvou chutes de Andrezinho, Kleber e Rafael Sobis, que também mandou pancada por cima.
Mas aí o Grêmio conseguiu se estabelecer novamente em campo. E se aproximou do empate. Com quem? Com Júnior Viçosa. Mário Fernandes deixou a zaga do Inter grogue e acionou o atacante. Cara a cara com Renan, ele bateu para fora. Renato Gaúcho não acreditou. Foi em direção ao banco de reservas e sentou lá. Parecia pensar em formas de torturar seu atacante.
Mal podia prever o que aconteceria em seguida. Em um lance que parecia despretensioso, Rochemback lançou Viçosa pelo meio. A zaga do Inter comeu todas as moscas que passeavam pelo ar do Beira-Rio e permitiu que o atacante disputasse no alto com Renan. O gremista se deu melhor. Gol do Grêmio. Ah, Júnior Viçosa: tão odiado, tão amado, tão odiado, tão amado…
Foi um apagão que Paulo Roberto Falcão diagnosticou como culpado pela derrota de 2 a 1 para o Peñarol na quarta-feira. Naquele jogo, o Inter conseguiu levar um gol com 11 segundos na etapa final – e outro aos cinco minutos. Desta vez, demorou um pouco mais. Aos 40 segundos, o Grêmio virou o jogo. Viçosa acionou Leandro, que bateu cruzado. Parecia piada de mau gosto da defesa do Inter. Apagão, o retorno: o Grêmio assumia as rédeas de jogo.
O que se viu na sequência do gol foi um time inflado de confiança e outro constrangido por seus próprios erros. Por cerca de dez minutos, o Grêmio passeou. Trocou passes, envolveu o adversário, triangulou, se infiltrou pelos lados. A zaga colorada passou o tempo todo procurando Leandro. Em vão. O guri passava reto por seus marcadores.
A torcida do Inter passou a gritar o nome de Oscar. Falcão atendeu. E chamou junto o argentino Cavenaghi. Saíram D’Alessandro, muito vaiado, e Rafael Sobis. Em seu primeiro lance, Oscar foi parado com toque de mão de Fernando. Na cobrança, Andrezinho acionou o jovem meia colorado, que mandou chute com muito perigo. A bola cruzou a área. Quase. Pouco depois, Oscar recebeu na entrada da área. E mandou o chute, novamente para fora.
O Inter partiu para o ataque. E o Grêmio para o contra-ataque. Escudero poderia ter matado o jogo. Não fez, e deu a chance para Leandro Damião, dentro da área, desviar para o gol. O Inter empatava. Dos males, era o menor para os vermelhos. Era…
Era, mas não foi. Porque o Grêmio fez mais um. E com ele, Júnior Viçosa, tão odiado, tão amado. Foi aos 41 minutos, em lance muito parecido com o do primeiro gol, novamente de cabeça, novamente na saída de Renan, novamente com uma zaga pasma. Viçosa, o homem Gre-Nal, o novo integrante do grupo de atletas que decidem clássicos!
O Inter tentou uma última reação. Inútil. Era um domingo para o Grêmio, para Júnior Viçosa, para Renato Gaúcho tratar seu atacante a pão com mel, com todo o carinho, sem bronca, sem torturas, sem trator. A vantagem é toda tricolor. E não existe vantagem pequena em Gre-Nal.