11/9: "cachorros têm suas histórias contadas, mulheres não"

Brenda foi a primeira mulher aceita no Corpo de Bombeoros de NY.

DivulgaçãoBrenda Berkman e Regina Wilson participaram de debate no 92Y Tribeca

Brenda Berkman e Regina Wilson participaram de debate no 92Y Tribeca

Brenda Berkman e Regina Wilson trabalharam no resgate às vítimas após os atentados de 11 de setembro. Dez anos depois, elas pedem mais visibilidade para os feitos realizados por mulheres em grandes tragédias. Em uma conversa realizada no centro cultural 92Y Tribeca, ambas falaram sobre a luta pelo reconhecimento e o preconceito que ainda enfrentam por terem escolhido uma atividade tradicionalmente masculina. Para que esse quadro mude, suas histórias precisam aparecer. "Parece que as mulheres não são importantes o suficiente para terem suas histórias contadas. Os cachorros, sim", compara Brenda.

"Muita gente não se deu conta – aqui nos Estados Unidos e em outros países – que muitas mulheres participaram de todas as etapas da tragédia. Elas estavam lá embaixo quando o primeiro avião atingiu a Torre Norte, e permaneceram lá durante o resgate inteiro", diz Brenda Berkman, 59 anos, a primeira mulher a ser aceita no FDNY, o Corpo de Bombeiros de Nova York, na década de 1970. Ela cita o fato de a cobertura dos atentados ter sido em cima dos bombeiros – a maioria homens – e por não ter havido nenhuma vítima entre os bombeiros mulheres. "Por que não estamos contando essas histórias?", questiona Brenda.

Segundo ela, quando o 10º aniversário se aproximou, achou que seria uma boa oportunidade para as pessoas saberem que havia mulheres lá, fazendo o mesmo trabalho dos homens. "A data pode servir para afirmarmos que a história mostra que as mulheres estavam lá. Para mim, há histórias inspiradoras, que mostram o quão forte é o nosso país. Nós não impedimos mais de 50% da nossa população de ser patriótica, de servir à nação, de servir à cidade. As mulheres estão fazendo tudo isso, na verdade. E por que não estamos contando essas histórias?"

Regina Wilson, 41 anos, que é bombeiro e já trabalhou no recrutamento – principalmente de mulheres – para o FDNY, diz que as principais dificuldades em convencê-las vêm da falta de visibilidade e do problema que é mostrar que elas podem fazer aquele trabalho. "Às vezes eu falava com recrutas homens, que me perguntavam, ‘você é bombeiro? você não sobe nos prédios, certo?’", relata. Regina entrou para o Corpo de Bombeiros há 12 anos. Ela faz parte das 29 mulheres que compõem as 11 mil pessoas da corporação nova-iorquina.

Regina é uma das personagens do documentário Beyond Bravery: The Women of 9/11 (Além da Bravura: As Mulheres no 11/9), produzido pela rede CNN. Brenda, que também teve sua história contada na produção, compara a visibilidade das mulheres no 11/9 ao serviços prestados por elas na Segunda Guerra Mundial. "Levou 60 anos para o Congresso reconhecer o trabalho das mulheres no conflito. Eu não vou estar aqui seis décadas após meus anos de serviço. Por que levou tanto tempo para essas mulheres serem reconhecidas? Parece que as mulheres não são importantes o suficiente para terem suas histórias contadas. Os cachorros, sim", reclama a bombeiro aposentada.

"As histórias são sempre as mesmas. Os livros são sempre sobre os mesmos personagens. Você nunca vê pessoas de cor, e são sempre homens, nunca mulheres. É como se não existíssemos. Muitas de nós ficaram muito tempo lá (no World Trade Center). Eu fiquei todo o mês de dezembro lá (trabalhando no Marco Zero)!", relata Regina, acrescentando que às vezes é chamada de "fireman", termo que denomina o combatente de incêndios no gênero masculino, e não "firefighter", que serve para ambos. A companhia de Regina ficou um mês no World Trade Center após os atentados. Segundo ela, o local "parecia uma zona de guerra".

Fonte: Terra

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