Em carta enviada ao seu partido, o PC do B, o ministro do Esporte, Orlando Silva, afirmou que as denúncias de desvio de verba na pasta não vão "intimidar" a legenda e citou o poeta chileno Pablo Neruda, dizendo que se sente "indestrutível".
"Neste momento, como disse Pablo Neruda em sua carta ao Partido, me sinto indestrutível, porque contigo, meu partido, não termino em mim mesmo", afirmou Orlando Silva na carta lida durante a abertura da 17ª Conferência do PC do B do Rio de Janeiro, realizada na última sexta-feira (21). O texto foi publicado no portal Vermelho, do PC do B.
Nesta terça (25), o ministro volta ao Congresso para se defender das denúncias de que comandou um esquema de cobrança de propina ligado ao programa Segundo Tempo, que visa incentivar a prática esportiva entre crianças e adolescentes. Na semana passada, ele já falou à Câmara e ao Senado, onde negou participação em supostas fraudes.
Orlando Silva também citou na carta a Guerrilha do Araguaia, revolução socialista iniciada pelo PC do B durante a ditadura militar. "Não houve, não há e não haverá nunca ninguém capaz de nos intimidar. Nossa força vem dos que foram caçados no Estado Novo, dos que tombaram no Araguaia, dos ideais dos que foram fuzilados covardemente na Chacina da Lapa."
"Nos tempos de terror usavam a tortura, prisão e assassinatos. Hoje, as mesmas forças usam o linchamento político, a execração pública para eliminar nossos companheiros. Não nos iludamos, o objetivo final e derrotar o projeto transformador liderado pela presidente Dilma", diz o ministro na carta.
Durante a conferência do PC do B, foi apresentada uma moção de apoio a Orlando Silva "face aos ataques que a mídia hegemônica tem, nos últimos dias, desfechado contra o ministro e o partido".
Denúncias
O policial militar João Dias Ferreira é o pivô das denúncias contra Orlando Silva, acusado pelo policial de comandar um suposto esquema de desvios no ministério. Em reportagem publicada pela revista "Veja" na semana passada, o PM disse que o ministro teria recebido um pacote com notas de R$ 50 e R$ 100 na garagem do ministério.
Orlando se defende dizendo que a denúncia é uma "reação" à cobrança do ministério, que pede a devolução, por supostas irregularidades, de R$ 4 milhões recebidos pelas ONGs do policial de convênios com o Ministério do Esporte.
Em depoimento na Polícia Federal na segunda-feira, o PM João Dias informou que 20 ONGs o procuraram com interesse de delatar o suposto esquema de propina que beneficiaria o PC do B. Além disso, ele disse que 10 entidades aceitaram pagar pedágio ao partido. Dias afirmou não ter provas específicas contra Orlando Silva e o atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que foi ministro do Esporte entre 2003 e 2006.
Veja abaixo a íntegra da carta de Orlando Silva ao PC do B:
"Camaradas,
Nosso trabalho à frente do Ministério do Esporte produziu êxitos e vitórias para o nosso país. Nossa condução é pautada pelo respeito sagrado à coisa pública e pelos nossos compromissos históricos de luta pela transformação do Brasil.
Vocês têm acompanhado os ataques violentos, as mentiras e calúnias, sem provas, que tentam imputar a mim e ao nosso Partido. Estes ataques são frutos da cobiça gerada pela dimensão alcançada pelo Ministério e pelo ódio de classe das forças conservadoras.
Repudiamos com todas as nossas forças a campanha difamatória veiculada na grande mídia nacional, que sem nenhum pudor quer macular 90 anos de uma história de lutas. Esta semana, chegaram ao cúmulo de veicular imagem de nosso camarada João Amazonas, atribuindo atos de corrupção ao nosso partido.
Desde o primeiro ataque fomos para luta de peito aberto. Chamamos uma coletiva, exigimos investigação e a apresentação de provas, que até hoje não apareceram. Nossa atitude e a unidade inquebrantável de nosso partido surpreenderam. Não seremos intimidados! Não aceitaremos o roteiro traçado pelas forças conservadoras!
Nos tempos de terror usavam a tortura, prisão e assassinatos. Hoje, as mesmas forças usam o linchamento político, a execração pública para eliminar nossos companheiros. Não nos iludamos, o objetivo final e derrotar o projeto transformador liderado pela presidente Dilma.
Não houve, não há e não haverá nunca ninguém capaz de nos intimidar. Nossa força vem dos que foram caçados no Estado Novo, dos que tombaram no Araguaia, dos ideais dos que foram fuzilados covardemente na Chacina da Lapa.
Nossa força para resistir a esta campanha infame vem da presença de todos vocês nesta conferência. Nada será capaz de nos dobrar porque nossos sonhos não se dobram, crescem a cada dia pela disposição de luta de cada um de vocês.
Neste momento, como disse Pablo Neruda em sua carta ao Partido, me sinto indestrutível, porque contigo, meu partido, não termino em mim mesmo.
Repito para vocês o que disse à Comissão Política Nacional do Comitê Central. Na dureza da presente luta, vivo um novo batismo no partido. No calor da luta de classes reafirmo: Viva o Partido Comunista do Brasil!!!
Orlando Silva Jr."