PMs e bandidos montam ‘empresa do crime’ em Alagoas

Agência Alagoas/ArquivoAgência Alagoas/Arquivo

No Estado mais violento do Brasil, policiais militares trabalham em conjunto com bandidos para obrigar moradores a viverem em paz. O preço para não morrer varia entre R$ 15 e R$ 30 – é o valor da propina para que PMs não acionem criminosos para invadirem as casas. Autoridades afirmam desconhecer a prática e dizem que a ação das milícias "é ato isolado".

No Conjunto Acauã – que integra outros oito conjuntos na parte alta da capital, com 130 mil habitantes – dois policiais militares controlam um grupo de oito homens. É a "empresa do crime", como é chamada na região. Eles obrigam os moradores a pagarem uma taxa, que varia entre R$ 15 e R$ 30 por casa, na região. Quem quiser ter a casa livre da ação dos bandidos, é obrigado a desembolsar o valor.

"Denunciei várias vezes a ação desta milícia que atua por aqui, mas nada foi feito", disse o presidente da associação dos moradores do Acauã, Luciano Marinho.

Marinho está marcado para morrer. Foi ameaçado várias vezes por "atrapalhar os negócios" dos PMs – como diz.

O grupo paralimitar atua onde o Estado chega de forma precária. Duas viaturas fazem a segurança de 130 mil pessoas. Cinco assassinatos são registrados por semana na região.

As cercas elétricas, os muros cercados com pedaços de ferro ou a quantidade de cadeados nos portões não garantem segurança. A pessoa tem que ter dinheiro no bolso. O dono de um estabelecimento comercial não quer aparecer, mas diz que paga R$ 500,00 para ter um policial militar fazendo a segurança de suas mercadorias.

"O PM pode andar armado, sem problema. Se o bandido vier, é bala", disse.

No pacote, está incluída a execução de traficantes ou pequenos ladrões, que sustentam o vício do crack roubando pequenas mercadorias. Na Praça Padre Cícero – a dois quilômetros do Acauã- no Benedito Bentes, a pedra de crack é vendida a R$ 3,00.

"No meu caso, não é um grupo paramilitar, mas um PM que trabalha para mim. Esse serviço é ‘limpo’. ‘Sujo’ é o que outros fazem em outros conjuntos, obrigando o pessoal a pagar para se manter vivo", disse o comerciante.

Bico Legal

A ação das milícias virou pauta na Câmara de Vereadores de Maceió. O presidente do legislativo, Galba Novaes (PRB), tenta convencer o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) e o prefeito Cícero Almeida (PP) a aceitar a legalização do "bico policial". O projeto é o "Bico Legal" – uma ideia que existe em São Paulo.

"As milícias atuam porque o policial usa seu tempo livre para o bico, para complemento de salário. Se se pagar mil reais por este tempo livre e este PM fazendo a segurança do local que ele escolher – a segurança do Estado – veremos uma mudança deste quadro", diz Novaes.

O governador não é favorável ao "Bico Legal" – entende que ele fere a lei; o prefeito da capital ainda não se pronunciou.

"Milícia se acaba oferecendo mais policiais, mais concurso público. O Bico Legal é um paliativo. Chegamos a um ponto em que os paliativos não funcionam mais", disse o presidente da associação dos moradores do Acauã, Luciano Marinho.

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