Você sabia que o filme "Um Bravo do Nordeste", considerado o primeiro longa metragem realizado em solo alagoano, foi rodado inteiramente no município de União dos Palmares? Pois é, pouca gente sabe disso, mas é verdade. Lamentável mesmo é que nada restou dessa obra. O filme desapareceu juntamente do seu realizador, o cineasta pernambucano Edson Chagas.
Segundo o testemunho pessoal de Nice da Rocha Aires (1913 – 2003), uma de suas atrizes que fez o papel de "mocinha", o longa foi filmado na Fazenda Anhumas e na Fazenda Santo Antônio da Lavagem, em União dos Palmares. Dele, ainda participaram Francisco da Rocha Cavalcanti (1897 – 1970), o popular Chico Rocha, tio da depoente – que fez o papel de "vilão" -, bem como os atores Ernani Passos e Adalberto Montenegro e as atrizes Elizabeth Montenegro e Walmira Graça. O roteiro do filme foi de Ernani Passos e Edson Chagas, sendo o diretor de fotografia Guilherme Gaudio e o produtor Antônio Rogato.
Uma curiosidade do filme, é que nas cenas mais perigosas não foram utilizados dublês. Segundo Nice Aires, os próprios atores é que realizavam as cenas, o que fez com que muitas vezes se machucassem. Em uma das cenas, por exemplo, segundo o radialista palmarino Sílvio Sarmento Neto, o vilão Chico Rocha pulava do alto de uma ponte sobre a linha férrea em cima de um trem em movimento. No final da cena, como você pode imaginar, o ator teve que ficar alguns dias afastados das filmagens até recuperar-se.
Natural de São Miguel dos Campos e filho do ex-governador do Estado Francisco Rocha Cavalcanti, Chico Rocha foi um empresário rural e empreendedor de sucesso. Herdeiro da Fazenda Santo Antonio da Lavagem em União dos Palmares, ele conseguiu realizar grandes feitos neste município, a exemplo da instalação de luz elétrica e água encanada na região, bem como a instalação da primeira estação de rádio transmissão e o primeiro cinema de União dos Palmares.
No entanto, apesar de ser um dos homens mais poderosos do Estado, um de seus maiores sonhos era simplesmente participar como ator em um filme como os que ele via nos cinemas da capital do Estado. O sonho se tornou realidade quando ele decidiu financiar a realização do filme "Um Bravo do Nordeste", que custou a soma de 30 contos de réis. Por conta de sua paixão por União dos Palmares, Chico Rocha pediu que o filme fosse inteiramente rodado neste município.
Após um longo trabalho de edição, o filme foi exibido pela primeira vez, em 06 de maio de 1931, numa sessão especial no Cinema Capitólio, em Maceió. Sua estréia, foi marcada por grande festividade no Governo de Hermilo de Freitas Melro. Todos queriam assistir o primeiro filme 100% alagoano.
Logo após essa exibição, o cineasta Edson Chagas botou a única cópia do filme debaixo do braço e ganhou chão. Uma de suas últimas aparições foi em Pilar, ainda em solo alagoano, onde também exibiu o filme.
O filme, conforme relato de Nice Aires, é tipo um faroeste e conta a história de um ladrão de gado que tenta ludibriar um rico proprietário, comprando dele o seu gado. Chegando à fazenda, o ladrão apaixona-se pela filha do coronel e pede ela em casamento. Vendido o rebanho, o fazendeiro vai ao banco depositar o dinheiro, mas o caixa recusa-se a receber em virtude de ser dinheiro falso.
De "Um Bravo do Nordeste", infelizmente, não se tem fotos, nem imagens. Se estivesse preservado, o filme seria importante não só como documento histórico, mas também por ser o único registro de imagens em movimento do município de União dos Palmares na década de 30 do século passado.
Se, atualmente, o filme "Casamento é Negócio?", que o cineasta italiano Guilherme Rogato lançou em 1933, detém o posto de primeiro filme alagoano, isso se deve, simplesmente, pela inexistência – ou seria melhor dizer, pelo sumiço – do filme "Um Bravo do Nordeste".