O cabo da Polícia Militar William de Paula, um dos agentes envolvidos na morte do menino João Roberto, de 3 anos, em julho do ano passado na zona norte do Rio, foi expulso da corporação. A decisão foi publicada na última sexta-feira no Boletim da Polícia Militar, mas só foi divulgada nesta segunda-feira pelo órgão.
Segundo a assessoria da PM, o outro agente envolvido no incidente, o soldado Elias Gonçalves Costa Neto, também foi punido. Ele foi suspenso e também deixa de fazer parte do quadro da corporação.
De acordo com a polícia, as punições se diferenciam somente no nome. Os policiais com mais de dez anos de profissão são expulsos, enquanto os que exercem o cargo há menos de dez anos são suspensos. No entanto, segundo o órgão, em ambos os casos, eles são desligados e não retornam à PM.
Os dois agentes foram submetidos a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), que observou minuciosamente a atuação de ambos na ocorrência que culminou na morte de João Roberto. Um colegiado da corporação concluiu que eles não estão mais capazes de exercer a função de policial militar e o comandante-geral, coronel Gilson Pitta, determinou os afastamentos.
Absolvição
William de Paula foi absolvido em dezembro do ano passado por quatro votos a três da acusação de homicídio duplamente qualificado. O ex-policial foi condenado a sete meses de detenção, em regime inicial aberto, pelo crime de lesão corporal leve praticado contra Alessandra Amorim Soares, mãe de João Roberto, que foi vítima dos estilhaços do vidro do carro, e de seu outro filho Vinícius, na época com nove meses de idade, que sofreu lesão no ouvido em decorrência do tiroteio.
Como pena, Willian de Paula deverá prestar serviços à comunidade sete horas por semana por um ano. Ele foi denunciado por um homicídio qualificado e duas tentativas de homicídio. O advogado do réu, José Maurício Neville, defendeu a tese de que o homicídio foi culposo, sem intenção de matar, e responsabilizou o governo do Estado do Rio pela falta de treinamento dos policiais.
Violência
João foi baleado na cabeça durante uma perseguição de policiais do 19º BPM (Tijuca) a bandidos, na rua General Espírito Santo Cardoso, na Tijuca, zona norte do Rio. Eles seguiam criminosos que teriam assaltado pessoas momentos antes em ruas da localidade.
Os policiais perseguiam um veículo Tipo, da cor preta, onde estariam os criminosos, mas acabaram atirando contra o veículo da mãe do garoto, um Palio Weekend, de cor prata. Além de João, a advogada Alessandra Amorim estava com um bebê de 9 meses, quando o carro foi atingido pelos disparos.
De acordo com imagens de um prédio localizado próximo ao local do incidente, Alessandra jogou a mochila de um dos meninos pela janela, para mostrar aos policiais que os bandidos estavam em outro carro, mas eles dispararam 17 tiros contra o carro que ela dirigia.
Versões
No dia de seu julgamento, Willian de Paula declarou que havia pouca iluminação no local e não reconheceu o carro da vítima, onde estavam Alessandra, João Roberto e outro filho de 9 meses. Segundo o ex-policial, ao sair do carro da polícia para abordar os ocupantes do Palio de Alessandra, ele fez três disparos, sendo um de advertência, outro, que atingiu um carro que estava parado na rua, e um terceiro, que furou o pneu do carro da vítima.
"Infelizmente, eu passei a acreditar que era o carro dos meliantes. No meu inconsciente, era o Fiat Stillo de cor escura", afirmou.
Alessandra Amorim Soares, no entanto, reafirmou durante depoimento ao juiz, que não houve perseguição no dia do incidente e que seu carro foi alvejado quando parou para dar passagem à polícia.
"Quando entrei na rua Espírito Santo Cardoso, já na Tijuca, passou por mim um carro de cor escura em alta velocidade, que acabou batendo em outro carro que estava parado no sinal. Vi pelo retrovisor que uma viatura da polícia se aproximava também em alta velocidade. Então, eu liguei a seta e encostei o carro para dar passagem à polícia. Virei para trás e pedi para o João Roberto se abaixar e também me abaixei com meu outro filho, Vinícius. O João se levantou e perguntou “porque, mamãe?” e eu gritei “abaixa, abaixa”, porque tinha começado a ouvir tiros, mas quando olhei para trás de novo ele já havia sido baleado", declarou.
Segundo Alessandra, foi neste momento que abriu a porta e jogou uma bolsa de criança para fora, para mostrar que não estava sozinha no carro. "Naquela hora eu já tinha percebido que o alvo dos tiros era o meu carro”, contou.
A mãe de João Roberto disse ainda que um policial com uma arma, que ela reconheceu como sendo Willian de Paula, saiu da viatura e perguntou "cadê o cara?". Alessandra respondeu que não havia cara nenhum e que seu filho estava baleado.