Sem-teto é aprovado no vestibular

da Agência Folha, em Porto Alegre

Vinte anos depois de terminar o ensino médio, o sem-teto Geovan Souza de Araújo, 38, conseguiu finalmente ingressar em uma universidade. Retirante do Piauí, ele conseguiu passar no vestibular da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e irá cursar matemática, após uma batalha contra a burocracia.

A falta do comprovante de conclusão do ensino fundamental por pouco não impediu Geovan de fazer a matrícula. Em janeiro, sua família havia pedido uma segunda via do documento à Secretaria Estadual de Educação do Piauí, mas os papéis não haviam ficado prontos até anteontem, quando ele foi fazer a matrícula.

Com a ajuda do DCE (Diretório Central de Estudantes), Geovan conseguiu mobilizar esforços da universidade para tentar uma solução. O caso envolveu até o governador do Piauí, Wellington Dias (PT). Ao saber que o jovem poderia perder a matrícula em razão da falta de documentação, ele requisitou ao secretário da Educação do Piauí, Antônio Medeiros, que se certificasse sobre a vida escolar do rapaz.

A documentação que faltava foi encaminhada pela secretaria à universidade na manhã desta quarta-feira por fax. "Agora trabalho com uma perspectiva de futuro", disse ele, sorrindo, hoje, data-limite para efetuar a matrícula.

A burocracia para se matricular foi apenas o último obstáculo removido do caminho de Geovan. Filho de um lavrador e de uma costureira do município de Palmeirais (112 km de Teresina), ele deixou o Piauí em 1991 para tentar a sorte como retirante em Brasília, Belo Horizonte e, nos últimos dois anos, em Porto Alegre.

Para sobreviver, foi flanelinha e catador de materiais recicláveis. Na capital gaúcha, vive em uma casa do Movimento Nacional de Luta pela Moradia e não tem emprego fixo. Vive de trabalhos esporádicos.

O ingresso na UFRGS se deu na terceira tentativa. Ele foi beneficiado pelo programa de cotas raciais e para estudantes do ensino público. "Só vou me sentir vitorioso de verdade no dia em que puder dizer à minha mãe que pare de trabalhar, porque eu vou dar tudo a eles."

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