Folha de S. Paulo
Apesar da crise econômica e da diminuição da procura, hábitos rotineiros de consumo, como ir ao cinema, depois jantar fora e terminar a noite no motel, ficaram mais caros. É que o preço de boa parte dos serviços aumentou acima da inflação registrada, na esteira da expansão da renda e da alta dos custos das empresas e dos profissionais.
Um dos serviços que mais pesaram no bolso foi o de alimentação fora do domicílio -com uma alta de 0,82% em janeiro e um reajuste acumulado de 11,99% em 2008, segundo dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Apenas a refeição subiu 0,93% em janeiro, após alta de 0,98% em dezembro. Em 2008, aumentou 14,45%.
Esses reajustes superaram a variação da alimentação no domicílio -0,71% em janeiro e 10,68% em 2008. Ficaram acima também da inflação média -de 0,48% em janeiro e de 5,9% no ano passado.
O cinema, assim como outros itens de recreação, também ficou mais caro -alta de 1,27% em janeiro. O motel saltou 1,14%. Se a opção for sair para dançar, é melhor preparar o bolso: a boate aumentou 0,50% em janeiro.
A lista dos serviços que subiram de preço não para por aí. Inclui também altas expressivas em janeiro de itens como hotel (2,60%), mudança (11,93%), manicure (1,38%), estacionamento (0,79%) e conserto de veículos (1,09%), entre outros.
De acordo com Eulina Nunes dos Santos, que é coordenadora de Índices de Preços do IBGE, a maioria dos reajustes ocorreu num cenário de economia ainda aquecida em 2008 e de expansão da renda, o que fez com que os serviços subissem acima da inflação.
O rendimento do trabalhador das seis maiores metrópoles do país avançou, em média, 3,4% em 2008. Alguns itens, porém, responderam a impactos específicos, de acordo com Eulina. É o caso da refeição, pressionada pela alta dos alimentos -11,11% em 2008. O hotel, por exemplo, sofreu a influência indireta da alimentação, que pesou no custo do café da manhã.
Outra fonte de pressão, diz, foi o reajuste do salário mínimo. "Muitos profissionais do setor de serviços recebem o mínimo e mais uma comissão. Por isso, ele é uma importante fonte de custo do setor."
Falta de alimentos
A própria alta dos alimentos, segundo Eulina, impulsionou o custo de vida de muitos prestadores individuais de serviços, que sentiram a alta no bolso e corrigiram suas tabelas para compensar a perda do poder de compra. É o caso da manicure -alta de 0,84% janeiro.
Segundo Carlos Thadeu de Freitas, economista da SLW, o conjunto dos serviços subiu 0,64% em janeiro, acima do 0,34% de dezembro. Em 2008, acumulou alta de 6,4%. Para ele, a alta é um fator de preocupação do BC com a inflação. Já Marcela Prada, da consultoria Tendências, diz que os preços dos serviços, com a retração da economia, devem cair.