Lucas José Cândido da Silva tem oito anos e nasceu com hidrocefalia, doença caracterizada pelo acúmulo de água na cabeça. Nos primeiros meses de vida os médicos diagnosticaram que Lucas não tinha cérebro, apenas tronco cerebral e que não viveria mais um do que um mês. A sobrevivência do garoto, que está prestes a completar nove anos, ainda é um enigma para os médicos, tal qual suas reações aos estímulos. Para a família, Lucas é um milagre.
A família de Lucas procurou o Alagoas24Horas para contar sua história e denunciar a condição desumana como os portadores de necessidades especiais são tratados em Alagoas. Segundo eles, muitas famílias estão sofrendo sem assistência, à espera da desburocratização de processos.
A mãe do garoto, Maria Francisca Ramalho Leite, que é servidora pública municipal, conta que desde 2002 vem pleiteando junto às secretarias de Saúde uma cadeira especial para o seu filho, que ao longo dos anos foi acometido por uma paralisia nos membros. Ela conta que deu entrada com um processo para a aquisição da cadeira na Secretaria Municipal de Saúde, em março de 2002 e até o momento nenhuma resposta foi dada.
Em agosto do ano passado, Maria Francisca e outras mães que são assistidas pela Sociedade Pestalozzi foram contatadas pela entidade para fazer um cadastro com dados dos assistidos e fotografias. O objetivo era a concessão das cadeiras especiais, mediante verba federal encaminhada à Secretaria de Estado da Saúde, através do Prodefal.
“As mães foram chamadas para fazer este cadastro e todas as crianças foram medidas e fotografadas para conseguir as cadeiras especiais. A presidência da entidade assegurou que 136 cadeiras seriam compradas com uma verba federal e que em pouco tempo chegariam. Passaram-se oito meses e nenhum assistido recebeu cadeira. As mães foram cobrar, tanto da entidade como da secretaria, mas nenhuma resposta contundente foi dada. E agora, se as cadeiras finalmente chegarem, teremos que fazer o processo todo outra vez porque as medidas são outras”, desabafou Maria Francisca, acrescentando que Lucas está com escoliose e que uma das pernas está atrofiando porque a cadeira que utiliza atualmente não é apropriada para o seu corpo.
Maria Francisca revelou também que recentemente procurou a Secretaria de Saúde para saber como estava tramitando o processo de número 15031/08 e recebeu a informação de que o processo havia ido para o Corpo de Bombeiros por engano, mas que já havia retornado e se encontrava na mesa dos procuradores do Estado. “O Prodefal explicou que o processo estava sob análise dos procuradores que decidirão – quando convier – se vão licitar ou comprar imediatamente. Quando isso vai acontecer? Ninguém sabe. Enquanto isso nossos filhos estão sofrendo”, argumentou.
Comoção nacional
Há quatro anos, o drama de Lucas José foi apresentado no programa Teleton, do SBT durante campanha nacional de arrecadação de fundos para a AACD. A reportagem foi até a residência onde vive a família de Lucas, no Eustáquio Gomes, para mostrar as dificuldades enfrentadas e como a instituição era imprescindível no tratamento.
“A história do Lucas gerou uma comoção nacional, mas tudo não passou de sensacionalismo. Depois da campanha, não conseguimos receber a cadeira especial e nem auxílio para compra de uma. A AACD de Recife, onde fazíamos tratamento, informou que não iríamos receber por não sermos de Recife”, disse Maria Francisca.
“Toda esta situação nos deixa simplesmente revoltados. O que estamos pedindo é um direito dele. O poder público tem que fazer algo e a população que precisa não quer saber se está faltando dinheiro. Isso não é desculpa”, completou o pai de Lucas, Luis Cândido da Silva.