O ditado que diz que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose foi confirmado mais uma vez, com um caso no mínimo estranho. Nos Estados Unidos, uma mulher de 42 anos quase perdeu uma perna pelo consumo excessivo de uma fruta — no caso específico, toranjas (grapefruits), um parente próximo da laranja. A história mais parece um episódio da série de TV "House", mas realmente aconteceu.
Tudo aconteceu em novembro do ano passado. A mulher, não identificada, deu entrada no pronto-socorro do Providence St. Peter Hospital, em Olympia, estado de Washington, com dificuldade para andar e respirar, somada a dores lombares.
Ela tinha acabado de passar por uma viagem de carro de uma hora e meia. Era ligeiramente obesa, segundo os médicos que a examinaram, e falava de uma dor que começava em sua nádega esquerda e descia pela perna. Algumas horas mais tarde, a região começou a ficar roxa.
Um exame revelou que ela tinha um quadro de trombose — o surgimento de um grande coágulo que interrompia o fluxo de sangue — avançando rapidamente numa veia da perna. O problema corria o sério risco de levar a uma gangrena, o que fatalmente teria obrigado cirurgiões a fazer a amputação do membro.
Lucinda Grande e Raul Mendez, os médicos que acompanhavam a paciente, colocaram um cateter para desobstruir a veia e iniciaram medicação — além de recomendar que ela interrompesse seu anticoncepcional, pois estrógeno aumenta levemente o risco de coágulos.
Um teste genético mostrou que ela tinha uma mutação que também aumentava o risco de coágulos. Mas a descoberta mais surpreendente veio do histórico da paciente. Ela havia iniciado, três dias atrás, uma dieta agressiva, que previa o consumo de 225 gramas diárias de toranja no café-da-manhã.
A toranja possui uma substância que encoraja a produção, no organismo, de etinil-estradiol, que por sua vez também encoraja a formação de coágulos. Para Grande e Mendez, essa pode ter sido a gota d’água.
"Nossa paciente tinha uma constelação de potenciais fatores de risco para trombose venosa", afirmam os médicos, em seu relatório de caso, publicado na prestigiosa revista médica "The Lancet". "O estado hipercoagulador ampliado, por conta do aumento da concentração de etinil-estradiol por conta de seus três dias de toranjas para café-da-manhã pode muito bem ter perturbado o equilíbrio."
Após o tratamento, a mulher teve uma recuperação total. Mas, depois disso, é certo que ela vai ficar bem longe das toranjas.