Igreja instrui jovens sobre adoração

DivulgaçãoMédico-missionário Joed Venturini veio a Maceió como mensageiro do congresso da juventude da Igreja Batista do Farol

Médico-missionário Joed Venturini veio a Maceió como mensageiro do congresso da juventude da Igreja Batista do Farol

É possível a um adolescente ou jovem, nestes tempos de modernidade, consagrar sua vida à adoração de um modo que agrade a Deus? Para o pastor e médico-missionário Joed Venturini, sim! O primeiro passo que ele recomenda é a juventude compreender a necessidade do tempo com Deus, da disciplina espiritual de que precisa para poder se aproximar do Senhor e entender o propósito que Ele tem para sua vida.

Essa foi a ênfase das mensagens que ele ministrou como orador do XII Conjubaf, um congresso que teve como tema “Mais que palavras” realizado de quinta-feira a domingo da última semana pela juventude da Igreja Batista do Farol, com celebrações, oficinas sobre diversos assuntos durante todo o dia de sábado e a participação do Grupo Emme, da Palavra da Vida, e da Banda VPC Nordeste (Vencedores Por Cristo).

O segundo passo que o jovem ou adolescente precisa dá, no entendimento do pastor Joed, vem de um olhar compassivo, do culto ou de uma participação religiosa que resulte em algo prático, onde sua força espiritual é restaurada, a comunhão com os irmãos é aperfeiçoada e ele sai com uma missão no coração. “Mais que palavras exige um trabalho interno que só acontece se a sua comunhão com Deus estiver no nível em que ela precisa estar”, exorta o pastor.

Médico-missionário com mestrado em Missiologia e pós-graduação em Medicina Tropical, pastor Joed e sua esposa Ida Helena Venturini de Souza, professora e técnica em enfermagem, trabalharam como missionários biocupacionais da Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira durante 12 anos em Guiné-Bissau. O casal tem dois filhos: Gabriel, 15 anos, e Rebeca, 10 anos.

Na segunda-feira, 8, antes de seguir viagem com destino a São Paulo, cidade em que nasceu e de onde saíra com seus pais – missionários da Aliança Pró-Evangelização das Crianças – para morar em Portugal, quando tinha 8 anos, o pastor Joed Venturine falou ao Alagoas 24 Horas sobre o compromisso de viver mais que palavras; a ausência de Deus na vida de pessoas naqueles momentos difíceis em que elas buscam o auxílio dos céus; sua experiência missionária numa região habitada 100% por muçulmanos, em Guiné-Bissau, onde fundou uma escola, uma emissora de rádio e deixou uma igreja com 100 membros; e, ainda, sobre sua volta a Portugal para exercer a profissão de médico, ministrar na plantação de igrejas em áreas de classe média alta de Lisboa e continuar ajudando aos africanos.

– Suas mensagens durante o Conjubaf exortavam à juventude para sair do discurso, agir, mostrar compaixão; uma delas tomando como exemplo a história do Bom Samaritano. Como as virtudes desse personagem bíblico podem ser aplicadas à geração de hoje?

– O Bom Samaritano é uma das histórias extraordinárias contadas por Jesus. Ela foi chocante no seu tempo! Certamente escandalizou a maior parte das pessoas que estavam ouvindo, porque os samaritanos eram personagens de uma etnia desvalorizada, considerados indignos, sem valor. E Jesus pega esse indivíduo e o coloca como herói! Os episódios que marcam a história resumem-se em dois pontos básicos. O primeiro é compaixão. O texto é muito claro quando diz que o samaritano não perdeu a capacidade de olhar e sentir o sofrimento alheio. Em nossos dias, as pessoas se acostumaram tanto com o sofrimento que você está tomando seu café da manhã, almoçando ou jantando vendo, simultaneamente, imagens horríveis na televisão sem que isto provoque mal-estar em você, que continua comendo sem problemas. E logo depois você sai às ruas e encontra crianças pedindo esmola em uma esquina ou alguém necessitado e observa aquilo com a maior naturalidade. Sua compaixão foi embora! O texto bíblico também mostra que o samaritano priorizava as pessoas. Ele certamente era um homem de negócios, tinha muitas outras coisas a fazer, horário e trabalho a cumprir; estava passando por ali ocasionalmente. Era um homem que tinha recursos, porque levava óleo e vinho – produtos caros para serem transportados pelos viajantes daquela época – e dinheiro para pagar antecipadamente a hospedagem. Mas isso não tirou dele o foco prioritário em pessoas. Movido pela compaixão, ele pára suas atividades e vai socorrer alguém necessitado. Entendemos que no mundo moderno essa compaixão não existe. Mas na igreja é diferente! Não só a juventude mas todo o cristão deve proceder da mesma forma que o samaritano.

– O que mais pode ser extraído da história desse personagem como exemplo à juventude nestes dias de modernidade?

– Outro enfoque muito interessante que marca a história do Bom Samaritano é o serviço prático, de forma completa. Ele não viu uma pessoa com necessidades e simplesmente fez uma oração por ela. Ele fez o que precisava: parou e atendeu ao indivíduo, tratou suas feridas e o transportou até um lugar seguro. Esse serviço completo é pedido por Jesus a cada um de nós: “Vai tu e faz o mesmo!” O Senhor manda que desenvolvamos um olhar compassivo, aprendamos a colocar as pessoas na frente de regras, de leis, de agenda, de dinheiro e de todas as outras coisas, exercitando ajuda de forma prática e completa. Não basta ficar apenas na palavra de fique em paz, vou orar por você!

– Essa exortação aplica-se também aos adolescentes e jovens não-evangélicos ou apenas à juventude da Igreja?

– O tema do congresso, “Mais que palavras”, foi muito bom! Eu creio que seja um tema que deva ser utilizado por qualquer igreja. Ele faz sentido, também, fora da igreja. Nós encontramos no meio não-religioso muita gente clamando por mais que palavras. Vamos parar com os discursos e fazer o que é necessário!

– Como o senhor resume o contexto de suas mensagens durante o Conjubaf?

– Eu tive quatro oportunidades de ministração. Começamos mostrando aos jovens que em primeiro lugar “Mais que palavras” exige um trabalho interno que só acontece se a sua comunhão com Deus estiver no nível em que ela precisa estar. Isso não vai ser nenhum esforço humano, porque qualquer tentativa nessa direção, geralmente tende ao fracasso. Jesus foi muito claro, não deixou nenhuma dúvida quando afirmou: “Sem mim, nada podeis fazer”. Então, a nossa primeira ênfase foi para que os jovens compreendessem a necessidade do tempo com Deus, da disciplina espiritual para poder se aproximar do Senhor e entender o propósito que Ele tem para sua vida. Progredimos no sentido de falar da necessidade do olhar compassivo, do culto ou de uma participação religiosa que resulta em algo prático. É aqui que entra a história do Bom Samaritano contrastando a figura do sacerdote que vem do santuário, vem do templo, de um serviço religioso que não mexe com o seu coração; ele não teve compaixão nenhuma por aquele homem que precisava de ajuda. Procuramos chamar a atenção do jovem para o fato de que o culto não é um show, onde você vai assistir ao seu cantor favorito; você assiste, é muito bacana, legal, divertido, muita adrenalina, mas acabou, fica ali mesmo, você vai pra casa e sua vida continua a mesma. Foi só um show! No culto é diferente! Lá você não é um espetáculo, não é um auditório; você é a igreja de Jesus, onde sua força espiritual é restaurada, a comunhão com os irmãos aperfeiçoada e você sai com uma missão no coração.

– O senhor também exortou a juventude a tomar iniciativas, sair do barco. Que barco seria este?

– Sim! Nós continuamos falando aos jovens no domingo de manhã sobre a necessidade de viver mais que palavras em primeiro lugar na comunidade cristã, porque se você não consegue fazer isso com aquele que partilha de sua fé, é praticamente impossível fazer com os que estão do lado de fora da igreja. Então enfatizamos a necessidade do amor cristão começar a se manifestar dentro da igreja, pela unidade, pela tolerância, pela paciência, pela disponibilidade de ajuda. E terminamos no domingo à noite com um toque muito forte da necessidade de tomarmos a iniciativa, não ficarmos esperando eternamente. O texto final foi aquele em que Pedro anda sobre as águas. É um texto que, normalmente, nós gostamos de usar para criticar Pedro, porque a certa altura ele olha o vento e afunda. Mas ele não é de forma alguma o fracassado dessa história. Fracassado são os onze discípulos que ficam escondidinhos no barco. Pedro faz algo extraordinário nesse episódio: anda sobre as águas, que é uma coisa sobrenatural! Ele não podia fazer por si só, com sua força, mas o fez confiando e obedecendo ao mandar de Jesus. “Se és Tu, manda-me que vá ter contigo sobre as águas!” E Jesus responde: “Vem?” E ele sai do barco e anda. A nossa palavra final à juventude foi esta: saia do barco! Não fique eternamente ouvindo, esperando! Tome a iniciativa, identifique a voz de Deus e o Seu chamado para sua vida e dê o primeiro passo, porque o Senhor o acompanhará.

– E naquele momento em que Deus parece distante de nós, o que a juventude deve fazer?

– A questão de pensarmos em Deus como um Pai bondoso, cheio de poder, que nos abandona naqueles momentos em que mais precisamos de Seu auxílio, quando estamos sofrendo, passando por dificuldades e tribulações, talvez seja o maior de todos os dilemas da vida cristã e um dos grandes empecilhos para a fé de muita gente. Entendo que é preciso, em primeiro lugar, trabalhar as questões do ponto-de-vista fundamental, lembrando que o sentimento muitas vezes é enganoso. É como um autor já falou: “Quando você percebe que Deus se distanciou ou que há uma distância aumentada entre você e Ele, adivinha quem foi que se mexeu? Quem realmente se afastou? Será que foi realmente Deus ou vice-versa?” Esta é uma pergunta que nós precisamos fazer; ela não vai simplificar, porque quem está em sofrimento vai responder para você: “Não fui eu! Foi Deus quem fechou os olhos para mim, fechou a cara e se afastou! O céu ficou escuro para mim!” A gente percebe isso! Mas uma coisa extraordinária que precisamos fazer nesse momento é exercer a nossa capacidade de perseverar um pouco mais, crê – porque aí é uma questão de fé – e esperar no Senhor. Agindo assim, iremos compreender um pouco depois que o Senhor não estava longe. Ele sempre está muito perto, só que, por causa do que nós estamos vivendo, em determinados momentos, não podemos perceber.

– Qual a referência bíblica que nos leva a essa certeza?

– O relato dos dois discípulos a caminho da Aldeia de Emaús. Eles estavam andando com Jesus, mas com um sentimento de fracasso tão profundo que se achavam abandonados pelo Messias. A expectativa deles era que Jesus fosse uma coisa que as profecias não prometiam. É daí que vêm as frustrações. Precisamos ter cuidado com as coisas erradas. Existem, hoje em dia, pregações que dão ênfase à prosperidade, prometendo coisas que não são necessariamente àquelas que Deus prometeu aos homens do passado. Para se obter prosperidade material é necessário que sejamos revestidos da prosperidade espiritual. Do contrário, cria-se uma excessiva expectativa nas pessoas e depois as levam à frustração, quando não conseguem aquilo que estão a esperar e começam a culpar Deus por coisas de que Ele não pode ser culpado. Os discípulos estavam tão dominados pelo pesar que não enxergavam Jesus andando com eles; estavam fechados ao testemunho, porque as mulheres vieram e disseram: “Ele ressuscitou”, mas eles não acreditaram. Só quando lá na frente Jesus praticamente os repreendem e explica as Escrituras para eles, é que começam a perceber. Para mim, o toque mais bonito registrado no texto é quando Jesus se dá a conhecer ao partir o pão. Sem fazer milagres, sem que houvesse trovões ou efeito especial vindo do céu, Jesus parte o pão – uma prática 100% familiar de comunhão na mesa que os discípulos conheciam muito bem – e eles finalmente identificam a presença do Mestre. Que tocante este texto…

– O senhor já viveu alguma experiência semelhante a dos discípulos, sentindo-se abandonado por Deus?

– Sim, no falecimento de minha mãe! Ela ainda era nova, tinha 60 anos, lutou durante dois anos contra um câncer; uma mulher de Deus, piedosa, de amor cristão extraordinário, de serviço ao Senhor! Foi muito difícil para mim lidar com o sofrimento que ela passou. Eu questionei muito por que uma pessoa tão boa, que serviu, amou e se deu tanto pelos outros precisava passar por todo aquele sofrimento? E nesse momento eu senti, tive a percepção da distância de Deus, do céu que não respondia! Mas com o tempo e perseverando na fé, em que a Palavra é verdadeira e que Deus realmente nos ama e quer o melhor para nós, pude perceber, após o falecimento, um tempo de meditação e de comunhão, o quanto Deus estava presente em pequenas coisas durante a enfermidade da minha mãe.

– De que forma ocorreram essas pequenas coisas? Elas o convenceram 100% de que Deus estava lá, naquele momento?

– Na verdade foram pequenas coisas, mas que me convenceram plenamente de que Deus não despreza seus filhos. Uma médica que tratou da minha mãe foi extremamente humana, chegou a chorar comigo, um caso raro, porque sou médico e sei muito bem; enfermeiros humanos, que derem o melhor de si, cuidando dela com toda gentileza. Eu conheço a vida hospitalar e sei que, infelizmente, existem enfermeiros que têm atitudes desagradáveis na hora em que o doente está em coma e não pode reagir, e eu via aqueles enfermeiros com um carinho, um cuidado tão grande pra com minha mãe; enfim, foram coisas pequenas, não tão significantes assim, mas que as entendi como sendo a presença de Deus depois de algum tempo, de permitir que o Espírito Santo falasse, dizendo-me suavemente: “filho, eu não estava longe! Apesar daquilo que você pensa, Eu estava junto, acompanhei, estava ao lado de sua mãe, embora naquele momento, por causa do sofrimento, você não conseguisse perceber”. Eu reconheço que na nossa experiência humana nunca vamos vencer isso 100%. No momento de dor e de solidão vamos continuar sentindo que Deus está distante. A mensagem de esperança que nós passamos é esta: persevere, agüente um pouco mais, creia naquilo que a palavra diz e você então compreenderá que Deus não está distante, apesar daquilo que você percebe. Ele está perto, talvez de uma forma diferente da que você gostaria naquele momento!

– O senhor e sua esposa trabalharam como missionários biocupacionais da Junta de Missões Mundiais na África. Fale um pouco dessa experiência?

– O nosso tempo em Guiné-Bissau, na Costa Ocidental da África, durou 12 anos. Foi o grande sonho da nossa vida; uma convicção clara do chamado de Deus para o ministério com as nossas aptidões profissionais, eu como médico e minha esposa como professora e enfermeira. Foi um grande desafio! Fomos plantar um trabalho evangélico em um país com população formada por 50% de muçulmanos e 50% animistas, ou seja, aqueles que seguem religiões tradicionais africanas. Na região em que estávamos os habitantes eram 100% muçulmanos. O nosso trabalho foi pautado, essencialmente, pelo serviço social, não como um engodo para a pessoa se converter, mas como uma manifestação prática do amor cristão. É muito fácil dizer Deus ama você! Mas não é só isto! É necessário fazer algo prático para que as pessoas entendam esse amor – porque o amor se manifesta de forma prática – e não dar qualquer coisa, mas o melhor de si. Foi isto que aconteceu com a minha esposa e comigo, na África. Demos as nossas vidas, os nossos anos de juventude, trabalhando ali em condições precárias, atendendo a milhares de doentes, mas com um grande retorno, grande bênção de Deus. Guiné-Bissau, apesar de sua beleza natural, está entre as nações menos desenvolvidas do mundo e entre os 20 países mais pobres. Cerca de 60% de sua população é analfabeta e 40% das crianças ainda não têm acesso ao ensino.

– Desenvolveram alguma outra ação no campo social para ajudar aos africanos?

– Sim! Foi possível começar uma escola do zero e deixá-la sob a direção de professores e líderes nacionais, hoje com mais de 800 alunos, funcionando desde o jardim de infância ao 2º grau; uma escola que está literalmente mudando a região, que é muito pobre e pequena, e que uma unidade de ensino com tantos alunos faz realmente uma grande diferença. Foi possível também deixar uma emissora de rádio – a única evangélica do país – funcionando cinco horas por dia numa região onde é preciso usar gerador, a um custo muito alto com óleo diesel, por não existir energia elétrica. Deixamos também uma igreja com mais de 100 membros, líderes e pastores nacionais. Num lugar onde não tinha nada, só muçulmanos, isso é quase um milagre. É, sem dúvida, a prova da bênção de Deus.

– Pretende retornar à África ou vai permanecer no Brasil?

– Hoje nos encaminhamos para uma nova fase; vamos atuar, profissionalmente, em Portugal, onde sou formado em medicina e posso trabalhar com mais liberdade, digamos assim, com vistas ao ministério em Portugal. Eu devo ministrar na plantação de igrejas, em bairros de classe média alta, em Lisboa. Certamente será um trabalho muito difícil porque normalmente as pessoas dessa classe pensam que não precisam de Deus, porque já tem de tudo, materialmente falando. No entanto, nós verificamos que são pessoas cujo vazio espiritual é muito grande. É um novo desafio que temos pela frente. Simultaneamente, vamos dá apoio ao trabalho que deixamos em Guiné-Bissau, por meio de ajuda humanitária, de viagens com equipes médicas e de outras formas para poder continuar auxiliando àquele povo que está em nosso coração e não pode sair. É como se fora um filho que nós deixamos lá!

* Especial para o Alagoas24horas

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