Para a seleção brasileira, a final da Liga Mundial de 2005 é inesquecível. Uma vitória de virada sobre a Sérvia, que jogava em casa. A decisão foi reeditada neste domingo. Com o mesmo local, na Beogradska Arena, e resultado: 3 sets a 2, com parciais de 22/25, 25/23, 25/22, 23/25 e 15/12. No entanto, o fato memorável desta vez ficou por conta da conquista do oitavo título na competição. A renovada equipe de Bernardinho não se deixou abater com os bizarros erros da arbitragem e chegou de forma brilhante ao primeiro triunfo.
Com o octacampeonato, o Brasil se igualou à Itália em número de títulos. Na disputa pela medalha de bronze, a Rússia levou a melhor sobre Cuba. No jogo que antecedeu à final, os russos aplicaram 3 sets a 0, com parciais de 25/13, 26/24 e 25/16, e garantiram um lugar no pódio.
Apenas três jogadores do triunfo de cinco anos atrás estavam presentes no ginásio em Belgrado. Giba, Rodrigão e Serginho são os remanescentes da geração passada, detentora de seis títulos do Brasil na Liga. Para os outros 11 atletas comandados por Bernardinho, a situação era inédita e a responsabilidade, muito grande. Por isso, o nervosismo entrou em quadra junto com a seleção brasileira.
O saque, fundamento que estava sendo usado como principal arma, não funcionou no primeiro set. Por outro lado, os sérvios não perdoaram nos bombardeios. O placar logo ficou em vantagem para a Sérvia, e Miljkovic passou a ser o homem a ser parado pelo Brasil. Virando todas as bolas, ele foi ampliando o marcador. Tudo dava certo para o jogador. Até quando o levantamento era ruim, ele pontuava. O bloqueio brasileiro não achou o tempo do ponteiro, e Giba, que tentava recuperar os pontos para a seleção, estava bem marcado. Vissotto foi a opção usada por Bruninho. Porém, a defesa sérvia, que não costuma ser eficiente, deu um show e ajudou a marcar 25/22.
O segundo set foi jogado na base do tudo-ou-nada pelo Brasil. Se a Sérvia fechasse a parcial, ficaria muita próxima de conquistar o título, fazer a festa dos torcedores e acabar com os sonhos da renovada seleção brasileira. Mas aos poucos, a seleção brasileira foi se acertando e deixando a tensão de lado. Giba ainda não conseguia pontuar, mas a jogada com Lucão passou a funcionar. Miljkovic deu trabalho no ataque, mas Murilo respondeu na mesma moeda, e as seleções passaram a se alternar no placar. Com 20 apontando no placar a favor do Brasil, Bernardinho colocou Rodrigão para sacar.
O central não jogou a semifinal por ter sofrido uma contusão no ombro esquerdo na partida contra a Argentina. Mas foi à quadra quando solicitado e soltou um saque flutuante, que desestabilizou a recepção sérvia. Um belo rali, com direito a três contra-ataques e uma defesa de pé de Grbic, deixou o Brasil a um ponto de fechar o set. Na cravada de Lucão, que resvalou no bloqueio sérvio, a seleção brasileira marcou 25/23.
A derrota no set anterior pareceu ter descontrolado a Sérvia, que viu o Brasil abrir 3/0 com dois bloqueios de Vissotto e um saque forçado de Murilo. Vissotto, inclusive, foi o grande destaque brasileiro do terceiro período. Virou todas as bolas e ainda foi um gigante na rede. Foi ele o responsável por achar o tempo no bloqueio de Miljkovic, que chegou a ser substituído por não pontuar mais em quadra. Logo, a seleção colocou oito pontos de vantagem (16/08), obrigando o técnico sérvio a fazer várias alterações. Estas surtiram efeito, e a diferença caiu para quatro pontos. Sentindo que a Sérvia estava em um bom momento, Bernardinho pediu tempo para orientar os jogadores, que assimilaram o que foi pedido e voltaram determinados. Bruninho fez uma sequência de saques que deixou o Brasil com 20/14. A ansiedade fez a equipe desperdiçar duas chances de fechar o set, mas o capitão Giba pediu a bola e finalizou em 25/22.
O equilíbrio marcou o quarto set. Brasil e Sérvia se alternaram no placar, com o bloqueio sendo o principal fundamento das equipes. No 12º ponto, Bernadinho se irritou com a arbitragem e ameaçou abandonar a quadra. Ele já havia reclamado de outras marcações, mas um saque dentro de Lucão, que foi dito como fora pelo juiz de linha, foi o estopim para a reação do técnico. Comandante da equipe dentro de quadra, Giba também ficou nervoso. Mas deixou de lado os árbitros, pediu calma ao seu treinador, e como resposta aos erros, fez dois aces seguidos: 14/13. A parcial continuou igual para as seleções. Com 19/19, Rodrigão entrou em quadra para sacar, mas o bloqueio brasileiro não parou o ataque rival. Um bloqueio de Murilo e Sidão em Miljkovic descontrolou o jogo.
Eles devolveram o ataque, que bateu na cabeça do sérvio e foi para fora. O juiz deu ponto para a Sérvia, o que levou os brasileiros à loucura. Bernardinho reclamou, pois a TV local mostrava claramente o erro da arbitragem. Os diretores chamaram o juiz de rede, que deu o ponto para o Brasil. Os sérvios, se sentindo injustiçados, retrucaram a decisão, e a partida ficou parada por cinco minutos. Com a bola em jogo, a seleção já não tinha mais a mesma concentração e cedeu o empate: 25/23.
No set decisivo, o Brasil mostrou porque não poderia ficar atrás em número de títulos na Liga Mundial. Ainda irritados com a arbitragem no início do tie-break, a seleção entrou em quadra desconcentrada e viu a Sérvia sair na frente, colocando dois pontos de vantagem no placar. Porém, um bloqueio de Murilo mudou a história para o Brasil. Fez 8/6 e deu ânimo aos companheiros, que defenderam e atacaram muito. Após um bloqueio, Lucão defendeu com o pé e deu o 11º ponto, deixando a equipe á frente do marcador. Orientados por Murilo e Giba, o time manteve a calma e fechou em 15/12, conquistando o octampeonato e o primeiro título da nova geração.